A nova lei das Ordens Profissionais promovida pelo Governo para adaptar a legislação nacional às normas europeias, foi um processo conturbado que a obrigou a revisão dos estatutos das várias ordens. E a Ordem dos Contabilistas Certificados não foi exceção. Apesar de alguns momentos de tensão, o diploma, que ainda espera aprovação final, parece ter agradado aos Contabilistas.
Foi com este tema que arrancou a JE Lab Talks: Contabilistas Certificados. Numa conversa moderada por Hugo Silva, do JE Lab, Jorge Cadeireiro, Administrador da Nucase, Mário Moura, CEO da Mário Moura Contabilidade e Rita Soares, Partner da Moneris abordaram ainda a sua visão sobre o futuro do sector e os desafios para a atração de talento jovem para a profissão.
O administrador da Nucase começou por sublinhar que estas alterações nasceram da União Europeia, que recomendou maior transparência e abertura no acesso às profissões. Reconheceu que a primeira versão da norma, que punha em causa a exclusividade de alguns dos atos próprios dos contabilistas, como por exemplo a submissão de declarações fiscais, foi “claramente rejeitado pelo Ordem” e que poderia pôr em causa toda a forma “como o sistema fiscal está montado”.
O impasse foi aparentemente ultrapassado, tendo os contabilistas mantido as suas funções exclusivas, o que, segundo Mário Moura, mais do que os proteger, “protege os empresários”, uma vez que o fim da exclusividade na entrega das declarações fiscais levaria a que qualquer pessoa, mesmo sem as competências necessárias, o pudesse fazer, chegando até a pôr em causa o próprio sistema fiscal.
Mas o CEO da Mário Moura Contabilidade sublinhou também as oportunidades que a nova Lei da Ordens Profissionais vem trazer, destacando a possibilidade de sociedade interdisciplinares, possibilitando as sociedades de contabilistas a oferecer outros serviços, incluindo jurídicos, considerando assim que o balanço é francamente positivo.
Para Rita Soares, contudo, o grande desafio para o futuro da profissão são os “novos processos e novas formas de trabalhar” que estão a acontecer com a inteligência artificial e a digitalização. A partner da Moneris sublinha a evolução na profissão “quando eu comecei a estudar a contabilidade aprendia-se em livros razão, quando cheguei ao mercado de trabalho puseram-me à frente de um computador com um programa para fazer contabilidade” e sublinha que “sobrevivi a isso” pelo que não se assusta com a inovação na profissão, tendo a certeza que todos vão evoluir. Considera ainda que o desafio para os contabilistas “é a adaptação e a perceção de que há novas responsabilidades e coisas que têm de ser aprofundadas”, sobretudo a capacidade de analisar os dados e os resultados obtidos pelas máquinas.
Outro dos temas abordados foi a necessidade de atrair pessoas com novas capacidades, adequadas aos novos desafios. Para Cadeireiro, às “novas gerações não lhes passa pela cabeça estar a repetir tarefas absolutamente de rotina durante anos a fio” o que se traduz numa tendência de “automatizar muitas dessas tarefas que antes eram feitas de forma manual, e que não eram de forma alguma atrativas para novos talentos”. Segundo o administrador da Nucase o desafio é “a capacidade que as empresas vão ter de realmente fazer uma evolução nos processos de trabalho” porque os atuais não vão atrair os novos talentos. A grande vantagem será o ganho de tempo que os contabilistas terão e que lhes possibilitará de estar mais disponível para os clientes, ganhando capacidade para dar mais consultoria aos clientes.
A automatização terá também como vantagem libertar o contabilista para aquilo que Mário Moura considera ser a grande mais-valia destes profissionais, sobretudo num momento onde a complexidade fiscal tem aumentado. Para Moura, embora seja essencial adaptar-se à digitalização, é essencial não esquecer que os contabilistas estão a lidar com pessoas, “a tecnologia não substitui as pessoas na totalidade. Tem de ser uma ferramenta que nós temos de utilizar. O contabilista não se esgota na parte contabilística, nós somos muitas vezes os confidentes dos nossos clientes, porque somos uma figura em quem confiam.”
Para Rita Soares o papel do contabilista é o de parceiro de negócios, “quer para os seus clientes, quer para quem está com eles nas organizações a trabalhar, a assegurar cumprimentos de prazos, para assegurar informação credível”.
Pode assistir à JE Lab Talks: Contabilistas Certificado, e conhecer a importância destes profissionais para a empresa e os desafios futuros da profissão, na JE TV e no Facebook e YouTube d’O Jornal Económico.
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