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Elçim Sirek: “Portugal está a ficar para trás por continuar a adiar a faturação digital obrigatória”

Em entrevista ao JE, a vice-presidente de Vendas da Sovos na EMEA (Europa, Médio Oriente e África), Elçim Sirek, diz que Portugal é um país maduro no que diz respeito ao compliance fiscal. Mas o sucessivo adiamento da introdução da faturação digital obrigatória para PME está a atrasar o país de forma considerável.
27 Março 2024, 07h30

Há alguma particularidade no mercado português que outros mercados não têm? Ou é um mercado cinzento para a Sovos, parecido com a Espanha ou com a Grécia?
Não, não. Em primeiro lugar, Portugal é um dos nossos três centros de excelência. Portanto, isto é muito importante, a nível global, para a Sovos. Portugal é muito importante. E em Portugal, os regulamentos fiscais e o compliance estão num estado muito maduro. Vocês estão num ponto muito avançado em comparação com outros países europeus. Portugal está no top3 ou top2 dos países na EMEA (Europa, Médio Oriente e África) que foram pioneiros. É por isso que é muito importante a experiência que adquirimos em Portugal como empresa. E a experiência do cliente connosco é muito importante. Portugal tem sido um país líder do ponto de vista da regulamentação fiscal em toda a EMEA.

Diz então que Portugal tem sido muito competente na criação de regulamentação para cobrar impostos. É isso?
(Risos). Nós comprámos a PetaPilot e a Saphety em 2021. E atualmente temos 18.000 clientes em Portugal. Algumas são nacionais, outras são multinacionais globais. Temos PMEs e micro empresas também. O próprio governo em Portugal, bem como as empresas, estão a beneficiar de um mandato B2G (Business to Government). Isto é muito importante. As empresas privadas estão a beneficiar de uma solução de serviços de compliance digital. Isto é muito importante e, como disse, está a acontecer o mesmo a nível global. E vocês são um dos pioneiros na EMEA. Isso é bom não só para o governo, mas também para todas as empresas, para estarem em conformidade [com as regras], para mitigarem o risco de, num qualquer momento, não estarem em conformidade. E o que nós esperamos – e já estamos à espera há muito tempo – é o novo mandato: a faturação electrónica. Era suposto ser obrigatório já há alguns anos, sobretudo para o B2G e para os SMB (pequenas e médias companhias). Porque as grandes empresas já estão obrigadas a isso. Nos últimos anos, tivemos vários adiamentos.

Que razões foram invocadas para esses adiamentos?
Acreditamos que, em primeiro lugar, o governo pensa que as faturas em PDF são suficientes. Pode ser isso. Uma das razões pode ser que o governo acha que as imagens em PDF são suficientes para a transformação digital dos sistemas, dos processos de faturação das empresas. E também pode achar que o custo da faturação para algumas das pequenas empresas pode ser um factor a ter em conta. Esta pode ser uma segunda razão, especialmente para as PME e as micro empresas.

O que pensa a Sovos sobre isso?
O que nós acreditamos é que a faturação eletrónica não é uma mudança técnica. É mais do que isso. É uma oportunidade de otimizar a eficiência operacional nas empresas. E adiar… Bem, honestamente, pensamos que a sua adoção poderia evitar erros e problemas às empresas e ao governo. Não serão capazes de evitar alguns erros. Mais uma vez: a simplificação de processos para as empresas e para o governo, a simplificação das transações, é muito importante. E acreditamos que estes problemas estão a impactar negativamente os processos comerciais.

Nesse aspeto, Portugal está a ficar para trás? Estamos atrasados?
Sim, estão a ficar para trás.

Em relação a que países da Europa? Que Estados-membros da UE já adotaram essa medida da faturação digital obrigatória?
Já temos a Itália, o Reino Unido, a Turquia, a Roménia. A Polónia está neste momento a caminho. A França, por exemplo, é um Estado imaturo [nesta matéria]. 

