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Pico de mortes em dezembro e vacina em janeiro. O que foi dito na reunião do Infarmed

O prolongamento do estado de emergência, cuja intenção já foi confirmada pela Presidência da República, foi um dos temas discutidos, a par como o impacto das medidas de contenção tomadas. Da reunião saíram também vários alertas: o pico de infeções deverá ser atingido ainda este mês e nem todos os portugueses estão a cumprir as normas a 100%.
19 Novembro 2020, 18h15

Os especialistas, responsáveis políticos e parceiros sociais estiveram esta quinta-feira reunidos na sede do Infarmed, em Lisboa, para analisar (mais uma vez) a evolução da Covid-19 em Portugal. O prolongamento do estado de emergência, cuja intenção já foi confirmada pela Presidência da República, foi um dos temas discutidos, a par como o impacto das medidas de contenção tomadas. Da reunião saíram também vários alertas: o pico de infeções deverá ser atingido ainda este mês e a vacina só deve chegar em 2021.

A taxa de transmissibilidade da Covid-19 tem estado a descer, mas a tendência não está a ser acompanhada por uma redução do número de novos casos diários de infeção por Covid-19. O alerta foi dado pelo investigador Manuel do Carmo Gomes, da Faculdade de Ciências de Lisboa. Apesar de haver “uma tendência a nível nacional” de descida do Rt (índice de transmissibilidade), que estará atualmente em 1,11, Manuel do Carmo Gomes considera crucial que não se baixe a guarda porque “à primeira oportunidade, o Rt volta a subir”.

“Em termos globais, estamos a abrandar a epidemia e temos já algumas previsões de onde é que estará o pico, mas não podemos baixar a guarda, de maneira nenhuma”, disse Manuel do Carmo Gomes. Segundo o especialista, há 88 dias que os casos crescem de forma “sustentada”, verificando-se uma média diária de 6.488 novos casos (calculada com os números efetivos a sete dias), mas é preciso que o Rt desça “significativamente para um nível gerível em termos de entradas hospitalares”.

Os especialistas preveem que o pico das infeções por Covid-19 seja atingido “entre 25 e 30 de novembro” e deverá rondar os “7 mil casos”. Manuel do Carmo Gomes referiu que “é preciso chegar ao pico, manter as medidas, fazer descer o Rt significativamente”. O desejável seria “manter o R abaixo de 1 continuamente”. Ainda assim, a incidência de novos casos diários pode manter-se em milhares, entrando-se “num planalto do qual não é fácil sair” e que se continuará a refletir em mais casos internados e mais mortes.

O investigador da Faculdade de Ciências de Lisboa referiu ainda que o pico das mortes está previsto “por volta da segunda semana de dezembro” e “andará em torno dos 95 a 100 óbitos por dia”.

Região Norte com incidência quase sete vezes superior à de abril

Os números confirmam que há uma maior incidência de novos casos na região Norte, que é superior a 960 novas infeções nos últimos 14 dias por 100 mil habitantes. “Estamos neste momento com uma incidência que é quase sete vezes superior à registada em abril no momento mais alto da pandemia e recentemente a tendência foi de haver um certo abrandamento”, sublinhou Óscar Felgueiras, investigador da Faculdade de Ciência da Universidade do Porto.

À semelhança do que acontece no resto do país, as faixas etárias com maior incidência são as da população ativa dos 20 aos 49 anos, seguida dos idosos acima dos 80 anos, bem como dos 70 aos 79 anos. O investigador da Faculdade de Ciência da Universidade do Porto alertou que “a incidência é bastante elevada”, tendo em conta que, mesmo entre as pessoas mais idosos, estão a surgir cerca de 200 casos diários de pessoas com 80 ou mais anos. “A incidência atual é mais do dobro do que aquela que foi atingida no pico de abril”, disse.

A taxa de incidência a 14 dias aumentou na última semana 16% com tendência, no entanto, de abrandamento, sendo a variação de crescimento de menos 9%. Em termos de faixas etárias que estão a crescer estão as crianças, mais 32%, os adolescentes, mais 24%, e os idosos com mais de 80 anos (26%) e 70 a 79 anos, mais 21%.

Os números geram preocupação tendo em conta que o limite de 240 por 100 mil habitantes já é considerado de risco.

Muitos portugueses não cumpriram bem as regras 

No que diz respeito ao cumprimento das medidas restritivas, os dados revelam que nem todos os portugueses têm cumprido à risca as regras, incluindo o confinamento obrigatório a partir das 13h00 decretado para o fim de semana passado nos concelhos com “maior risco de infeção”. Segundo a investigadora Carla Nunes, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade de Lisboa, “cerca de 35% das pessoas que dizem que saíram de casa nas últimas duas semanas sem ser para ir trabalhar”.

Carla Nunes disse que, os questionários realizados à população nos últimos meses em Portugal revelam que apenas 50% dos portugueses consideram “adequadas” as medidas de contenção anunciadas pelo Governo. Os dados revelam também que “cerca de 70% das pessoas” estão “pouco confiantes ou nada confiantes sobre a resposta do Serviço Nacional de Saúde [SNS] a casos não Covid” e cerca de 40% dos portugueses tem mesmo evitado deslocar-se aos centros de saúde em situações não urgentes.

No que diz respeito à vacina, “a maioria dos portugueses está confiante” no seu desenvolvimento e eficácia, mas apenas “25% está disponível para a tomar de imediato assim que estiver pronta”. “A grande maioria admite que prefere esperar”, disse a investigadora da Escola Nacional de Saúde Pública.

Vacina? Só no início do próximo ano 

O presidente do Infarmed, Rui Ivo, referiu que as entregas das primeiras vacinações contra a Covid-19 devem acontecer no início do próximo ano “em tranches”. No primeiro trimestre, prevê-se que possam estar disponíveis mais de cinco milhões de doses. No segundo trimestre, deverão chegar mais oito milhões e outros dois milhões no último trimestre de 2021.

Rui Ivo adiantou que há contratos firmados para quatro vacinas, três das quais (BioNTech/Pfizer, AstraZeneca/Oxford e J&J/Janssen) estão num fase “mais avançada de desenvolvimento” e para uma outra vacina da marca Sanofi. A entrega das vacinas estará, no entanto, dependente das autorizações da agência europeia que tutela o setor. O processo poderá, no entanto, ter desenvolvimentos ainda este ano.

Segundo confinamento diferente do primeiro 

Segundo os especialistas, o impacto das medidas restritivas nesta segunda vaga foi significativamente diferente do impacto das medidas tomadas em março. “Durante a primeira onda, tivemos confinamento e redução de contactos na ordem dos 70 e tal por cento no retalho e lazer, de cerca de 60% nos locais de trabalho e um aumento da presença em casa na ordem dos 30%”, explicou Baltazar Nunes, coordenador da unidade de investigação epidemiológica do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.

Baltazar Nunes dá conta de que, nesta segunda fase da pandemia, as medidas restritivas têm levado a “reduções, no retalho e lazer, no máximo na ordem dos 30%”, sendo valores observados no distrito de Lisboa e no distrito do Porto.

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