Em mudança significativa desde 2000, o Partido Republicano norte-amaericano passou a demonizar os seus ‘inimigos’ políticos e a encorajar a violência contra os seus opositores, adotando atitudes e táticas comparáveis às dos partidos nacionalistas que governam a Hungria, Índia, Polónia e Turquia. Esta mudança levou um forte impulsionada sob o comando de Donald Trump .
Em contraste, o partido democrata mudou pouco no seu apoio às normas democráticas e, a esse respeito, permaneceu semelhante aos partidos de centro-direita e centro-esquerda da Europa Ocidental. A sua principal mudança deu-se no plano da economia.
Estas são as duas grandes conclusões de um novo e muito alargado estudo realizado pelo Instituto V-Dem, da Universidade de Gotemburgo, Suécia, que usou métodos recentemente desenvolvidos para medir e quantificar a saúde das democracias mundiais num momento em que o autoritarismo está em alta.
Anna Lührmann, vice-diretora do V-Dem, disse, citada por vários jornais, que a transformação republicana foi “certamente a mudança mais dramática numa democracia estabelecida”, ficando provada pelo chamado ‘índice de iliberalismo’ que o próprio instituto criou e desenvolveu.
O estudo, publicado esta segunda-feira, mostra que o partido norte-americano seguiu uma trajetória semelhante ao Fidesz, que sob o húngaro Viktor Orbán evoluiu de um movimento jovem liberal para um partido autoritário que fez da Hungria a primeira não-democracia da União Europeia.
O Partido Bharatiya Janata (BJP) da Índia foi transformado de forma semelhante sob Narendra Modi, assim como o partido Justiça e Desenvolvimento (AKP) na Turquia sob Recep Tayyip Erdogan e o partido Lei e Justiça na Polónia. Sem esquecer o presidente russo, Vladimir Putin.
O Partido Republicano manteve-se relativamente comprometido com o pluralismo, mas percorreu um longo caminho no sentido de abandonar outras normas democráticas, tornando-se muito mais sujeito a desrespeitar os opositores e a encorajar a violência contra eles, refere o estudo.
“Vimos mudanças semelhantes em partidos noutros países onde a qualidade da democracia declinou nos últimos anos, onde a democracia está a desgastar-se”, disse Lührmann. “Isso encaixa muito bem no padrão de partidos que esquecer a democracia quando estão no poder”.
“A demonização dos opositores – esse é claramente um fator que mudou muito quando se trata do Partido Republicano, bem como o incentivo à violência política”, disse, acrescentando que a mudança foi impulsionada em grande parte a partir do topo da sua estrutura.
Na Europa Ocidental, partidos de centro-direita como a União Democrática Cristã da Alemanha e o Partido Popular da Espanha mantiveram o seu compromisso com as normas democráticas. Pela mesma medida, o Partido Conservador britânico avançou um pouco no mau sentido, mas não aos extremos dos republicanos.
“Os dados mostram que, em 2018, o Partido Republicano era muito mais anti-liberal do que quase todos os outros partidos de governo nas democracias”, concluiu o estudo V-Dem.
O instituto constatou que o declínio dos traços democráticos se acelerou em todo o mundo e que, pela primeira vez neste século, as autocracias são a maioria – detendo o poder em 92 países, onde vive 54% da população global. Quase 35% da população mundial, 2,6 mil milhões de pessoas, vive em nações que estão a tornar-se mais autocráticas.
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