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Parcerias entre banca e ‘fintech’ “fazem todo o sentido”

Especialistas do sector financeiro e tecnológico têm as atenções viradas para o digital. As opiniões divergem quanto à entrada dos bancos centrais no campeonato das criptomoedas, mas defende-se uma relação estreita com a banca.
21 Maio 2022, 17h00

Líderes de fintech e plataformas de trading encaram o dinheiro físico como um suporte obsoleto. As atenções estão viradas para os produtos digitais, para a inovação das redes de pagamentos e para a entrada das govcoins no mercado das criptomoedas – tema que causa divergência. Acima de tudo, o novo sector financeiro tem vontade de trabalhar mais com a banca tradicional, particularmente nos desafios que esta não consegue contornar sozinha.

Matheus Baeta é o primeiro a garantir que “o fim do dinheiro” está para breve, porque “caminhamos diretamente para uma sociedade cashless”. Quanto ao cartão bancário, que atingiu um novo auge na era do contactless, admite que a morte anunciada virá mais tarde: “Eu já não utilizo. É quase como um backup”, admite o Business Development Manager da iMovo para a Península Ibérica. Já o fundador e CEO da easypay, Sebastião Lancastre, recorda que se deve ao período pandémico muitas das comodidades digitais que hoje utilizamos em massa: “Ninguém queria tocar no dinheiro, ninguém queria tocar nos cartões. Enfim, havia assim uma certa cólera”, diz. Contudo, também reconhece “que houve uma ajuda legislativa” que levou a uma extensa adoção dos métodos digitais de pagamento.

Uma outra empresa de pagamentos que marcou presença na mais recente JE Talks foi a Ifthenpay. O co-CEO Filipe Moura, que lamenta um alegado atraso da banca portuguesa em integrar novas e mais eficientes soluções de pagamento, transferência e gestão. “Até há alguns anos, o ato do pagamento era um ato isolado”, diz. “Não havia ligação a sistemas. Nem real-time: hoje as transferências só no dia seguinte é que estão disponíveis. As transferências instantâneas já deviam estar implementadas”, assegura.

Para Filipe Moura, este é apenas um de vários exemplos que justificam o aumento de atividade no ecossistema das fintech. “Não faz sentido as coisas estarem separadas”, esclarece. “É um motivo pelo qual as fintech existem e que estão a prosperar. Os bancos estão a ficar um bocadinho ultrapassados”, garante. Lancastre concorda que os bancos “já começam a olhar para as fintech como a solução para resolver alguns dos problemas, que não conseguem resolver em tempo útil e internamente (…) Faz todo o sentido fazer aqui parcerias”, considera.

Sobre as dinâmicas do mercado dos criptoativos e sobre uma possível entrada dos bancos centrais, nomeadamente com a criação do euro digital, Moura revela que não é “um grande entusiasta das criptomoedas” e que olha para o cenário com olhos de “conservador”, em parte pela volatilidade que carateriza o mercado em questão e pelas várias questões ambientais que se ligam à mineração das criptomoedas. Questões que o analista da ActivTrades Mário Martins considera que possam “vir a ser um impedimento natural ao crescimento”. Martins diz ainda que o problema atual das criptomoedas “é que já não são um ecossistema separado, porque já houve crash anteriores de criptoativos que nunca foram transferidos para a economia real”.

O CEO da easypay diz que tem “uma opinião completamente diversa” do seu concorrente da Ifthenpay em matéria de criptoativos, em especial à criação das chamadas govcoins – criptomoedas emitidas pelos bancos centrais -, pela oportunidade de negócio que estas representam e dá o exemplo da China, que segundo o mesmo “tem a sua [cripto]moeda a funcionar há muito tempo com 170 milhões de utilizadores”. A Europa, diz, “vem muito atrasada”. Ainda sobre a entrada dos governantes no mercado, é claro: “Venham, venham lá, vamos lá trabalhar com eles”.

Por sua vez, Matheus Baeta acredita que aquilo que é mais evidente em matérias de cibersegurança, neste momento, no plano empresarial, é o mesmo que defende ser necessário para as criptomoedas: “É a questão da regulamentação”. Regulamentação essa que é já uma possibilidade prevista pelo governo português. Ao contrário de outros do sector, Baeta não estranha a intenção e considera a ação do Executivo “perfeitamente correta”. “Aliás, espero que sim, para que entre toda uma nova gama de investidores institucionais”.

Reveja esta conversa na íntegra na JE TV em jornaleconomico.pt

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