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Europa respira de alívio: a Alemanha está de regresso

Será Martin Schulz o próximo ministro das Finanças? Se sim, isso será uma boa notícia para Mário Centeno? Talvez sim, talvez não!
  • Fabrizio Bensch/Reuters
1 Fevereiro 2018, 06h35

A União Europeia, a Comissão e a Zona Euro respiram de alívio: a chanceler Angela Merkel e aquele que parecia vir a ser o líder da oposição no parlamento nacional, Martin Schulz, acordaram em criar, ou mais propriamente em continuar, a grande coligação de centro – entre os democratas-cristãos da CDU (e os seus companheiros bávaros do costume, a CSU) e os social-democratas do SPD – que liderou o país nos últimos anos. Está assim ultrapassado um período ‘negro’ que já corre há mais de quatro meses, durante os quais o ‘motor da Europa’ permaneceu sem um governo legitimado pelos resultados das eleições de setembro passado.

Mas sobrevivem ainda muitas incógnitas – algumas delas de consumo mais interno – avultando no meio delas a eventualidade de Schulz querer impor a reserva, para si próprio, do lugar de ministro das Finanças, em substituição do ‘impositivo’ Wolfgang Schäuble – como chegou a avançar o jornal alemão “Handelsblatt”.

Se isso vier a suceder, será por certo uma boa notícia para o atual líder da Zona Euro, o português Mário Centeno, que partilha com o alemão uma ótica bem menos severa em relação à prática das imposições do Pacto de Estabilidade e Crescimento e das regras específicas que regeram o grupo da moeda única enquanto Schäuble foi a sua ‘eminência parda’.

Mas também neste ponto específico as incógnitas são muitas, uma vez que Martin Schulz, antigo presidente do parlamento europeu, considera fundamental que a Zona Euro evolua rapidamente para a criação de um orçamento e um ministro das Finanças único – lugar que com toda a certeza gostaria de ocupar.

Mas, quando Angela Merkel ‘regressar’ à Europa, algumas coisas mudaram nestes quatro meses de ‘falta de presença’ da Alemanha. A mais importante delas reside no facto de – primeiro de forma tímida, como que apalpando terreno, mas depois de maneira mais clara, o presidente francês, Emmanuel Macron ter ido ocupando um lugar de grande destaque em termos da diplomacia europeia.

De algum modo, Macron tem agido como se se tratasse de alguém investido dos poderes necessários e suficientes para gerir a pasta da diplomacia da União Europeia – algo que Federica Mogherini, a comissária encarregada dos assuntos externos, nunca sequer tentou.

O eixo Paris-Berlim tem-se preocupado em manifestar publicamente uma total coincidência de interesses em termos internacionais – coisa que Macron insiste em frisar sempre que pode – mas não é certo que a chanceler alemã esteja interessada em deixar o lugar mais alto dos palcos mundiais para o presidente francês.

Seja como for, é mesmo nas questões internas que a ‘ausência’ da Alemanha se tem feito sentir com maior evidência, aí avultando, entre outras pastas, a questão do Brexit. E, neste particular, os passos de Merkel voltam a baralhar-se com os de Macron: a realização de uma cimeira franco-britânica há alguns dias – um encontro tradicional semelhante às cimeiras luso-espanholas, a primeira entre o presidente francês e a primeira-ministra Theresa May – não se confinou aos assuntos que importam mais relevantemente aos dois países, mas resvalou para outras questões.

Genericamente, a França propõe-se passar a ser o parceiro privilegiado do Reino Unido no interior da União Europeia quando os britânicos já não forem de facto um dos países do agregado – o que de algum modo pode baralhar as crispadas e muito lentas negociações à mesa do Brexit.

De qualquer modo, e por muito que a correlação de forças tenha sido alterada nos últimos quatro meses, todos os países da União Europeia sabem quem o desenvolvimento do agregado ficaria ‘manco” sem uma Alemanha forte – pelo que todos aplaudem a continuação da grande aliança, por muito que ela seja desta vez constituída por dois partidos que demonstraram, em setembro passado, serem incapazes de manterem intocada a sua preponderância na sociedade germânica.

Artigo publicado na edição digital do Jornal Económico. Assine aqui para ter acesso aos nossos conteúdos em primeira mão

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