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Eurodeputados pedem garantia de fornecimento de GNL dos EUA à Europa

Joe Biden suspendeu licenças de exportação do gás natural caseiro. A Europa – que substituiu a dependência da Rússia pela dos EUA – ficou imediatamente em alerta.
  • Vasily Fedosenko/Reuters
18 Abril 2024, 09h40

A possível chegada da Taga, empresa dos Emirados Árabes Unidos do sector energético, aos mercados europeus de gás natural, motivou uma tomada de posição de alguns parlamentares europeus numa altura em que as preocupações com o fornecimento de energia na Europa está no centro do debate.

Um grande grupo de parlamentares europeus de Itália, Alemanha, Reino Unido e Espanha enviou uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a que o jornal “El Economista” teve acesso, na qual destacam o importante papel dos Estados Unidos na garantia do fornecimento de gás (GNL) à Europa.

O Departamento de Segurança Nacional de Espanhateve oportunidade de, recentemente, alertar para o crescente interesse de empresas estrangeiras no capital de empresas espanholas estratégicas – como é o exemplo da Naturgy.

A recente decisão da administração norte-americana de suspender as licenças para instalações de GNL, indica o departamento, “poderá ter repercussões negativas significativas na segurança energética europeia nos próximos anos e décadas”.

Na carta, os eurodeputados escrevem que “o mundo ocidental não pode limitar-se a ficar de braços cruzados e a esperar que a nossa cooperação de hoje seja suficiente para o futuro. Não vai ser. Devemos planear com antecedência, expandir a nossa cooperação na energia e noutros campos e preparar-nos para os desafios do futuro.”

Por isso, alertam Biden para a evidência de que a decisão de suspensão “dará asas aos nossos adversários e àqueles que desejam dividir-nos. Pedimos que reconsiderem.”

A decisão dos Estados Unidos, tomada na passada sexta-feira, de suspender a aprovação de novas exportações de gás natural liquefeito não terá qualquer efeito sobre o fornecimento dos Estados Unidos à Europa nos próximos dois ou três anos, disse um membro da Comissão Europeia, depois de se reunir com autoridades norte-americanas.

“O que foi, naturalmente, muito importante para mim, foi a garantia de que, nos próximos dois ou três anos, não deve haver qualquer impacto no fornecimento de GNL dos Estados Unidos à Europa”, disse, citado pela agência Reuters,  o vice-presidente executivo da Comissão Europeia, Maros Sefcovic, numa reunião no Atlantic Council, em Washington.

A Rússia tem sido um grande fornecedor de petróleo e gás para a Europa, mas desde que Moscou invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022, a Europa passou por “uma das mudanças energéticas mais fundamentais desde a década de 1970”, disse Sefcovic. A Europa cortou as importações de gás russo de 150 mil milhões de metros cúbicos (bcm) para pouco mais de 40 bcm, graças em grande parte ao fornecimento de GNL norte-americano.

Os Estados Unidos devem ser capazes de acomodar a grande procura da Europa nos próximos anos, disse Sefcovic, acrescentando que a ordem de Biden contém uma cláusula de emergência caso os fornecimentos a aliados e parceiros fiquem em perigo.

Os Estados Unidos assumiram são o maior exportador de GNL do mundo pelo menos desde o ano passado e devem duplicar até 2030, com projetos já aprovados.

Ainda assim, Sefcovic disse que os Estados Unidos são agora o “garantidor global da segurança energética” e sua responsabilidade vai além da Europa. O Sudeste Asiático, a Índia, a América Latina e a África precisam de fornecimentos de gás para eliminar gradualmente a dependência do carvão. Países do Sudeste Asiático, bem como a Itália e a Alemanha, questionam o compromisso dos Estados Unidos com o fornecimento de GNL numa ótica de longo prazo.

Os congressistas norte-americanos que se opõem à suspensão de Biden estão a considerar a promoção de legislação que retire o poder do Departamento de Energia de aprovar as exportações e entregá-lo ao grupo independente da Comissão Federal de Regulamentação de Energia. A Casa Branca já disse que se opõe fortemente a essa eventual legislação, pois minaria a capacidade de garantir que a exportação de GNL seja “consistente com os nossos interesses económicos, de segurança energética, de política externa e ambientais”.

Neste contexto, fica evidente que a Europa se limitou, nestes dois anos, a substituir a dependência que mantinha com a Rússia por uma semelhante dependência dos Estados Unidos. Num quadro em que, como é do conhecimento geral, o Mediterrâneo é um interessante ponto para a prospeção de gás natural – como é também o Mar Negro.

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