“Um bode expiatório de uma história política”. Quase um ano depois de ter sido despedida da TAP, Christine Ourmières-Widener pronunciou-se publicamente sobre o caso – que a fez pedir uma indemnização milionária ao Estado português -, denunciando que a resposta da empresa ao seu processo estava “cheia de mentiras, ataques e insultos”. Também Fernando Medina foi um dos visados nas declarações, acusando-o de “chantagem”.
Em entrevista à CNN/TVI, a gestora francesa defende o seu papel naquele que foi o “melhor resultado de sempre” da companhia que, em 2022, apresentou lucros de 65,5 milhões de euros, depois de ter reportado um prejuízo recorde de 1,6 mil milhões no ano anterior.
“Foi o melhor resultado de sempre e, repito, fi-lo com a minha equipa, mas acho que é uma mentira dizerem que não tive nada que ver com isso porque está nos documentos. Dizem que foi apenas o impacto da indústria na empresa. Isso é errado, porque é preciso uma estratégia, é preciso a execução, é preciso a organização, e é preciso que todos estejam alinhados para o mesmo objetivo”.
Sobre a resposta da TAP ao seu processo, que deu entrada em setembro do ano passado, a atual CEO da French Bee diz que a empresa está a “tentar convencer as pessoas de que o [seu] percurso na indústria está repleto de fracassos” e que não é “uma pessoa honesta” “Durante todo o tempo em que estive na TAP, só recebi felicitações de todos os acionistas, incluindo daquele que me despediu”, acrescentou. “
“Estão a tentar destruir a minha reputação, o meu passado. Dizem todo o tipo de coisas a meu respeito que não são verdade, que não tive nada que ver com o sucesso da empresa e com os resultados positivos. E como explicam o facto de eu ter sido recrutada por um júri formado pela Parpública, pelas Finanças e pelas Infraestruturas, por tantas pessoas inteligentes e astutas, e que, no fim de contas, estava tudo errado? Ou seja, não é credível. Não se faz ou diz uma coisa num determinado momento para depois dizer precisamente o oposto uns meses depois. A isto chama-se política, não se chama negócios”, comentou.
Sobre a decisão das pastas das Finanças e das Infraestruturas de demitirem a gestora francesa na sequência do caso da indemnização a Alexandra Reis, após o relatório da Inspeção-Geral de Finanças (IGF) identificar “falhas graves”, Ourmières-Widener disse que Fernando Medina justificou a decisão com razões políticas. “Disse-me que não fiz nada de mal, mas ele tinha de o fazer por motivos políticos. Foi isso que discutimos e ele aconselhou-me veemente a demitir-me pela minha reputação. Chamo a isso chantagem e estar a ameaçar-me e foi o que ele fez”.
Questionada sobre a responsabilidade pela entrega de informação falsa à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que em novembro anunciou uma multa de 50 mil euros à companhia por comunicar informação que “não era verdadeira” ao mercado, Ourmières-Widener não se dispôs a comentar.
Por fim, Ourmières-Widener fez saber que, provavelmente, não vai voltar a trabalhar em empresas de aviação estatais, quando questionada sobre as lições que retira do caso. “Nunca mais trabalhar para uma companhia aérea pública, talvez. Gosto de administrar negócios, é o que sei fazer, e não estou envolvida na política, nunca estive. Eu sei aquilo que faço bem, sei o que não gosto de fazer, e é por isso que vou garantir que fico em organizações que meçam o meu desempenho com base em factos e no que eu concretizo”.
No final do ano passado, a gestora alertou para os danos à sua reputação com o despedimento por justa causa da TAP, entendendo que “jamais conseguirá voltar a ser uma gestora de topo em companhias aéreas de bandeira ou em companhias cotadas em bolsa” tendo aquela “mancha no currículo”.
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