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“A casa de Paris”. 3,5 milhões para comprar apartamento pertenciam a Sócrates, defende Tribunal da Relação

“Como é possível ao arguido Sócrates proceder ao pagamento destas despesas supra referidas de milhões de euros? Ninguém gasta milhões que não lhe pertençam”, escreveram as três magistradas do Tribunal da Relação.
26 Janeiro 2024, 13h38

“A casa de Paris”. É assim que o apartamento comprado na capital francesa na Avenida Président Wilson, que percorre o 8º e o 16º bairros da ‘cidade luz’ é descrito várias vezes durante o acórdão do Tribunal da Relação, relativo ao processo 122/13.8TELSB.L1, da ‘Operação Marquês”.

“A aquisição da casa de Paris implicou a circulação de fundos, no valor de cerca de três milhões e meio de euros com origem na repatriação de fundos da Suíça, , disponíveis na conta bancária BES 0113742004070407”, pode-se ler no documento que conta com a assinatura das juízas desembargadoras Raquel Lima, Micaela Rodrigues e Madalena Caldeira.

Este valor corresponde à compra do imóvel, mas também à compra do respetivo imobiliário, obras de beneficiação e administrador de condomínio.

Para começar, o preço do apartamento foi de 2,6 milhões de euros, mais 261 mil euros em custos.Mas José Sócrates também comprou vários objetos para o apartamento.

Gastou sete mil euros na loja MDL Maison de la Litérie – Paris, especializada em artigos e mobiliário para decoração de interiores.Mas “as compras de artigos de mobiliário e de decoração continuaram, por determinação do arguido José Sócrates”: nos “15 dias imediatos à compra do imóvel, foram realizadas despesas na compra de mobiliário e decoração , em Paris, no valor de 73,6 mil euros”.

E continuam: “por determinação do arguido José Sócrates , a conta n.º2102 4355 0006 do BES, alimentada por quantias provenientes da conta n.º 0113 7420 0407 do mesmo Banco, continuou nos meses subsequentes, a suportar encargos com o referido imóvel, quer no âmbito da compra de mobiliário e decoração, quer no âmbito de despesas de condomínio”.

Mas há mais valores a ter em conta: “orçamento de remodelação do imóvel; relativo às obras de remodelação a título de honorários pagos ao advogado francês; relativo ao imposto de solidariedade relativo ao ano de 2013; A aquisição da casa de Paris implicou a circulação de fundos, no valor de cerca de três milhões e meio de euros (3.5000.000,00) com origem na repatriação de fundos da Suíça, disponíveis na conta bancária BES 0113742004070407”.

As juízas escrevem que “durante o período de tempo em que o arguido José Sócrates e a família habitaram o imóvel sito na Av. Président Wilson, em Paris, aquele nunca pagou, ainda que de forma aparente, qualquer renda por essa utilização, nem se preocupou em criar justificativo para a sua relação com o proprietário formal do imóvel, que era o arguido Carlos Santos Silva”.

“Como é possível ao arguido Sócrates proceder ao pagamento destas despesas supra referidas de milhões de euros? Usando o dinheiro que, embora formalmente estivesse em contas tituladas pelo arguido Santos Silva, lhe pertencia. Esta conclusão retira-se com facilidade dos factos que relatámos supra, sendo certo que, de acordo com as regras da experiência, não nos é possível chegar a outra conclusão. Ninguém gasta milhões que não lhe pertençam”, escreveram as três magistradas.

José Sócrates vai ser julgado por corrupção

José Sócrates vai enfrentar a justiça. Oex-primeiro-ministro vai a julgamento por suspeita de cometer três crimes de corrupção, 13 crimes de branqueamento de capitais, e seis crimes de fraude fiscal. A decisão de levar Sócrates a julgamento por 22 crimes foi tomada pelo Tribunal da Relação de Lisboa que reverteu parte da decisão do juiz Ivo Rosa que, em abril de 2021, pronunciou o ex-governante com seis crimes em autoria com o amigo Carlos Silva: três de branqueamento de capitais e três de falsificação de documento.

Mas há mais a enfrentarem a justiça, segundo a decisão da Relação. Ricardo Salgado, ex-líder do BES enfrenta três crimes de corrupção, oito crimes de branqueamento. Por seu turno, Zeinal Bava, ex-CEO da Portugal Telecom (PT), está acusado de um crime de corrupção, outro de branqueamento, e um terceiro por fraude fiscal. Henrique Granadeiro, ex-chairman da PT, enfrenta um crime de corrupção, dois crimes de branqueamento, dois crimes de fraude fiscal. Já o ex-ministro ArmandoVara vai a julgamento acusado de um crime de corrupção, um crime de branqueamento de capitais. Já a construtora Lena está acusada de um crime de corrupção, três crimes de branqueamento de capitais, e seis crimes de fraude fiscal.

O juiz Ivo Rosa deixou cair quase todos os crimes deste processo, restando apenas 17 de um número inicial de 189. Do universo inicial de 19 pessoas e nove empresas, restaram apenas cinco indivíduos: José Sócrates, o empresário Carlos Santos Silva, Armando Vara, Ricardo Salgado e João Perna.

Agora, o ex-PM está acusado de três crimes de corrupção passiva, um por atos praticados no interesse do grupo Lena, outro por actos praticados no interesse do arguido Ricardo Salgado, relativamente a negócios do grupo PT, e um terceiro por “actos praticados no interesse dos arguidos Diogo Gaspar Ferreira e Rui Horta e Costa, com utilização das sociedades do grupo Vale do Lobo”.

Já Ricardo Salgado está acusado de três crimes de corrupção activa relativos a negócios do grupo PT e GES e os pagamentos a Sócrates, a Zeinal Bava e a Henrique Granadeiro. Sócrates disse ontem que não se conforma e que vai recorrer da decisão da Relação.

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