A Sovos tem ideia do que as empresas portuguesas dizem sobre a introdução da faturação digital obrigatória?
Uma pesquisa global que encomendámos indica que 82% das empresas têm medo de, no futuro próximo, não conseguirem estar em conformidade com a regulamentação. Têm medo disso. E 90% receiam um aumento de custos associados ao cumprimento da regulamentação. Se fizermos a mesma investigação em Portugal, muito provavelmente o resultado será muito semelhante. Porque a pesquisa que foi feita para nós conta com fontes fiáveis, como a Bloomberg e a Accenture. As empresas estão preocupadas. Estamos numa era digital e, honestamente, empresa nenhuma tem tempo para ficar para trás da concorrência. A concorrência em todos os países, em todos os sectores, é super alta e as empresas estão a tentar sustentar as suas taxas de crescimento e manter-se lucrativas. A principal forma de o conseguir é usar os seus recursos, os seus orçamentos de forma muito eficiente e diminuir os custos através da transformação digital. 

Todos temos uma ideia do que é a fatura em PDF. Quais são as vantagens e características desta facturação electrónica?
A grande vantagem é a troca de dados entre entidades governamentais, empresas e o restante ecossistema. Portanto, não é apenas o aspeto visual da fatura. Os dados reais estão lá. E as empresas podem analisar os dados, as faturas que recebem, as contas a pagar e as transações de contas a receber. Por outro lado, o governo será capaz de auditá-las através das transações reais. E irá poupá-los do papel, de quaisquer riscos, incluindo auditorias repentinas etc. Portanto, são dados reais a fluir, com segurança, entre os sistemas governamentais e os sistemas das empresas, por meio de um provedor de soluções fiável, uma plataforma fiável. São servidores a conversar com servidores e é isso que já está a acontecer em Portugal, e em vários mercados, com as grandes empresas e com as empresas que são fornecedoras do Estado. Já funciona assim com as grandes.

O que está a mudar nesta área em 2024?
Nós servimos mais de 100.000 clientes; empresas em mais de 100 países. E isso inclui metade das empresas da Fortune500. Estamos contentes com isso, mas para 2024 queríamos mudar as regras do jogo, para o mercado e para nossos concorrentes. Por isso, lançámos a Sovos Tax Cloud no dia 20 de fevereiro. E isso foi muito importante, porque é a primeira e única solução do sector que unifica globalmente o Tax Compliance (compliance fiscal). É muito interessante e é muito importante. Não é apenas a tax compliance… debaixo do mesmo guarda-chuva está também o reporting aos reguladores.

A Sovos achou que estava a perder mercado por estar a apontar mais para empresas com grande capitalização? Grandes companhias?
Não, não. A questão é que nos últimos oito anos, a Sovos gastou cerca de duas centenas de milhões de dólares para construir esta Sovos Tax Cloud. Isto não aconteceu porque queríamos chegar a diferentes segmentos de clientes. Aconteceu porque queríamos mudar as regras do jogo no que diz respeito às soluções fiscais e aos prestadores de serviços. Este investimento integrou quase a totalidade das soluções ERP (Enterprise resource planning) das empresas que usam tecnologia de e-commerce. Portanto, tornámo-nos num ecossistema.

Então qual foi a razão?
A razão para entrar foi, como disse, que 82% das empresas acreditam que estão mais expostas aos riscos de compliance relacionado com impostos. São 82%, de acordo com a pesquisa da Bloomberg. E 90% das empresas esperam um grande aumento, uma grande subida nos seus custos para garantir compliance fiscal. E esta é uma pesquisa da Accenture. A indústria, os compradores, as empresas estão muito preocupados com as crescentes necessidades de compliance. Foi por isso que investimos nesta Sovos Tax Cloud.

O que permite este serviço?
Varia de país para país, de regulamentação para regulamentação. Nós temos 19 mil jurisdições, 19 mil diferentes áreas ou regiões de regulamentação tributária. Então, para todas as empresas de todos os segmentos há uma necessidade na sua jurisdição, no seu país. Algumas precisam de estar integradas na Cloud pública; algumas estão mais “embed” nos seus sistemas ERP, nos seus sistemas de compras, na integração com o comércio eletrónico, para garantir compliance fiscal. Não é apenas para um tipo de empresas. É uma solução que se adapta a todos os tamanhos de empresas de todos os setores, em 19.000 jurisdições e em mais de 100 países.

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