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Irão: derrube do avião ucraniano abre fissuras no regime

Protestos liderados por estudantes universitários de classe média e alta contra o acidente acusam o regime de mentir e esconder os seus próprios atos.
13 Janeiro 2020, 07h45

Ao longo do fim-de-semana, jovens iranianos manifestaram-se contra as autoridades devido ao derrube do voo PS752 da companhia Ucrânia International Airlines e à morte de todos os seus mais de 170 ocupantes. Os protestos, reprimidos pelas forças de segurança, abrem uma lacuna na imagem de unidade nacional que o regime tentou impor face ao confronto com os Estados Unidos pelo assassinato do general Qasem Soleimani, da Guarda Revolucionária.

As manifestações começaram no sábado e continuaram no domingo sob a forma de vigílias pelas 176 vítimas, mas rapidamente se transformaram num protesto contra as autoridades da República Islâmica, que foram rotuladas como “mentirosas” e que foram solicitadas a “renunciarem”. Durante os primeiros dias, Teerão sustentou que o avião foi derrubado devido a uma falha técnica, embora o informações e vídeos demonstrassem a hipótese de um acidente  devido a um erro humano.

“Manter em segredo o derrube do avião foi um ato estúpido. As pessoas que estavam naquele voo representaram o sonho iraniano: eram brilhantes investigados, académicos, pessoas ligadas às novas tecnologias, que haviam estudado nas melhores universidades do Irão e depois emigraram para o Canadá “ explica Kaveh Nematipour, exilado e analista iraniano, citado pelo jornal espanhol ‘El Pais’. “Os que estão nas ruas agora são estudantes universitários da classe média e alta que aspiram a fazer o mesmo e que agora acham que o regime demoliu o seu sonho”.

No domingo, a comunicação social ligada à oposição registou novos protestos em várias universidades em Teerão Isfahan, Arak e Damghan. Nos vídeos publicados nas redes sociais, dezenas de pessoas podem ser vistas – centenas em alguns casos – reunidas e cantando slogans como “abaixo a ditadura”, “guardiões Incompetentes da Revolução” e “assassinos do povo”.

Na Universidade Beheshti, em Teerão, os estudantes recusaram-se a passar por cima das bandeiras dos Estados Unidos e de Israel, pintadas permanentemente no chão para serem pisadas. No final da tarde, os protestos estenderam-se à Praça Azadi (Liberdade), em Teerão, onde foram entoados slogans contra a Guarda Revolucionária e o líder supremo, Ali Jamenei, até a polícia dispersar os manifestantes à força.

“Os eventos dos últimos dois meses são uma manifestação da ineficácia do sistema de governo iraniano, um sistema cuja única resposta a qualquer crise é a repressão”, denunciaram os estudantes da Universidade Amirkabir, de Teerão.

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