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Portugal corre risco de “desvantagem competitiva” na Europa sem investimento público no 5G, alerta CEO da Ericsson

Andrés Vicente, CEO da Ericsson Iberia, analisou as verbas destinadas ao investimento no 5G (que constam nos Planos de Recuperação e Resiliência) e considera que Portugal corre o risco de partir atrás na transição digital europeia. “Tal não será suficiente para aproveitar todo o potencial do 5G e pode abrir uma desvantagem competitiva com outros países”, disse ao JE.
  • Cristina Bernardo
29 Setembro 2022, 17h50

Portugal corre o risco de ter uma “desvantagem competitiva” na Europa se não for feito um amplo investimento na implementação da tecnologia 5G. Em entrevista ao Jornal Económico (JE), Andrés Vicente, CEO da Ericsson Iberia, lançou este alerta tendo em conta aquelas que são as verbas previstas para a transição digital em Portugal e nos outros países europeus no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Se em Portugal o PRR destina uma verba para transição digital de 2,4 mil milhões de euros, no caso de Espanha é canalizada uma verba específica para o 5G na ordem dos 2,6 mil milhões de euros e em Itália, para a mesma finalidade, está inscrito um montante de 2 mil milhões de euros.

“Ao contrário de outras economias europeias, Portugal não colocou o 5G como vetor independente do PRR”, lamentou este responsável no âmbito da iniciativa Imagine Live que decorreu em Lisboa (que visa juntar parceiros e colaboradores em torno do universo tecnológico e estratégico da marca).

Este responsável lembra que, “embora a implantação do 5G possa estar indiretamente associada aos investimentos em digitalização, no entanto, e salvo algumas exceções (como a atual licitação para a rede nacional de bancos de teste), vemos que, no geral, o 5G não é considerado diretamente como investimento alvo, em especial para o cabal cumprimento das recomendações da UE quanto a uma ampla cobertura 5G. Isto, porque atualmente cabe ao sector privado a responsabilidade de providenciar os investimentos em cobertura 5G em todo o país”.

E é aqui que Andrés Vicente aponta uma “desvantagem competitiva” a Portugal: “Tal não será suficiente para aproveitar todo o potencial do 5G e pode abrir uma desvantagem competitiva com outros países, onde vemos maiores investimentos públicos diretos em infraestruturas 5G. Desde logo, porque é crucial alocar um investimento adicional para a introdução do 5G em diferentes sectores, como Indústria 4.0 ou portos, etc. Mas também para garantir uma boa cobertura 5G (banda baixa e banda média) em todo o país, de forma a aumentar a coesão de território, para além de potenciar a digitalização em infraestruturas-chave, como as autoestradas e ferrovias”.

Uma Europa, duas realidades

Quando falamos da sensibilidade das empresas para a transição digital através do 5G, existem, no entender de Andrés Vicente, “duas realidades distintas” a nível europeu: “A das grandes empresas que têm boa capacidade de investimento, estão inseridas num ecossistema mais globalizado, e que replicam soluções tecnológicas que são implementadas noutros continentes (a Ford implementou o 5G nas suas fábricas nos EUA e já está a fazê-lo em Espanha também porque percebem o benefício). Depois temos a realidade do mercado no sul da Europa que é sobretudo constituído por Pequenas e Médias Empresas (PME)”.

Sendo o tecido económico português constituído sobretudo por PME, como pode essa sensibilização ganhar escala num contexto em que as empresas vão encarar um cenário macroeconómico cada vez mais difícil? O CEO da Ericsson Iberia acredita que “é aqui que acredito que o sector público pode ter um papel importante e que possa ajudar a que exista a capacidade de investir em tecnologia. Se não for assim, pode acontecer um pequeno colapso até porque é neste campo que a administração pública deve estimular a economia. Por outro lado, o ecossistema digital existente está melhor preparado para acolher esta mudança até para a relação custo/benefício da tecnologia 5G”.

Ciberataques podem atingir energia e aeroportos

Os próximos anos podem trazer uma profusão de ciberataques que podem ganhar uma nova escala. E, se atualmente assistimos, numa base quase diária, a ataques cibernéticos com uma linha de atuação com alguma previsibilidade, esse perfil pode mudar em breve. Essa foi a convicção deixada ao JE por Andrés Vicente.

“Há um terceiro elemento que está relacionado com a segurança das redes e sobretudo dos sistemas integrados de abastecimento de água, de energia, transportes; o que estamos a ver é que os ciberataques podem alastrar-se para áreas onde possam provocar a amplificação do efeito: distribuição de energia, educação, aeroportos”, alertou este responsável.

E que solução pode ser equacionada? “Tem que haver autonomia das empresas que fornecem este tipo de tecnologia e nisto Portugal está atrasado em relação a outros países europeus, porque a adoção massiva do 5G implica que exista essa autonomia”, defende.

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