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TAP: ‘Chairman’ considera que fim da empresa seria significativa perda para país e economia

A TAP representa um terço dos passageiros dos aeroportos portugueses, 10 mil empregos diretos e 100 mil postos de trabalho indiretos. É um grande comprador nacional, em 2019 pagou 1,2 mil milhões de euros a fornecedores portugueses, é dos maiores exportadores nacionais (no que toca serviços é o maior exportador nacional) e é um grande contribuidor para as contas externas”, argumentou Miguel Frasquilho.
  • Cristina Bernardo
3 Julho 2020, 12h52

O presidente do Conselho de Administração da TAP disse hoje que se a companhia aérea desaparecesse seria uma significativa perda para a economia e para o país, considerando que a empresa “ajuda a projetar Portugal no mundo”.

“Se a TAP desaparecesse é possível que parte das rotas fossem substituídas por outras companhias, mas parte significativa das rotas não seria coberta, menos visitantes para Portugal e menos valor para a economia”, afirmou Miguel Frasquilho em entrevista à Antena 1.

Segundo o gestor, parte importante das rotas nunca seria substituída, nem a médio nem a longo prazo.

O chairman da TAP deu ainda vários dados para demonstrar que seria uma grande perda para Portugal e para a economia a perda de um ativo como a TAP, caso fosse para a insolvência.

“Se a TAP desaparecesse, grande parte dos voos internacionais faria escala noutros hubs, aqui ao lado, em Madrid. A TAP representa um terço dos passageiros dos aeroportos portugueses, 10 mil empregos diretos e 100 mil postos de trabalho indiretos. É um grande comprador nacional, em 2019 pagou 1,2 mil milhões de euros a fornecedores portugueses, é dos maiores exportadores nacionais (no que toca serviços é o maior exportador nacional) e é um grande contribuidor para as contas externas”, argumentou.

Frasquilho disse ainda que, no ano passado, a TAP pagou 300 milhões de euros em impostos e contribuições sociais.

“O peso da TAP é muito maior do que se possa pensar para a nossa economia, extravasa claramente e ajuda a projetar Portugal no mundo, fazendo de nós um país maior”, afirmou.

O Governo anunciou na quinta-feira à noite que chegou a acordo com os acionistas privados da TAP, ficando com 72,5% do capital da companhia aérea, por 55 milhões de euros, com a aquisição da participação (de 22,5%) até agora detida por David Neeleman (que sai assim da estrutura acionista). O empresário Humberto Pedrosa detém 22,5% e os trabalhadores os restantes 5%.

Em 10 de junho, o Governo português tinha chegado a acordo com a Comissão Europeia para uma injeção de capital de até 1.200 milhões de euros na TAP, sendo a contrapartida um plano de reestruturação da companhia aérea.

Ainda na entrevista à Antena 1, Miguel Frasquilho disse não ter dúvidas de que nas discussões com a Comissão Europeia “o Governo defendeu a TAP e o país” até ao último minuto e que, de futuro, tanto o executivo como a gestão da empresa se vão bater “pelos interesses da TAP e do país” para que a companhia aérea não se torne uma empresa regional.

Questionado sobre a gestão de Antonoaldo Neves, até quinta-feira presidente executivo da TAP, Frasquilho respondeu que não lhe compete dizer que foi boa ou má, considerando que o plano estratégico que termina no final do ano teve “vertentes positivas” com “métricas operacionais que foram cumpridas e ultrapassadas”, caso da transformação operacional, enquanto outras métricas que não foram cumpridas, designadamente os resultados financeiros.

No final do ano passado, a TAP tinha capitais próprios negativos de 600 milhões de euros de euros.

“Não direi que há pecados. Há vicissitudes, há contextos, em determinadas vertentes não foram atingidas as expectativas”, afirmou.

Já sobre se a TAP cresceu mais do que poderia, o presidente do Conselho de Administração da empresa desde 2017 não respondeu diretamente, referindo que “houve áreas em que o projeto estratégico foi cumprido e, mais, foi ultrapassado, em termos de frota, de mais aviões de médio e de longo curso, do que projetado originalmente”. A TAP tem atualmente 105 aviões, indicou.

Quanto ao atual vazio na gestão executiva da companhia, Frasquilho disse que “a TAP tem o Conselho de Administração [não executivo] que continua a trabalhar” e que a escolha do novo presidente executivo “é uma questão que compete aos acionistas”.

O ministro Pedro Nuno Santos disse também na quinta-feira que o presidente executivo da TAP, Antonoaldo Neves, vai ser substituído “de imediato”, sem revelar quem lhe sucede para já, e que o Governo vai contratar uma empresa para procurar no mercado internacional uma equipa de gestão qualificada.

Frasquilho foi ainda questionado sobre quem manda mais no Conselho de Administração da TAP – se ele próprio se Diogo Lacerda Machado, representante do Estado –, tendo recordado que o voto de qualidade é seu.

“Eu sou presidente do Conselho de Administração, tenho voto de qualidade, em caso de empate posso desempatar. Mas até hoje não foi preciso usar esse voto de qualidade”, disse.

Sobre David Neeleman, Miguel Frasquilho (ex-secretário de Estado do Tesouro e Finanças no governo PSD liderado por Durão Barroso) considerou que o empresário norte-americano foi “importante” no processo de transformação da TAP desde a privatização.

Em 2015, o governo PSD-CDS/PP vendeu a maioria do capital ao consórcio privado Atlantic Gateway, formado por David Neeleman e por Humberto Pedrosa, privatização depois parcialmente revertida pelo governo PS com o Estado a ficar com 50% da empresa (mas apenas 5% dos direitos económicos e sem representante na Comissão Executiva).

Neeleman foi importante pelo seu conhecimento do setor da aviação e pela sua ligação aos Estados Unidos da América, onde a companhia reforçou rotas, disse Frasquilho.

Já sobre o desinteresse de Neeleman na TAP, comentou que foi conhecido que o empresário teve negociações com a alemã Lufthansa para venda da sua participação na companhia.

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