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IA é pedra basilar na preparação dos futuros contabilistas

ISCAL e Universidades de Coimbra e do Minho incorporam cada vez mais temáticas nas áreas da sustentabilidade e da inteligência artificial nos planos de estudo dos cursos. Preparar os quadros do futuro coloca novos desafios às IES.
2 Dezembro 2023, 12h00

Há gabinetes onde tarefas rotineiras como introduzir e processar dados estão já automatizadas, o que permite aos contabilistas concentrar-se na melhoria da qualidade do relato e na tomada de decisões analíticas e estratégicas de maior valor acrescentado. É a prova de que a inteligência artificial começa a redefinir a Contabilidade.

Pedro Pinheiro, presidente do ISCAL, a mais antiga escola de ensino nesta área no país, diz ao Jornal Económico (JE) que o contabilista atual não poderá ser somente um especialista em matérias essencialmente de natureza financeira e fiscal. Traça um novo perfil:“deve assumir-se cada vez mais como um parceiro estratégico na orientação das organizações para práticas sustentáveis e responsáveis englobando uma consciência profunda dos desafios globais, alicerçados na capacidade de utilizar tecnologias avançadas para uma tomada de decisões informada”.

Apanhar a onda da evolução tecnológica é, segundo o presidente do ISCAL, crucial para que os contabilistas se mantenham competitivos num ambiente empresarial orientado para a tecnologia. E possam encontrar, neste processo, “uma oportunidade de negócio e de reposicionamento no contexto da cadeia de valor”.

A integração da IA é, assim, uma pedra basilar na preparação dos futuros contabilistas para a era digital. Tal como a temática da sustentabilidade que reflete a evolução das exigências do panorama empresarial. “A sustentabilidade, outrora considerada uma preocupação secundária, passou a ocupar um lugar central no contexto do mundo empresarial e como tal a ter necessariamente de ocupar um lugar de destaque no ensino-formação dos futuros profissionais”, adianta Pedro Pinheiro. No planeamento das competências a desenvolver pelos futuros contabilistas, acrescenta, tem de ser incluída “a compreensão holística dos princípios ambientais, sociais e de governação (ESG), reconhecendo as implicações mais amplas das decisões financeiras, tanto no contexto empresarial, como na sociedade em geral”.

Para permitir aos contabilistas desenvolver competências nas questões contemporâneas, o ISCAL está a a intervir na oferta. Pedro Pinheiro revela que os planos de estudos dos cursos na área da Contabilidade e Auditoria irão sofrer uma transformação profunda de modo a incorporar as temáticas relacionadas com a sustentabilidade e o seu relato. Também haverá uma maior aposta no desenvolvimento de competências de base tecnológica. O ISCAL vai ainda reforçar a sua oferta no campo da formação executiva com programas de curta duração, desenvolvidos em parceria, enfatizando os critérios ESG e o seu impacto na profissão.

Universidade do Minho

“Compreensão abrangente da Contabilidade” – é assim que a Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho aborda esta ciência aplicada. “Uma prática técnica, social e moral preocupada com a utilização sustentável de recursos e a accountabilility para com os stakeholders de modo a potenciar o desenvolvimento das organizações, pessoas e natureza”, referem ao JE Ana Alexandra Caria e Lídia Oliveira, respetivamente diretoras da licenciatura e do mestrado em Contabilidade.

Uma tal visão privilegia a sustentabilidade. O tema tem sido abordado transversalmente em várias unidades curriculares tanto da licenciatura em Contabilidade com no mestrado com o mesmo nome. Na unidade curricular Contabilidade Financeira I, na qual é estabelecido o primeiro contacto dos estudantes com este admirável mundo novo promove-se, por exemplo, “uma reflexão sobre o facto de nem sempre uma empresa lucrativa ser uma “boa” empresa, tentando uma primeira abordagem à questão da sustentabilidade”, explicam Ana Alexandra Caria e Lídia Oliveira. Outro exemplo é o relatório de estágio. O estudante é desafiado a apresentar e discutir práticas vivenciadas na organização do estágio que potenciem o cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030.

Este ano letivo traz novidades ao nível do mestrado em Contabilidade: pela primeira vez é oferecida uma unidade curricular opcional, Relato Financeiro e de Sustentabilidade.

Ao nível da Contabilidade, os docentes têm participado em seminários mais específicos da aplicação da IA no ensino da Contabilidade, estando no momento, ao que adiantam aquelas responsáveis, “em processo de reflexão no sentido de serem tomadas medidas”.

Universidade de Coimbra
A Faculdade de Economia é outra Instituição de Ensino Superior (IES) que incorpora os novos desafios societais no estudo da Contabilidade. “Procuramos abordar um conceito de Contabilidade como ela deve ser encarada na atualidade: uma prática não apenas técnica, mas social e moral, associada à utilização sustentável dos recursos e à correta prestação de responsabilidades às partes interessadas, de modo a permitir o florescimento das organizações, das pessoas e da natureza”, explica Susana Jorge, cocoordenadora do mestrado em Contabilidade e Finanças.

A Universidade de Coimbra oferece formação básica em Contabilidade Financeira e em Contabilidade de Gestão, no quadro das licenciaturas em Gestão e em Economia. Oferece também formação mais avançada nestas áreas através do mestrado em Contabilidade e Finanças, que regista, segundo Susana Jorge, uma procura crescente. Combinadas, estas formações dão acesso à profissão de contabilista certificado, desde que o estudante complete o estágio curricular na área.

“Na prática, alertamos os nossos estudantes para o impacto da informação contabilística na prosperidade dos negócios e da sociedade, contribuindo para a melhor utilização dos recursos disponíveis”, salienta Susana Jorge. No mestrado, adianta, faz-se “a integração do ensino de matérias ligadas ao relato não financeiro e de sustentabilidade, antecipando uma prática que, de acordo com regulamentações europeias, se tornará obrigatória e generalizada nos próximos anos para todas as organizações públicas e empresariais, independentemente do seu negócio e dimensão”.

Já este ano letivo, as licenciaturas em Gestão e Economia passaram a oferecer uma unidade curricular obrigatória de Responsabilidade Ética e Sustentabilidade. Essa reestruturação implicou também a criação de unidades curriculares em vários planos de estudos, em particular nas UC ligadas à Contabilidade.

“Introduzimos ainda o uso de softwares contabilísticos, alguns dos quais com o apoio protocolado com a própria Ordem dos Contabilistas Certificados”, revela Susana Jorge.

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