[weglot_switcher]

“Ser solidário tem outro sabor”. Pingo Doce testa negócio social num dos maiores supermercados

O novo projeto de empreendedorismo social da Jerónimo Martins contempla as instituições Casa de Santo António e Semear Mercearia, que terão os seus bens alimentares à venda no supermercado de Telheiras. “Se correr bem, quando formos reavaliar este projeto, em janeiro, iremos alargar a outras lojas e a outras instituições locais”, disse a diretora-geral do Pingo Doce, Isabel Ferreira Pinto, ao Jornal Económico.
11 Outubro 2018, 17h44

Os clientes do Pingo Doce de Telheiras podem, a partir desta quinta-feira, encher os carrinhos de compras com produtos artesanais de uma nova bancada solidária: o Mercado Social. A Jerónimo Martins quer dar voz (ou espaço e prateleiras de supermercado) a associações que confecionam bens alimentares de forma tradicional e vai disponibilizar, pelo menos, até dezembro, num espaço criado para o efeito sob o slogan “Ser solidário tem outro sabor”.

Bolachas de manteiga, biscoitos de queijo, compotas, pasta de azeitona, doce de tomate, batatas fritas ou azeite são alguns dos produtos que fazem parte do catálogo, a cargo da Casa de Santo António e da Semear Mercearia, Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) da zona de Lisboa.

A receita das vendas reverte exclusivamente para as duas associações, sem contrapartida financeira para o Pingo Doce, garante a empresa. O objetivo é que esta iniciativa se torne um negócio sustentável – ou seja, se os consumidores gostarem dos produtos, estes mesmos farão, mais tarde, parte do sortido de loja.

A diretora-geral do Pingo Doce disse ao Jornal Económico que o apoio que a empresa deu às associações durante esse processo foi apenas técnico. “Ambas já tinham espírito de iniciativa, indo a vários mercados vender e tendo mercearias nas próprias instituições [com as quais a retalhista já trabalhava há vários anos]. O que fizemos foi escolhê-las e dar-lhes a hipótese de estar aqui neste local de destaque. O lucro do Pingo Doce é nulo”, explicou Isabel Ferreira Pinto.

Em declarações ao semanário, a responsável pela cadeia de supermercados frisou que o Mercado Social é “um projeto piloto e inovador de sustentabilidade social”. “Se correr bem, quando formos reavaliar este projeto, em janeiro, iremos alargar a outras lojas e a outras instituições locais”, afirmou.

Na apresentação do projeto de empreendedorismo social à imprensa, que se realizou esta manhã, a porta-voz da Jerónimo Martins assegurou que o mercado social significa o reforço do investimento na comunidade que a empresa tem vindo a fazer ao longo dos anos.

“Não há que ter medo de falar de negócio social”

As duas IPSS fazem parte do universo de 600 associações que o grupo liderado por Pedro Soares dos Santos já apoia anualmente. Ao terem a oportunidade de expor e vender os seus produtos num dos maiores supermercados Pingo Doce em Portugal, pretendem crescer e provar o seu valor e distanciar-se da imagem de caridade, impondo-se enquanto empresa com o ‘empurrão’ da Jerónimo Martins. Para as organizações é uma oportunidade por estarem expostas a um elevado número de clientes. Só este ano, na loja de Telheiras, a marca Pingo Doce registou uma média mensal de cerca de duas mil unidades vendidas de batata frita palha e uma centena de embalagens de doce tomate.

A presidente da associação Banco de Informação de Pais para Pais (BIPP) considera que este projeto vem dignificar o que de melhor a IPSS faz, trazer ao consumidor a qualidade que as pessoas que lá trabalham têm e levar-lhes produtos que podem competir com outros do mercado. “Estes produtos têm associado a eles uma causa social mas têm igual valor. Investimos neles como investe outra malta qualquer. Queremos mudar mentalidades e que as pessoas comprem não por caridade mas sim considerando o valor que ali está”, salienta Joana Santiago. “Não é preciso ter medo de falar de negócio social”, acrescentou.

Mafalda Simões Coelho, da direção da Casa de Santo António, tem uma meta clara: que futuramente a Casa dos Sabores sustente por completo a instituição-mãe. “Sinto-me com uma responsabilidade enorme em dar este passo mas tenho muita confiança porque confio nos meus produtos, que são artesanais. A Casa dos Sabores é uma empresa que tem como patrão as mães que ajudamos. É para elas que trabalhamos”, confessa aos jornalistas.

Quem são estas instituições?

A Casa de Protecção e Amparo de Santo António já apoiou 2.700 mães adolescentes desprotegidas desde que foi fundada, em 1931. Uma das três valências desta instituição é a Casa dos Sabores, que desenvolve a sua atividade na área de restauração, venda de refeições tradicionais e serviços de take away e catering. A Casa de Santo António tem inclusive bar cujos bens alimentares estão ao seu encargo no Ministério dos Negócios Estrangeiros e no Bankinter.

A Semear Mercearia foi a empresa que nasceu da BIPP, destinada a auxiliar pessoas com deficiência através de programas de exploração agrícola, preparação e venda de produtos alimentares artesanais. Com a participação nesta cadeia de valor pretende-se combater o desperdício alimentar – o produtor disponibiliza o excesso de produção – e a (re)inserir os jovens e adultos no mercado de trabalho. Entre 2014 e 2018 a associação já integrou 23 no mundo profissional.

 

 

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.