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Como se vive sem água potável? A crise no Michigan que só a ‘emergência nacional’ pode resolver

A cidade que viu nascer a General Motors vive sem água potável desde 2014 e tem uma pergunta para Trump: porque razão não foi declarada ‘emergência nacional’ (a premissa para que seja construído o muro com o México) para um problema que pode ser fatal para os habitantes de Flint?
20 Fevereiro 2019, 19h12

A cidade de Flint, no estado do Michigan, nos EUA, está sem água potável desde 2014, diz o jornal ‘The Guardian’. A proclamada ‘crise aquífera de Flint’ teve início quando trocaram a fonte de água potável para o rio Flint, onde o tratamento insuficiente à água fez com que o chumbo consumisse os canos e expôs mais de cem mil habitantes a toxinas perigosas.

Em 2016, foi declarado estado de emergência federal e os habitantes foram instruídos a apenas a usar água engarrafa ou filtrada para usos pessoais e domésticos. Em 2017, a qualidade da água voltou a ser analisada e os níveis já eram aceitáveis, embora os moradores fossem aconselhados a não consumir até os tubos serem trocados na totalidade.

A polémica surgiu outra vez no fim-de-semana depois do presidente Donald Trump declarar estado de emergência nacional, de forma a obter fundos para a construção do muro que irá separar os EUA do México. Os cidadãos da cidade prejudicada revoltaram-se na rede social Twitter depois da declaração, afirmando que também merecem atenção para um caso que já se arrasta há mais de quatro anos.

A cidade que vive sem água potável levou o problema para a rede social, onde perguntam porque razão não foi declarada emergência nacional para a substituição dos canos que contêm toxinas que podem ser fatais.

O tratamento inadequado à água fez com que os cidadãos começassem a apresentar problemas de saúde, que foram ignorados e negligenciados pelo Governo, embora existissem queixas que a água apresentasse um cheiro e sabor desagradável e tivesse uma cor estranha. O consumo da água para usos pessoais começou a causar erupções cutâneas, perda de cabelo e comichão na pele, o que alertou as autoridades para um problema mais sério, 18 meses depois de surgirem as primeiras queixas.

Outros estudos revelados mais tarde, mostraram que a contaminação fazia com que o sangue dos habitantes da cidade apresentasse elevados níveis de chumbo, nomeadamente nas crianças. A comunidade de Flint, juntamente com médicos, cientistas, jornalistas e ativistas, conseguiram apontar culpas à má gestão realizada pelos governadores da cidade.

Ainda assim, antes de os cidadãos tornarem este problema público, o rio que corre no meio da cidade era alvo de descargas ilegais para diversas indústrias localizadas na zona. À medida que as indústrias se desenvolviam, o mesmo acontecia com a economia. A cidade que viu a General Motors nascer, viu-se envolvida num renascimento com um aumento da população, muitos empregados por esta indústria. Nos anos 80 o número de população residente sofreu uma queda, com muitos a abandonarem as casas devido ao aumento das importações automóveis e a subida do preço dos combustíveis. Foi assim que a população caiu para cem mil habitantes, na sua maioria afro-americanos, onde cerca de 45% vivem abaixo do limiar da pobreza.

Em 2011, os governadores da cidade viram que não tinham dinheiro e que tinham um déficit de 25 milhões de dólares (cerca de 22 milhões de euros), e a cidade ficou sob o controlo do Estado norte-americano. O agora ex-governador do Michigan, Richard Snyder, nomeou um gerente de emergência para reduzir os custos da cidade. Esta decisão tornou-se trágica quando em 2013 decidiram acabar com a tubulação da água tratada, uma prática com cinco décadas, a favor de uma alternativa mais barata: retirar água do rio Flint até ser construída uma nova linha até ao rio Huron.

No entanto, os canos que transportam água até casa dos habitantes não continha apenas chumbo. Entre junho de 2014 e outubro de 2015, 12 pessoas morreram e 87 pessoas ficaram gravemente doentes devido a um surto de legionella, causado pela água do rio. Ainda assim, a cidade piorou a situação quando a tentou melhorar ao colocar cloro na água, o que em quantidades elevadas contém químicos causadores de cancro.

O jornal ‘The Guardian’ avança que entre 1998 e 2016, o estado do Michigan terá desviado mais de 5,5 mil milhões de dólares (4.845 milhões de euros) em receitas tributárias para esconder buracos no próprio orçamento. Em 2016, Melissa Mays, residente e ativista, em conjunto com outros cidadãos, processou a cidade e os funcionários do Estado, de forma a obter uma fonte segura de água potável. Desde aí, a cidade começou a ser fornecida com garrafas de água para todas as suas atividades diárias.

 

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