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Ser jovem aos 70

Já entrou na terceira idade, mas mantém um espírito de fazer inveja a qualquer adolescente. A Beltrão Coelho comemora 70 anos de existência e é a prova de que uma empresa familiar pode resistir às sucessões: Ana Cantinho é a terceira geração a assumir a liderança. Qual será o segredo da longevidade?
13 Março 2018, 07h15

A história remonta a 1948. A personagem principal: o avô José Augusto Beltrão Coelho, na altura, funcionário dos serviços gerais da Embaixada da Suécia. Uma viagem à Suíça e a possibilidade de fazer um curso de fotografia na Telko – na altura, uma das maiores empresas de papel e filtros fotográficos do mundo – mudou-lhe a vida para sempre. A dele e a das gerações vindouras. Começou por montar um escritório na própria casa com a representação de dois fornecedores: o papel fotográfico Telko e os filtros Omag. Três anos depois, em 1951, o sucesso era tal que José Augusto deixou o trabalho na Embaixada para se dedicar exclusivamente ao negócio da fotografia. O principal desafio foi lidar com a concorrência já instalada no mercado e com clientes fiéis. As Feiras Internacionais de Fotografia foram decisivas para ganhar terreno. Em 1954, começou a importar material fotográfico do Japão e conseguiu passar a representar três das marcas mais reputadas: Polaroid, Asahi Pentax e ViewMaster. Quando o mercado português tinha dúvidas sobre a rentabilidade da Polaroid, devido ao preço elevado, José Augusto contrariou a tendência da maioria e seguiu o próprio instinto: apostou em demonstrações para o público, nas lojas que detinha na Baixa, com oferta de fotografias. E a procura disparou.

O negócio da Beltrão Coelho teve quase sempre uma tendência de crescimento: começou, em 1951, com 600 contos de volume de vendas; em 1958, já atingia os 10 mil contos; em 1974, aproximava-se dos 70 mil e, em 1979, ultrapassava os 230 mil. Pelo meio, em 1961, a empresa teve um ligeiro decréscimo, na ordem dos 9 mil escudos, e José Augusto resolveu diversificar a oferta com a entrada no segmento dos equipamentos para fotocópias. Em 1975, este setor já representava 10% da atividade da empresa.

Dois anos depois, o filho António Beltrão Coelho juntou-se ao negócio do pai e assumiu funções de diretor-geral. O tempo veio demonstrar que tinha aprendido com o melhor: António continuou a diversificar a oferta de produtos da empresa e, em 1978, a Beltrão Coelho passa a representar a Casio e introduz no mercado as calculadoras eletrónicas. Já em meados da década de 80, cria um Departamento de Estudos de Modelos e Protótipos e lança a marca própria Magma dedicada ao fabrico de retroprojetores. Alguns anos depois, a Beltrão Coelho torna-se na primeira empresa portuguesa a fornecer equipamentos que permitiam a digitalização da informação analógica para um arquivo digital.

Na década seguinte, vieram apostas como o lançamento da Casio QV-10, a primeira máquina fotográfica com LCD; os primeiros sistemas de escritório multifuncionais da Nashuatec; os sistemas de contagem de dinheiro da Laurel e a marca própria de computadores Bluebird. A partir do ano 2000, passa a comercializar sistemas de jogo para Casinos; pilhas recarregáveis e dispensadores de água. Em 2004, instalou as primeiras salas TIC do ensino português e, em 2008, forneceu os primeiros quadros interativos para escolas públicas. A Beltrão Coelho não ficou indiferente à crise financeira internacional, mas conseguiu dar a volta. Em 2011, começou uma parceria com a Xerox; em 2015, foi nomeada parceira Platinum e distinguida como PME Líder – prémio que voltou a receber várias vezes nos anos seguintes.

Atualmente, a Beltrão Coelho tem mais de 850 clientes e, em 2017, registou uma faturação superior a 7,7 milhões de euros. Para Ana Cantinho, neta de José Augusto e filha de António, o segredo do sucesso relaciona-se, em grande medida, com a “constante busca de coisas novas desde os primórdios” da empresa. Segundo a diretora-geral, que assumiu o cargo a 9 de Janeiro, o facto de existir uma “equipa de desenvolvimento que está sempre à frente, a criar aplicações para o cliente de forma a garantir que um equipamento não seja só um equipamento” permite à empresa portuguesa “competir com as multinacionais”. “Não nos limitamos a tirar uma mera fotocópia”, garante a CEO.

Na opinião de Ana Cantinho, “a união, a entreajuda e a amizade” são parte do sucesso da empresa. Segundo a diretora-geral, todos trabalham “para um propósito” e querem “sempre mais, melhor e diferente”. Para além disso, acredita que a sua equipa é “mais rápida e proativa” do que a concorrência, assim como tem a capacidade de ser “reativa mais rapidamente”.

Ana Cantinho praticamente nasceu na Beltrão Coelho e, de alguma forma, tudo aquilo que viu ficou-lhe enraizado no ADN. Há meninas que sonham ser professoras, bailarinas ou princesas. Ana sonhava ser Rainha no próprio Reino: naquele que viu crescer desde que se lembra de ser gente. Ainda criança, ia com o pai, António Beltrão Coelho, para o trabalho, aos Sábados, e “ficava a fazer desenhos”. Com olhos de inocência, via “um mundo”. Ainda hoje vê. Começou a trabalhar na empresa da família, em 1989, quando estava a fazer o 12º ano “com poucas disciplinas”. A paixão foi tão arrebatadora que quis ficar: “Quis vir logo, mas o meu pai não me deixou. Insistiu que eu fizesse o curso. E fez muito bem!”, confessa, entre risos. Estudou Organização e Gestão de Empresas no ISCTE e pouco depois regressou ao sítio de onde nunca quis sair: “Tive a minha filha em Maio, acabei o curso em Junho e em Setembro vim trabalhar”. Já lá está há 22 anos e, aos 45 de idade, é a terceira geração da família a assumir a liderança.

Ana Cantinho tem plena consciência que trabalhar na Beltrão Coelho é muito mais do que um trabalho: “É uma paixão com cabeça, tronco e membros”, que não se compadece com horários “das nove às seis”. E, nesta paixão, existem ingredientes como “uma dedicação de corpo e alma” e a “obrigação de dar o exemplo”. Em vez de ter sido privilegiada por ser “a filha do patrão”, Ana aprendeu, desde cedo, que “tinha que ser melhor do que os outros”. Os maiores valores, que procura repercutir até hoje, foram herdados com a aprendizagem em família: “Havia um respeito imenso pelas pessoas, fosse o meu avô ou o meu pai a dirigir. As pessoas eram vistas como pessoas e não como números”. Talvez por isso, “o que mais pesa” à nova diretora-geral da Beltrão Coelho é “ter a cargo 70 famílias”. Com este pensamento, Ana Cantinho deixa de lado o “bocadinho de mau feitio” que diz ter e é como se passasse a ser, sobretudo, “muito amiga do seu amigo”. São 70 famílias. Como se fossem a sua. E 70 anos de existência da Beltrão Coelho. Por isso, a diretora-geral quer “ficar mais 70”, diz, entre risos. E talvez quando tiver 115 anos nos possa revelar qual é o segredo da longevidade.

 

Este conteúdo patrocinado foi produzido em colaboração com a Beltrão Coelho.

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