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Passos Coelho: Montenegro tenta afastar-se da sua “herança e legado”

Depois de acusações a Luís Montenegro, em que acusa o atual primeiro-ministro de se querer afastar da herança da troika, Passos Coelho olhou para Paulo Portas, revelando que as instituições que emprestaram dinheiro a Portugal não confiavam no então ministro dos Negócios Estrangeiros.
15 Abril 2024, 13h35

O antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho continua a abanar o mundo da política. Desta vez, e em entrevista ao podcast “Eu Estive Lá” da Rádio Observador, Passos Coelho acusa o atual primeiro-ministro de se estar a afastar da governação social-democrata, nomeadamente a sua, e que hoje só ocupa o lugar de chefe de Governo por ter sido seu líder parlamentar.

“Ele realmente foi um grande líder parlamentar. E foi aí que nasceu a possibilidade de ele criar condições para fazer o caminho para poder vir a ser líder do PSD. Portanto, ele faz parte dessa herança e desse legado. Em que medida é que ele se quer desconectar mais desse seu próprio passado? Não sei. A mim parece-me que foi muito evidente nos últimos tempos que houve essa preocupação de tentar desligar”, acusa o antigo primeiro-ministro.

Apesar das acusações, Passos Coelho diz perceber a vontade de “desligar”. “Até certo ponto percebo, porque é importante que os partidos possam ter uma perspetiva para o futuro e não ficaram sempre só ligados ao seu passado”.

No entanto, na mesma entrevista, recusa as acusações de querer “criar constrangimentos” ao presidente do PSD e primeiro-ministro com as suas recentes intervenções públicas. Mas deixou o aviso de que tem liberdade: “Agora, também não posso ser impedido de, de quando em vez, poder dizer alguma coisa do que penso. E eu penso pela minha cabeça, evidentemente”.

Portas não escapa

Depois de visar Montenegro, Passos Coelho atirou a Paulo Portas, seu colega de Governo e antigo líder do CDS-PP.

Na entrevista ao podcast, Passos Coelho diz que o FMI, o BCE e a Comissão Europeia não confiavam em Paulo Portas, então vice-primeiro-ministro, referindo-se aos tempos da troika.

“A troika, a partir de certa altura, percebeu que havia um problema com o CDS. E passou a exigir cartas assinados por Paulo Portas. Eu julgo que ele [Portas] não sabe isto: para impedir uma humilhação do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, eu obriguei o ministro das Finanças [Vítor Gaspar] a assinar comigo e com ele a carta para as instituições. Assinámos os três. A troika exigia uma carta só dele. Porque não confiava nele”, garante Passos Coelho na mesma entrevista.

À jornalista Maria João Avillez, Passos refere que Paulo Portas terá sido um obstáculo durante a sétima avaliação das instituições que concederam o empréstimo a Portugal. Só a intervenção do então Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, terá impedido “o desperdício de todos os sacrifícios dos portugueses”.

“Não conseguia que Paulo Portas aceitasse nenhuma versão. Nenhuma, nenhuma. Convoquei até um Conselho [de Ministros] extraordinário para explicar ao Governo que íamos falhar a avaliação porque Paulo Portas não aceitava aquela avaliação. O que se passaria a partir daí era uma incógnita. A troika diria que, se não queríamos fazer nada, também não enviaria mais dinheiro. O que é que se seguiu? Não sei, para mim é um mistério. Paulo Portas mudou de opinião. Eu creio que foi o Presidente da República”, atirou.

Notando o envolvimento de Cavaco Silva no seu Governo, Passos Coelho atira que o Presidente da República ajudou nesta situação com o então ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros (que passou a vice-primeiro-ministro após a demissão em 2013), mas que noutras situações “desajudou”. Ainda assim, não deixa de elogiar o antigo Presidente: “Tive um relacionamento impecável com ele. E nos momentos difíceis tive o apoio dele. Isso foi importante para o país. Se tivesse falhado, o país teria falhado também”.

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