O cenário é inevitável: mesmo com cortes drásticos das emissões poluentes a subida do nível das águas a partir de 2050 ponha em risco 300 milhões de pessoas. A Ásia será a zona mais afetada; em Portugal, estuário do Tejo e do Sado, Ria Formosa, Aveiro e Figueira da Foz são as zonas mais “vermelhas”.
As conclusões são de um estudo publicado, esta terça-feira, na revista cientifica “Nature Communications”. Apesar de as previsões sobre a subida do nível dos oceanos não terem mudado, foram agora identificadas “muito mais pessoas a viverem em regiões vulneráveis”. Isto porque os cientistas corrigiram e aprimoraram dados existentes sobre o relevo das zonas costeiras usando um algoritmo de inteligência artificial, explicou um dos autores do estudo e presidente da ONG Climate Central, Ben Strauss, citado pela agência noticiosa AFP.
Tudo indica que a Ásia será o continente mais afetado, nomeadamente a China, Bangladesh, Índia, Vietname, Indonésia e Tailândia. Dos 300 milhões que se estima estarem em zona de risco de inundação em 2050, aproximadamente 237 milhões vivem nesses seis países. Só a China acumula 93 milhões de pessoas em risco.
E em Portugal?
Devido à sua longa costa, Portugal tem várias zonas de risco. No mapa interativo disponibilizado pelos autores do estudo em colaboração com a organização Climate Central, são várias as zonas “vermelhas” assinaladas: Viana do Castelo, Esposende, Fão, Apúlia, Vila do Conde, Matosinhos, Espinho, Esmoriz, Ovar, Torreira, Aveiro, São Martinho do Porto, Caldas da Rainha, Alcobaça, Figueira da Foz, Montemor-o-Velho, cidades contíguas ao Estuário do Tejo como Lisboa, Vila Franca de Xira, Carregado, Montijo, Moita, Azambuja, Benavente, Alcochete, e zonas da costa algarvia.
Aparentemente, nem a Madeira nem os Açores apresentam zonas de risco para 2050. Mas Benjamin Strauss chama a atenção para a necessidade de que governos e empresas aeroespaciais apresentem dados mais precisos sobre a elevação geográfica.
Desde 2006 que o nível das águas sobe em média cerca de quatro milímetros por ano, uma cifra que pode ser multiplicada por 100 se as emissões de gases com efeito de estufa continuarem inalteradas, de acordo com um relatório divulgado em setembro pelo Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas, que integra membros da ONU.
Se o aumento da temperatura global for limitado a 2ºC acima dos valores médios da era pré-industrial, conforme prevê o Acordo de Paris sobre alterações climáticas, de 2015, o nível dos oceanos subirá cerca de 50 centímetros até 2100. Contudo, se as emissões poluentes continuarem ao ritmo atual, a subida das águas poderá ser quase duas vezes mais significativa.
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