[weglot_switcher]

Passos Coelho e António Costa sabiam do negócio com a Airbus, garante David Neeleman

Em artigo de opinião publicado no jornal “Expresso” esta sexta-feira, David Neeleman explica o negócio referente à compra de 53 novos aviões da Airbus e o cancelamento de um contrato referente à aquisição de 12 aviões A350, transação em que a TAP terá sido lesada em 444 milhões de dólares. E deixa a garantia: Passos Coelho e António Costa estavam a par dessa negociação.
  • David Neelman
10 Março 2023, 15h32

“Empresa falida, completamente descapitalizada, sem tesouraria e em risco de não conseguir pagar salários”. É assim que o empresário norte-americano David Neeleman descreve a TAP quando assumiu a gestão da companhia aérea em 2015, depois de ter ganhado a concessão, ao lado de Humberto Pedrosa, através da Atlantic Gateway e no momento em que Pedro Passos Coelho liderava o Governo.

Nessa altura, o Governo efetivou a venda de 61% do capital da TAP à Atlantic Gateway com o contrato a ser assinado em junho de 2015 e a venda a ser formalizada em novembro do mesmo ano.

O empresário americano de origem brasileira lembra que quando foi contactado pelo Executivo, no início de 2015, “não conhecia Portugal” e que realizou uma análise à companhia aérea para concorrer à privatização após convite do Governo. “Rapidamente concluímos que se encontrava numa situação financeira de absoluta emergência”, escreve num artigo de opinião publicado no “Expresso” esta sexta-feira.

Neeleman lembra que o contexto era “ainda mais desafiante” no ano da privatização, uma vez que “pelas regras europeias, o Estado português estava impedido de colocar mais um euro na TAP. Os bancos portugueses já não aceitavam financiar mais a TAP e por motivos facilmente compreensíveis: o peso da dívida tinha-se tornado incomportável — cerca de 11x EBITDAR. A empresa estava sem acesso a meios de liquidez”. À falta de financiamento e rutura financeira, somava-se “uma das frotas mais envelhecidas da Europa”.

A frota da companhia aérea portuguesa tem sido um dos temas “quentes” da TAP nos últimos meses, sobretudo depois ter sido conhecida a informação de que a TAP terá sido lesada em 444 milhões de dólares com a seguinte negociação encetada por David Neeleman: compra de 53 novos aviões da Airbus e o cancelamento de um contrato referente à aquisição de 12 aviões A350.

Neste artigo escrito esta sexta-feira para o “Expresso”, David Neeleman foca-se especialmente nessa operação e realça que os termos da negociação com a Airbus eram do conhecimento “dos Governos”, ou seja, tanto Pedro Passos Coelho como António Costa foram informados destas negociações com a Airbus no valor de 226 milhões de dólares.

“O Projeto Estratégico proposto pelo consórcio Gateway, incluindo a parte da capitalização com os fundos Airbus e a renovação da frota, foi detalhadamente apresentado, explicado, discutido e aprovado por todos os intervenientes no processo de privatização, tanto na fase de negociações da venda, como mais tarde, aquando da reversão parcial da privatização levada a cabo pelo Governo socialista, que aceitou vincular-se ao nosso Plano Estratégico, enquanto acionista”, escreve o empresário.

Neeleman defende que foi a aquisição das aeronaves que “permitiriam – e permitiram – à TAP uma maior eficiência energética, expandir-se para novos mercados e ser competitiva”. Abordando o cancelamento da aquisição de 12 aviões Airbus A350, o empresário norte-americano esclarece que esta encomenda “não seria compatível com o projeto estratégico apresentado, por serem aviões maiores, menos eficientes e em pouca quantidade para as necessidades de uma nova TAP”.

“É completamente falso dizer que a encomenda dos 12 Airbus A350 tinha valor económico para a TAP e facilmente se percebe porquê: por um lado, a TAP não tinha condições financeiras para pagar essa compra, uma vez que estava totalmente descapitalizada: não tinha fundos para pagar salários, muito menos para honrar as prestações relativas à compra de novos aviões”, defende-se.

“Por outro lado, a TAP não podia ceder, transferir a terceiros ou monetizar essa posição contratual, pois, para isso, necessitaria do acordo da Airbus. Ora, a Airbus confirmou por escrito, numa carta que foi do conhecimento da Parpública e, consequentemente, dos Governos, a sua indisponibilidade para aceitar tal cedência e referiu que, em caso de default, situação provável face às graves dificuldades da companhia, faria cessar os contratos, apropriando-se do sinal pago pela TAP”, lê-se.

A defesa do empresário continua, com Neeleman a referir que é “absurdo dizer-se que as ações da TAP foram compradas com os fundos Airbus ou com cash flows futuros da TAP”. “Em 2015, a TAP valia zero euros ou, para ser mais claro, tinha um valor negativo, até menos 400 milhões de euros, como atestam algumas avaliações feitas à empresa, na preparação da privatização por auditores internacionais (Deloitte e PWC) a pedido do Governo”.

No mesmo artigo, David Neeleman lembra que “poucas semanas antes da pandemia, no início de 2020, um dos grandes players europeus da aviação apresentou-nos uma proposta para adquirir uma participação de 20% na TAP, na qual avaliava a empresa em quase mil milhões euros, após um outro exigente processo de due diligence“.

O norte-americano recorda também que, no acordo de privatização, finalizado em novembro de 2015, ficou acordado que “dois anos após a compra de 61% da TAP, a Atlantic Gateway adquiriria os restantes 39% já com preço acordado, pelo que passaríamos a deter 100% da TAP”. Assim, Neeleman questiona mesmo: “Alguém pensa que poderíamos querer prejudicar a TAP com custos inflacionados, quando iríamos detê-la na totalidade? Ou será que também fomos nós a sugerir ao Governo a reversão da privatização?”, conclui.

RELACIONADO
Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.