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Recuperação da “imagem internacional” é destaque do atual mandato de Lula

O analista político Emerson Urizzi Cervi afirmou à Lusa que a recuperação da “imagem internacional” é o destaque dos primeiros cem dias do Presidente brasileiro, Lula da Silva, mas avisou ser necessário “modelar as expectativas” sobre este terceiro mandato.
8 Abril 2023, 09h39

“Mudou a visão que o mundo tem do Brasil e é justamente onde menos destruição institucional foi feita. A destruição que havia nessa área era uma destruição de imagem, não institucional”, disse à Lusa o professor do programa de pós-graduação em ciência política e do programa de pós-graduação em comunicação da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

“Havia uma expectativa muito positiva em relação ao Governo Lula. Como ele não teve de gastar energia reconstruindo institucionalmente, ele conseguiu avançar”, acrescentou.

A primeira viagem internacional de Lula da Silva foi à Argentina, fazer “as pazes” com o seu vizinho depois de quatro anos de relações institucionais frágeis e até hostis por parte do ex-presidente brasileiro, Jair Bolsonaro. Depois, Lula da Silva deslocou-se ao Uruguai, recebeu em Brasília o chanceler alemão, Olaf Scholz e foi recebido pelo Presidente norte-americano, Joe Biden, na Casa Branca, sem contar com os vários ministros dos Negócios Estrangeiros que vieram a Brasília, tal como o de Portugal e França.

Uma doença adiou a sua viagem à China, o maior parceiro comercial do país, algo que acontecerá na próxima semana para se encontrar com o Presidente chinês, Xi Jinping.

Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse como Presidente do Brasil a 1 de janeiro de 2023, depois de já ter comandado o país por dois mandatos (2003-2011).

Este seu terceiro mandato, que na segunda-feira completa cem dias, iniciou-se de forma mais conturbada: Oito dias depois de receber um país altamente polarizado e com uma percentagem grande da população a acreditar, sem provas, que as eleições foram falsificadas, um grupo de radicais atacou as sedes dos três poderes em Brasília.

“O Governo teve de retroceder algumas casas, dar alguns passos para trás, para recuperar o que foi depredado, gastar energia com a investigação, quem financiou, quem estimulou. Coisas que nunca tinham acontecido”, justificou o cientista político.

Dando um exemplo dessa energia gasta para tentar recuperar o tempo perdido, Emerson Urizzi Cervi recordou o esforço que foi feito pelo novo Governo para reforçar a relação com os militares, um grupo que, na sua maioria, esteve muito próximo da administração de Jair Bolsonaro.

“Pela primeira vez a gente está vendo os primeiros cem dias de Governo no Brasil que é de facto um Governo de oposição ao anterior. Nós nunca tínhamos tido a esse nível de mudança, nem mesmo entre Fernando Henrique Cardoso e Lula”, disse Emerson Urizzi Cervi.

Por essa razão, o cientista político avisa para a necessidade de se abandonar “qualquer expectativa de um terceiro Governo de Lula ser uma reprodução, ou de se aproximar, do que foi o primeiro ou o segundo Governo Lula”.

“Nesse sentido, eu sou muito mais cético, ou menos otimista, do que muitos avaliadores que tinham uma expectativa muito grande com realizações do Governo”, frisou, acrescentando que foram gastas muitas energias nestes primeiros cem dias “para tentar fazer remendos em vazamentos [fugas] no sistema, remendos em políticas públicas que foram absolutamente destruídas durante o Governo anterior”.

Sobre algumas politicas sociais recuperadas como o Bolsa Família, programa de subsídios que nos seus dois primeiros mandatos reduziu as taxas de pobreza e o Minha Casa, Minha Vida, um plano de habitação popular, Emerson Urizzi Cervi recordou que “são duas medidas provisórias que ainda não foram votadas no Congresso”.

“Se o Congresso não votar as medidas provisórias em 180 dias elas perdem validade automaticamente”, disse. Nenhuma força política chega perto de conseguir maioria nas duas casas, sendo que o PT, partido de Lula da Silva, tem apenas 68 dos 513 deputados federais (13,6% do total) e oito dos 81 senadores (9,9%).

Relativamente à tensão no seio do Governo, que se sentiu principalmente na área económica, de um lado o ministro das Finanças, Fernando Haddad (também do PT) e a ministra do Planeamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), e do outro, a ala mais à esquerda do PT, como a sua presidente, Gleisi Hoffmann, o analista considera que “cada um deles está jogando o seu papel nesse jogo”.

“Essa tensão entre um Governo que é apenas parcialmente do PT e um partido que quer ser o responsável único pelo Governo aconteceu nos dois primeiros mandatos de Lula, existiu no primeiro mandato de Dilma e vai existir agora”, disse.

Após vitória nas eleições presidenciais de 30 de outubro de 2022 com 50,9% dos votos, Lula da Silva assumiu novamente a Presidência do Brasil no dia 1 de janeiro para um terceiro mandato, após ter governado o país entre 2003 e 2010.

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