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Um ano de Covid em Portugal: Dos elogios da primeira vaga à ajuda internacional na terceira

Os primeiros casos por infeção do vírus que já circulava na Europa foram identificados a 2 de março de 2020, assinalando-se hoje o março de um ano de pandemia em Portugal. Portugal foi elogiado pelos meios internacionais pelo combate na primeira vaga, já decretou 12 estados de emergência, segue no segundo confinamento de longa duração e foi obrigado a pedir ajuda internacional devido à pressão de internados no SNS.
ESTELA SILVA/LUSA
2 Março 2021, 12h55

Esta terça-feira, 2 de março, assinala-se um ano desde que Portugal identificou dois casos positivos de Covid-19, um número que inconscientemente viria a aumentar nos dias e semanas seguintes. No período de um ano, Portugal segue no seu segundo confinamento de longa duração, os efeitos da terceira vaga já começaram a suavizar, deixando os hospitais respirar de alívio, e conta com o seu 12º estado de emergência atualmente.

Grande parte do comércio está encerrado, mantendo-se apenas abertos os serviços essenciais, os termos teletrabalho e Zoom, que hoje fazem parte do léxico, foram inaugurados há quase um ano, e as máscaras fazem parte de cada saída à rua.

Os dois primeiros casos identificados a 2 de março tinham ligações a Espanha e Itália, países onde o coronavírus já apresentava danos nos sistemas de saúde devido ao aumento exponencial de casos nos dias anteriores. Estes dois casos foram identificados primeiramente em dois hospitais do Porto e, na altura, encontravam-se em estáveis.

Entre o dia 2 e o dia 16 de março de 2020, data em que se registou a primeira vítima mortal por Covid-19, um homem de 80 anos com várias comorbilidades associadas e já internado no hospital de Santa Maria, o primeiro-ministro António Costa e a ministra da Saúde Marta Temido visitaram os hospitais do país que acolhiam e tratavam cidadãos que apresentavam sinais de infeção pelo vírus. Foi entre estas duas datas que as empresas e pais com filhos em casa começavam a receber informações sobre apoios a que se podiam candidatar.

O Presidente da República falou aos portugueses na noite do dia 18 de março para anunciar que tinha decretado estado de emergência, sustentando que se tratava de “uma decisão excecional num tempo excecional”, classificando que a pandemia seria “um teste ao Serviço Nacional de Saúde e à sociedade portuguesa”, uma situação que se viria a comprovar. Esta foi também a primeira vez, desde que a Constituição da República Portuguesa entrou em vigor a 25 de abril de 1976, que o estado de emergência foi declarado.

A semana mais crítica da primeira vaga da pandemia observou-se entre 30 de março e 5 de abril, sendo que foram identificados mais de 700 novos casos diários. No final do mês de abril, e com os números a diminuir de forma acentuada, o Governo apresentou um plano de desconfinamento dividido em três partes. Foi com a rápida desaceleração do número de contágios que Portugal foi amplamente elogiado nos meios internacionais devido ao ataque que fez à pandemia.

Apesar da diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, admitir que a situação era “muito complexa” na região de Lisboa em maio, Portugal passou ao estado de calamidade, diminuindo o nível de alerta, e aliviou algumas medidas em todas as regiões do país, ainda que o teletrabalho se tenha mantido obrigatório. Em maio vários sectores da economia tiveram autorização para retomar a sua atividade, com o desconfinamento comercial a iniciar-se no comércio local e cabeleireiros e terminando nos centros comerciais e creches no mês de junho.

Ainda em maio os serviços culturais reabriram, juntamento com os serviços públicos, e os ajuntamentos com mais de dez pessoas continuaram proibidos. As celebrações do 13 de maio em Fátima decorreram à porta fechada, com o Santuário a ficar vazio após vários anos de celebrações. Apesar de a situação estar aparentemente controlada, o Governo anunciou a proibição dos festivais de música até setembro, com vários festivais a assegurarem os bilhetes e os mesmos artistas para 2021.

Os jogos da I Liga de futebol iniciam-se em junho, ainda que à porta fechada, bem como as modalidades desportivas de pavilhão. A 30 de julho, e após vários meses fechados e milhares de euros de prejuízo, os bares e discotecas tiveram autorização para reabrirem mas com as mesmas regras aplicadas a cafés e pastelarias, o que fez com que muitos permanecessem de portas fechadas.

No início de julho, Portugal passou a situação de alerta, a mais baixa da escala, com a Área Metropolitana de Lisboa a ser a exceção e manter-se em estado de contingência devido ao aumento de casos que se faziam sentir em Lisboa.

O Executivo apertou as regras no início de setembro devido ao regresso às aulas presenciais, uma vez que as deslocações iriam aumentar e o risco de transmissão seria mais propício. Foi decretada a obrigatoriedade do uso de máscaras nas escolas e os estabelecimentos de ensino tiveram de estabelecer regras específicas de circulação. Com o regresso do ano letivo e aos locais de trabalho depois do verão, a pandemia voltou a agravar-se em território nacional e o Governo voltou a instaurar o estado de calamidade em outubro, proibindo o ajuntamento de mais de cinco pessoas na via pública.

Ainda em setembro verificou-se a realização polémica da Festa do Avante, tendo gerado críticas severas ao Governo e ao PCP pela concretização do evento. Os médicos de saúde pública chegaram a afirmar que a realização da Festa do Avante, mesmo a um terço da capacidade, iria originar o risco de “super disseminação” e que o risco de contágio era real, com o PSD a questionar-se a diferença entre o Avante e os festivais de verão que não se puderam realizar.

