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Alves Bandeira: “Queremos chegar aos 200 postos até 2024”

Pedro Mascarenhas, diretor de marketing do grupo Alves Bandeira, revela a estratégia para competir com as grandes marcas e aborda os desafios da eletrificação dos carros. “Estamos preparados”.
4 Agosto 2019, 16h00

Há quem sinta dificuldades em explicar como é que há tantos postos de combustível a abrir no país. De acordo com a Entidade Nacional para o Setor Energético (ENSE), existem atualmente 3.068 postos de abastecimento no país. “Portugal, ao nível de rede de postos para o cliente, tem muita oferta”, refere Pedro Mascarenhas, diretor de marketing do grupo Alves Bandeira, uma holding que atua no setor petrolífero.

Ainda assim, garante Pedro Mascarenhas, “apesar de ser um mercado maduro, continua a ter oportunidades para abrir novos postos”.
Numa espécie de luta ‘Golias contra David’, a rede de postos de abastecimento em Portugal é dominada pelas grandes empresas, mas a Alves Bandeira tem uma estratégia bem definida: “estamos onde os outros não estão”, explica o diretor de marketing.

Segundo o site oficial, a Galp tem 900 postos de abastecimento, bem à frente da Repsol, que tem 460, e da BP, que conta com 434. A Alves Bandeira, com sede na Mealhada, conta atualmente com 158 postos, espalhados de norte a sul do país, ainda que com maior concentração nas regiões centro e norte.

“As grandes companhias acabam por estar dentro do mercado das massas, e nós trabalhamos na zona de maior proximidade local”, frisa o diretor da Alves Bandeira. “Temos uma estratégia de proximidade local e esse acaba por ser o nosso grande ponto diferenciador”.

Esta estratégia será para manter. “Os postos que teremos no futuro serão onde as pessoas também estão”, diz Pedro Marcarenhas.

Atualmente com uma quota de 5% no mercado de postos de abastecimento, a Alves Bandeira tem “em mente abrir entre entre sete a dez postos” por ano, garante. “O nosso objetivo é chegar aos 200 postos entre três a cinco anos”.“Vamos criando o nosso espaço muito por causa desta proximidade com o cliente”, revela Pedro Mascarenhas.

 

Reestruturação e os desafios do setor
Nascido em 2014 depois de uma “fusão peculiar no mercado”, que juntou sob a alçada de um grupo três famílias concorrentes – Alves Bandeira, Monjardim e Mascarenhas – o grupo Alves Bandeira é hoje um universo de 16 empresas que operam nos mercados doméstico e externo. É o resultado da fusão entre “a Petroibérica, que era uma empresa que vinha da altura do grupo Lena e que foi vendida, passando a integrar o grupo da família Monjardim e da Alves Bandeira”, conta Pedro Mascarenhas.

Mas a estrutura acionista da Alves Bandeira parece não ser ainda um assunto encerrado.
Num comunicado divulgado em abril de 2018, o grupo Alves Bandeira anunciou que o grupo Manuel Champalimaud, através da OZ Energia, reforçou a sua posição no sector dos combustíveis líquidos ao entrar no capital da Alves Bandeira, em 50%. No documento, este grupo escreveu que “o negócio unifica a actividade de retalho de combustíveis líquidos de ambas as empresas”.

No entanto, mais de um ano depois deste anúncio, o “processo ainda está a desenrolar-se e não está totalmente fechado”, revela Pedro Mascarenhas. Em todo o caso, frisa, “é um tema do fórum da administração”.

O processo de fusão de 2014 foi estratégico. Ao aumento da capacidade negocial junto dos fornecedores, com “um grupo mais forte com mais postos em vez de rês empresas separadas”, juntam-se “a melhoria da oferta”, “ganhos de escala”, “redução dos custos operacionais” e “redução dos custos financeiros”, explica o diretor de marketing da Alves Bandeira.

