A Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19 (CTVC) defendeu que a estratégia de vacinação definida em Portugal foi baseada no modelo mais eficiente, que passaria pela priorização dos pacientes com comorbilidades de maior risco, como doenças renais ou cardíacas, que representam uma fatia significativamente maior dos internamentos em unidades de cuidados intensivos do que doentes acima dos 80 anos.
A ideia foi expressa na audição ao órgão consultivo da Direção Geral de Saúde (DGS) na Comissão de Saúde da Assembleia da República, onde esta quarta-feira, a pedido do PSD, os especialistas envolvidos no processo puderam clarificar algumas questões dos deputados.
“Vacinando de acordo com as comorbilidades, a eficácia é maior”, explicou o médico pediatra José Gonçalo Marques, que serve também como coordenador-adjunto da CTVC, porque o impacto estimado da vacinação nestes grupos é superior analisando a ocupação das unidades de cuidados intensivos (UCIs).
Destacando que 47% dos óbitos ocorreu em pacientes com doenças cardíacas e 42% em doentes renais, e que, ao mesmo tempo, “as pessoas com mais de 80 anos estão abaixo dos 5% das camas ocupadas em UCIs”, o médico imunologista Luís Graça refere que “não poderíamos fazer um critério de administração de vacinas que atrase muito a proteção de pessoas com um risco muito elevado e abaixo dos 80 anos”.
“O impacto na letalidade desta priorização das comorbilidades definidas na fase 1 é mais ou menos semelhante ao impacto de priorizar a vacinação de todas as pessoas com mais de 80 anos; o impacto […] tem uma grande diferença é nos internamentos em cuidados intensivo”, resume Luís Graça.
Foi também esta a justificação apresentada pelo coordenador da CTVC, Válter Bruno Ferreira, para a não inclusão de comorbilidades como a trissomia 21 ou problemas oncológicos na primeira fase de vacinação, dado o “benefício maior” de vacinar outros doentes com doenças que constituem riscos ainda mais acrescidos de infeção grave ou morte.
Ainda assim, José Gonçalo Marques reconheceu que esta opção apresenta “questões de exequibilidade” que poderão ter motivado muitos outros países a escolher prioridades que resultassem em grupos mais fáceis de definir e contactar.
A comissão reforçou também o conselho da DGS relativamente à utilização da vacina desenvolvida pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford em cidadãos com 80 ou mais anos.
“Os dados não são maus, há é falta dos mesmos em relação à efetividade da aplicação, mas os dados de segurança são excelentes”, referiu José Gonçalo Marques, que esclareceu ainda que os dados referentes à produção de anticorpos “são semelhantes ao das outras vacinas e estendem-se aos mais idosos”. A DGS aconselhou que fossem privilegiadas as outras vacinas disponíveis no caso da administração a idosos, mas, caso a dos laboratórios sueco-britânicos fosse a única disponível, que não se atrasasse a vacinação de nenhum utente por este motivo.
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