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OE2023: Centeno acredita que défice não supere 0,4% este ano

O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, acredita que o défice orçamental deste ano não irá ser superior a 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB), fixando-se assim abaixo da meta do Governo de 0,9%, após os resultados de 2022.
  • Cristina Bernardo
29 Março 2023, 21h42

Em entrevista à agência Lusa, Mário Centeno salientou hoje que a economia portuguesa tem surpreendido, particularmente no ano passado, quer na dimensão nominal, quer na real.

“Não vejo nenhuma razão para que haja uma deterioração do saldo orçamental”, afirmou, quando questionado sobre se o ponto de partida de um défice de 0,4% do PIB em 2022, apesar do impacto de 1.400 milhões de euros na despesa dos apoios para mitigar os custos da energia para as empresas passar para este ano, irá permitir um défice abaixo dos 0,9% previstos para 2023.

O Governo entrega até ao dia 15 de abril o Programa de Estabilidade 2023-2027, no qual poderá atualizar as previsões macroeconómicas.

Mário Centeno destacou que houve uma recuperação muito significativa da atividade em Portugal em termos reais no ano passado, salientando que as previsões apontam para este ano para um crescimento real de 1,8%, caso se mantenham as expectativas em termos de pressões internacionais, como a guerra, a inflação e a estabilidade é mantida.

“Temos uma economia que está a crescer e que tem um nível de atividade acima do seu nível potencial”, disse.

O responsável do Banco de Portugal (BdP) assinalou “que o emprego está em níveis historicamente elevados”, “a taxa de desemprego que está significativamente abaixo do nível natural de desemprego em lugares que se define historicamente, do ponto de vista estatístico” e os “salários estão a crescer”.

“Todos os números que temos da Segurança Social mostram crescimentos muito significativos dos salários declarados à Segurança Social”, frisou.

O Banco de Portugal (BdP) melhorou, na semana passada, a previsão de crescimento da economia portuguesa deste ano para 1,8%, crescendo 2% em 2024 e em 2025.

Turbulência global torna consolidação na banca em Portugal mais relevante

O governador do Banco de Portugal afirmou que a recente turbulência no sistema financeiro global torna mais relevante a possibilidade de consolidação na banca portuguesa, um setor que oferece “boas razões” para atrair intervenientes internacionais.

Mário Centeno recordou que quando em novembro de 2022 sinalizou ser natural um movimento de fusões e aquisições na banca em Portugal, não se estava “perante esta turbulência que se instalou” – ainda que tenda “a esbater-se nos mercados” – situação que considera só dar ainda dar mais relevo à possibilidade.

Adiantou que “em contraste ao que aconteceu há uns anos, hoje temos instituições bancárias que se podem envolver nestes processos pelas boas razões, porque elas estão estáveis, estão capitalizadas, têm planos de negócio que têm resultados positivos durante um período muito desafiante para a banca, porque os períodos de taxas baixas, negativas mesmo, são processos muito desafiantes para o modelo de negócio normal da banca de retalho”.

Questionado sobre se essas características tornaram os bancos portugueses mais atrativos para eventuais compradores internacionais, Centeno frisou: “Sim, por boas razões, e é fácil de entender que há atratividade numa aquisição”, com a ressalva de que esta “depende sempre do preço”.

O governador do Banco de Portugal (BdP) reiterou que as tensões no setor financeiro global nas últimas semanas com a falência do Silicon Valley Bank nos Estados Unidos e a compra pelo banco suíço UBS do rival Credit Suisse por um valor baixo, com garantias substanciais do Governo e perdas para alguns obrigacionistas, não contagiou os bancos da zona euro, parcialmente porque estes beneficiaram de várias melhorias na regulação desde a última crise financeira.

“Os bancos na área do Euro, por via daquilo que é a atitude do supervisor, do regulador, da dimensão europeia que foi dada a estas realidades na Europa, que não existia em 2008, com a criação da União Bancária e do Mecanismo Único de Supervisão dentro da União Bancária, a realidade hoje é completamente diversa”, explicou, sublinhando que a banca europeia passou por uma forte reestruturação.

“Temos dois exemplos destes em Portugal, que se concluíram há pouco tempo, a reestruturação, quer da Caixa de Geral de Depósitos, quer do Novo Banco, acompanhadas pela Comissão Europeia, em que houve ‘luz verde’ à saída deste período de reestruturação”, vincou.

Em relação a uma eventual venda do Novo Banco pela Lone Star, Centeno disse que não comenta instituições específicas no contexto de consolidação no setor.

“Não estou a falar de instituições, eu falei de duas instituições que se reestruturaram com sucesso, elas estão capazes de operar no mercado, de olhar para a sua própria evolução e ser um agente ativo dessa evolução”, referiu, no entanto.

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