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O reencontro com o tesouro perdido

Um sentimento que eu não sei como explicar arregaçou-me as lágrimas às muralhas dos meus olhos (deixem passar a minha poética) quando vi ali, à minha frente, o acervo de peças de teatro que eu vezes sem conta já alertara da sua existência durante anos aos responsáveis que passaram no Baltazar Dias. E ali estavam, os livros, enfim encontrados, quiçá por um acaso do destino, e dignificados, ali em prateleiras para os curiosos dos textos de teatro poderem agora usufruir.
25 Dezembro 2017, 07h15

Mesmo no Natal menos feliz das nossas vidas surge sempre algo que nos enche a alma e faz-nos acreditar em dias melhores que virão cedo ou tarde. Isto vem a propósito do reencontro com o que eu julgava perdido pelos imensos corredores das políticas, que tropeçaram umas por cima das outras no decorrer de várias décadas, onde as boas ideias foram sendo contrariadas pelas seguintes.

Foi a 20 de dezembro, quando a ATEF promoveu o lançamento de um sonho materializado num CD, onde 30 anos de canções de teatro para a infância foram evocados numa exposição-roteiro, que esteve patente na Infoart, com residência na secretaria de Turismo e Cultura (a galeria mais escondida do mundo), que eu me quedei em pensamentos.

Decorria o ano de 1987 que marca esse início histórico com Teatroscópio, espetáculo de teatro, na promessa de conquistar o púbico infantil contra todas as burrices do Burrão da Trunsperência. O Burrão, personagem que personificava o mau da fita no palco, reflexo duma personagem da vida real, onde ele; o vilão da história, despojava o edifício-teatro do seu espólio armazenado durante anos, para dar a esse local nobre um epíteto somente cinéfilo, abastardando de forma avassaladora uma parte da cultura na sua essência.

Durante a manhã tinha estado na biblioteca do nosso município em busca da edição das obras dramatúrgicas de João França. Em conversa com o responsável, anunciou-se-me a surpresa-resgate de trinta e nove anos dum aprisionamento de caixas que andaram no escuro por salas e armários jogados ao abandono. De repente em minha mente, surjo eu empoleirado num escadote da Livraria Esperança e, Roberto Merino indicando-me livros com o fim de comprarmos para colocar nas prateleiras da biblioteca do Teatro Municipal; textos de teatro, entre outros das artes de palco, com o objetivo de fazer nascer um espaço onde os artistas pudessem adquirir conhecimentos, isto em 1978.

Um sentimento que eu não sei como explicar arregaçou-me as lágrimas às muralhas dos meus olhos (deixem passar a minha poética) quando vi ali, à minha frente, o acervo de peças de teatro que eu vezes sem conta já alertara da sua existência durante anos aos responsáveis que passaram no Baltazar Dias. E ali estavam, os livros, enfim encontrados, quiçá por um acaso do destino, e dignificados, ali em prateleiras para os curiosos dos textos de teatro poderem agora usufruir.

Uma boa prenda de natal, que tornou a minha alma feliz! E viva o Teatro!

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