No ano passado, o grupo faturou mais de 500 milhões de euros, facto que não passa despercebido a Pedro Mascarenhas. “Em termos consolidados, estamos entre os 50 maiores grupos do país ao nível da faturação”, salienta. Mas o “objetivo será atingir os 600 milhões nos próximos cinco a três anos”, revelou o diretor de marketing.

O combustível tem um peso significativo no grupo. “A Alves Bandeira é a nossa rede retalho de postos de abastecimentos, e integra ainda os carões de fidelização virados para as empresas e para o cliente final”, explica Pedro Mascarenhas. “Depois temos a Petroibérica, que complementa com o negócio do granel, ou seja, aquelas grandes transportadoras e empresas que acabam por ter um depósito na sede e que compram combustível”. “Ambas as empresas são negócio de fuel e se considerarmos apenas o cluster formado pela Alves Bandeira e pela Petroibérica, estamos a falar entre 80% a 90% fa faturação anual do grupo, ou seja, entre 350 a 400 milhões de euros por ano”, frisa o diretor do Grupo Alves Bandeira.

Questionado sobre se uma grande empresa do setor já teria feito uma abordagem para adquirir o grupo, Pedro Mascarenhas optou por não responder.

Apesar das sinergias adquiridas com a fusão, a Alves Bandeira não refina combustível, o que significa que está está sujeita a comprar combustível aos preços de mercado.

“Falar do preço do combustível é ingrato”, diz Pedro Mascarenhas. “Nós compramos às companhias que vendem combustível, e depois revendemos ao consumidor final. Logo aí dá para ver que o nosso preço poderia ser mais caro que o do concorrente”, revela.
“É importante referir que o preço a que comparamos combustível tem uma carga de impostos associada muito grande”, explica o diretor de marketing. “Estamos a falar de 50% a 60%, que são impostos sobre o combustível. Logo aí, grande parte da representatividade do preço final já está quase definida”.

Mas a fusão trouxe vantagens competitivas. Desde logo o facto de “todo o processo de logística ser feito no seio do grupo”, explica Pedro Mascarenhas. Por essa razão, a Alves Bandeira conseguiu “antecipar rapidamente” as consequências da greve dos motoristas de matérias perigosas, que quase parou o país em abril deste ano. “Prevendo o pré-aviso de greve, tínhamos um contingente preparado para os postos. Entre todas as zonas que cobrimos, o nosso posto da Mealhada foi o último a deixar de ter combustível”, revela o diretor de marketing. “Conseguimos salvaguardar todos os postos até ao limite e conseguimos levar as cargas suficientes de combustível para que as nossas empresas clientes aguentassem o pico da greve”.

Se o desafio da greve dos motoristas de matérias perigosas foi ultrapassado – numa altura em que os sindicatos já emitiram um pré-aviso de greve para 12 de agosto -, os planos para responder aos desafios do futuro já começaram a ser delineados, nomeadamente a eletrificação dos veículos, o que, claro, terá impacto no setor dos combustíveis.

“Nós costumamos dizer que hoje podemos vender combustível e amanhã vendermos energia”, diz Pedro Mascarenhas. “Os nossos postos estão preparados para isso”.

A mudança (total) para o elétrico, no entanto, não é um dado tocompletamente assegurado para o diretor de marketing do Grupo Alves Bandeira.“Assim como há muitos anos se falo no GPL (gás natural), que vinha para renovar,, agora fala-se também no hidrogénio e no biodiesel”, lembra. “É um processo que vai ser longo, teremos um mercado com carros elétricos e carros a combustão durante muito tempo, e teremos de ver se os elétricos vêm para ficar ou não”, observa Pedro Masacarenhas.

Ainda assim, pelo sim, pelo não, a Alves Bandeira vai avançar com projetos de postos de abastecimento de energia elétrica. “Temos três a quatro postos em que pretendemos pôr a energia elérica, em paralelo com o combustível, a partir de 2020”, remata.

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