O antigo líder da Comissão Europeia criticou a possibilidade de a Ucrânia entrar na União Europeia (UE) por considerar que o país sofre bastante com a “corrupção”.
“Alguém que tenha lidado com a Ucrânia sabe que este é um país corrupto em todos os níveis da sociedade. Apesar dos seus esforços, não está preparado para a adesão, precisa de reformas internas massivas”, disse Jean-Claude Juncker em entrevista esta semana com o jornal alemão “Augsburger Allegemeine”, citado pelo “Politico”.
Fazer “falsas promessas” aos ucranianos sobre a adesão à UE “não seria bom nem para a Ucrânia nem para a UE”, acrescentou o ex-líder comunitário entre 2014 e 2019.
“Não devem fazer falsas promessas às pessoas na Ucrânia que já estão a sofrer bastante. Estou muito chateado com algumas pessoas na Europa que dizem aos ucranianos que podem tornar-se membros imediatamente”, afirmou.
A Ucrânia tem estado a tentar acelerar a sua adesão tanto à União Europeia como à NATO após o início da invasão russa em fevereiro de 2022.
Um relatório do Governo norte-americano divulgado em fevereiro deste ano pela “CNN” expôs as preocupações de Washington com a “percepção de corrupção ao alto nível” no país, o que pode vir a minar a “confiança dos ucranianos e dos líderes estrangeiros no Governo” ucraniano liderado por Volodymyr Zelensky.
A Estratégia Integrada para o País defende também que o ensino de inglês chegue a mais ucranianos, e que os militares do país adoptem os protocolos da NATO, segundo o documento citado pelo “Politico”, destacando que as partes mais duras do relatório ficaram guardadas para a versão confidencial.
O fim do domínio por oligarcas “em particular dos sectores da energia e mineiro, é essencial para construir uma Ucrânia melhor, segundo o documento, destacando que o Governo de Kiev apoia “reformas significativas na descentralização do controlo do sector da energia”.
No sector financeiro, o documento defende o “aumento de empréstimos para encorajar a expansão dos negócios”, defendendo também uma redução do papel do Estado na banca. Neste sentido, defende a privatização do Sense Bank, que era detido por russos, mas foi nacionalizado por Kiev.
Vários casos de corrupção têm sido revelados pelos meios ucranianos. A plataforma online Nashi Groshi expôs os contratos generosos do ministério da Defesa ucraniano: 46 cêntimos por ovos que deveriam custar cinco cêntimos, ou 86 dólares por casacos de inverno com o preço de 29 dólares, segundo o “New York Times”. Volodymyr Zelensky acabou por afastar o ministro da Defesa Oleksii Reznikov, que foi afetado pelo escândalo, apesar de não estar pessoalmente implicado.
Outra plataforma, a Bihus, expôs os carros e as férias de luxo de políticos desde a invasão. Um desses casos foi o de Aline Levchenko, mulher do deputado Bohdan Torokhty, que partilhou as suas férias de luxo na Europa e no Médio Oriente logo após o início da invasão pela Rússia, enquanto os seus compatriotas tentavam repelir o ataque russo. Ao mesmo tempo, foi contratada como conselheira para a Antonov, a fabricante estatal de aeronaves, apesar de não ter experiência no sector da aviação.
Noutra frente, milhares de ucranianos assinaram uma petição a pedir ao presidente Zelensky que aprovasse legislação para os políticos voltarem a apresentar as declarações de rendimentos, uma obrigação suspensa desde o início da invasão.
“As declarações de rendimentos ajudaram a expor a corrupção ao mais alto nível” e os legisladores querem “manter as fortunas de guerra em segredo para ficarem absolvidos de crimes”, segundo Vitalli Shabunin da ONG Centro de Ação Anti-Corrupção em Kiev, citado pelo “NYT).
Os ucranianos têm noção do que se passa à sua volta. A corrupção é considerado o segundo maior problema do país (89% dos inquiridos assim o disseram), apenas atrás da invasão, segundo um inquérito do USAID/ENGAGE. A corrupção dos políticos é considerada a mais séria (81% dos inquiridos).
A Ucrânia é considerado o segundo país mais corrupto da Europa, somente atrás da invasora Rússia, segundo o ranking da Transparência Internacional, que agrega vários estudos internacionais.
O documento destaca a suspensão dos partidos políticos de submeterem relatórios financeiros, entre outros, à avaliação da Agência Nacional de Prevenção de Corrupção (NACP). A falta de reformas no sector da justiça, assim como no Ministério Público e nas agências policiais também são consideradas uma ameaça à estabilidade dos órgãos anti-corrupção. Outro dos problemas são: nepotismo, as cunhas para arranjar empregos, o financiamento secreto de partidos, e ligações suspeitas entre o mundo dos negócios e os políticos.
A justiça na Ucrânia tem atuado. Um juiz do Supremo Tribunal foi preso em maio acusado de corrupção. Outro juiz em junho foi condenado a 10 anos de prisão por corrupção. Já o oligarca Ihor Kolomoisky foi preso em setembro dois anos depois de o Departamento de Justiça dos EUA ter acusado-o de desviar milhares de milhões de dólares de um banco privado ucraniano detido por si e lavado o dinheiro ao comprar imobiliário em várias cidades norte-americanas.
A partir de Washington aumenta a pressão sobre Kiev e Zelensky para a importância do combate à corrupção. Os EUA já contribuíram com 23 mil milhões de dólares para apoiar a Ucrânia, e não inclui os gastos militares.
“A mensagem para os ucranianos tem sido sempre, se alguns destes fundos forem desviados, isso coloca em risco o apoio dos EUA ao país”, disse recentemente um membro do Governo norte-americano à “CNN”.
A pressão sobre o apoio dos EUA à Ucrânia aumenta. Apesar do apoio de Joe Biden, alguns candidatos às primárias republicanas têm mostrado dúvidas sobre este apoio, incluindo Donald Trump.
Taguspark
Ed. Tecnologia IV
Av. Prof. Dr. Cavaco Silva, 71
2740-257 Porto Salvo
online@medianove.com