A 14 de outubro Portugal passou de uma situação de contingência para estado de calamidade dada a evolução crescente da pandemia e o Governo proíbe a realização de eventos familiares com mais de 50 pessoas, bem como o ajuntamento de mais de cinco pessoas na via pública. Uns dias mais tarde, a 19 de outubro, o território nacional ultrapassou a barreira dos 100 mil casos de Covid-19 confirmados desde o início da pandemia.

No fim do mês o Executivo proibiu a circulação entre concelhos no fim de semana dos Finados e os residentes nos concelhos de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreiras foram obrigados a permanecer nos seus domicílios devido ao elevado risco de transmissão. A 28 de outubro passou a ser obrigatório o uso de máscara em espaços público, salvo raras exceções, sendo ainda aplicadas coimas entre os 100 e os 500 euros a quem não cumprisse esta regra. A 31 do mês em questão o governo anunciou o confinamento parcial nos concelhos que apresentassem mais de 240 casos por 100 mil habitantes nos 14 dias anteriores, sendo que esta decisão abrangeu 121 municípios.

Em novembro, e perante um aumento exponencial de novos casos, o Governo aprovou a possibilidade de pedir testes rápidos em estabelecimentos de saúde, lares de idosos, escolas, prisões e chegadas a Portugal e o Presidente da República propôs um novo estado de emergência preventivo e mais limitado, que seria aprovado a 20 de novembro pelo Parlamento, avisando que o mês em questão seria “um teste à contenção, serenidade de resistência”.

Novembro e dezembro foram os meses em que a mortalidade atingiu o pico na segunda vaga, mas o plano de vacinação que se iniciou no último mês do ano trouxe mais uma ferramenta de combate e esperança à população. A 2 de dezembro a ministra Marta Temido anunciou a compra de 22 milhões de doses contra a Covid-19 e o plano de vacinação foi apresentado no dia seguinte, com os grupos prioritários definidos para receber a vacina, nomeadamente profissionais de saúde, trabalhadores e utentes dos lares de idosos, trabalhadores dos serviços essenciais e pessoas com mais de 50 anos e patologias associadas.

A 7 de dezembro o país ultrapassou as cinco mil vítimas mortais relacionadas com a pandemia do novo coronavírus, três dias mais tarde o Conselho de Ministros aprovou novas medidas de apoio às empresas e a 17 de dezembro o Presidente da República decretou a renovação do estado de emergência e pediu bom senso aos portugueses durante as celebrações do Natal, para as quais o Executivo permitiu a circulação entre concelhos, contrariamente à decisão do Ano Novo.

O plano de vacinação arrancou nos hospitais a 27 de dezembro e imunizou, com a primeira dose, vários profissionais de saúde dos serviços mais críticos.

A passagem para um novo ano ficou marcada por o mês de janeiro ser um dos mais negros da pandemia em Portugal, marcando novos recordes diários, como o número de mortes que chegou aos 303 em dois dias e o número de novas infeções diárias a chegar às 16.432. O Executivo avançou rapidamente para um novo confinamento a 15 de janeiro, que ainda se mantém em vigor, e muitos dedos apontaram o aumento de casos ao alívio de restrições observadas no Natal.

Com os números a causar pressão no sistema nacional de saúde, ao qual acresceu a presença da variante britânica em Portugal, o Governo viu-se obrigado a decretar o encerramento de todos os estabelecimentos escolares a partir de 22 de janeiro.

A elevada pressão nos hospitais, com um máximo de 6.869 pessoas internadas e 904 doentes em cuidados intensivos, levou Portugal a acionar o alerta e a aceitar a ajuda de países europeus que disponibilizaram equipas, como foi o exemplo da Alemanha, França e Luxemburgo. A 3 de fevereiro, uma equipa médica militar alemã, com 26 profissionais de saúde, chegou a Lisboa e instalou-se no Hospital da Luz.

Sem avançar grandes detalhes, o primeiro-ministro comprometeu-se a apresentar um plano de confinamento no próximo dia 11 de março, após grande insistência dos partidos na Assembleia da República e do Presidente da República. António Costa garantiu que este será gradual e diferenciado por localizações. Mariana Vieira da Silva, ministra de Estado e da Presidência, garantiu que o desconfinamento irá ser iniciado pelas escolas.

O relatório divulgado na segunda-feira contabiliza 16.351 óbitos e 804.956 infeções desde o início da pandemia, um valor que tem aumentado, ainda que a um ritmo mais diminuto. Desde o início da pandemia que morreram 8.551 homens e 7.800 mulheres, sendo a faixa etária acima dos 80 anos a mais afetada.

Desde o dia 27 de dezembro, quando arrancou o processo de vacinação, foram administradas 868.951 vacinas contra a Covid-19, sendo que o Governo indica que 603.588 cidadãos receberam a primeira dose e um total de 265.366 pessoas já foram inoculadas por completo, recebendo as duas doses das vacinas da BioNTech/Pfizer, AstraZeneca e Moderna.

Desde o arranque da vacinação, e segundo dados divulgados no domingo, já foram administradas 868.951 vacinas contra a Covid-19, ultrapassando já o número de casos confirmados pela doença. Ao todo, já 603.588 pessoas receberam a primeira dose e 265.366 pessoas já têm a vacinação completa.

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