[weglot_switcher]

Ucrânia: questão dos cereais cria conflito com a Polónia

O país que esteve na linha da frente do apoio à Ucrânia desde 24 de fevereiro de 2022 deixou de fornecer armas à Ucrânia. A versão oficial é que a Polónia quer investir no seu próprio exército.
21 Setembro 2023, 09h35

O primeiro-ministro polaco revelou que o seu país deixou de fornecer armas a Kiev, para se concentrar no seu próprio armamento, horas depois das palavras do presidente ucraniano sobre o veto de cereais da Ucrânia.

“Já não transferimos armas para a Ucrânia, porque nos armamos com as armas mais modernas”, disse Mateusz Morawiecki quando questionado sobre o apoio militar e humanitário da Polónia à Ucrânia.

A inesperada decisão resulta das complicações decorrentes da decisão da União Europeia de voltar a permitir a entrada dos cereais ucranianos no espaço dos 27. Os cereais entram na União sem terem de pagar pautas aduaneiras – o que implica uma concorrência que os países produtores do bloco consideram desleal. Foi nesse quadro que a Polónia mas também a Bulgária, Grécia, Hungria e Eslováquia exigiram que a União revisse a sua posição face aos cereais oriundos da Ucrânia.

O primeiro-ministro polaco não esclareceu quando a Polónia, que é um dos maiores fornecedores de armas da Ucrânia desde a primeira hora, deixou de fornecê-las, nem se a decisão teve a ver com o conflito em torno dos cereais ucranianos.

“Estamos principalmente concentrados na modernização e no armamento rápido do Exército polaco, para que se torne um dos exércitos terrestres mais poderosos da Europa, e num espaço de tempo muito curto”, apontou. Mas os analistas tendem a não acreditar: uma decisão estratégica em torno do armamento do país não se toma no meio de um conflito num país vizinho. E a coincidência com a questão dos cereais não deixa grande espaço para outras explicações.

Mateusz Morawiecki destacou que o centro militar localizado na cidade de Rzeszow, no sudeste do país, por onde passam equipamentos ocidentais destinados à Ucrânia, está a funcionar normalmente. Ou seja, a Polónia continua a permitir o trânsito pelo seu país de armas dos aliados para a Ucrânia. De qualquer modo, a decisão é tanto mais estranha quanto é certo que a Polónia esteve desde sempre na linha da frente do fornecimento de armas – a pontos de ter de ser chamada a atenção quando, à revelia dos Estados Unidos, colocou a hipótese de enviar os seus caças F-16 para a Ucrânia à revelia dos contratos que firmou com os seus fornecedores e contra a vontade da União Europeia.

Na sequência da decisão, as autoridades polacas convocaram o embaixador ucraniano em Varsóvia, Vasil Zvarich, em protesto contra as palavras de Volodymyr Zelensky, sobre o veto de cereais da Ucrânia, numa escalada de críticas entre os dois países.

Segundo as agências internacionais, o Ministério dos Negócios Estrangeiros indicou que o seu objetivo é responder às palavras de Zelensky, que afirmou durante a sua visita a Nova Iorque para estar presente na 78ª Assembleia-Geral das Nações Unidas que “alguns países estão a ajudar a preparar um palco para o surgimento de um ator de Moscovo”.

Em resposta, Mateusz Morawiecki ameaçou em declarações ao canal polaco Polsa adicionar mais produtos à lista de importações ucranianas bloqueadas se Kiev “intensificar o conflito” sobre esta questão. O chefe do executivo polaco publicou um vídeo nas suas redes sociais em que recordou que o seu país “foi o primeiro a fazer muito pela Ucrânia” e por isso espera que os seus interesses sejam compreendidos e promete defendê-los “com toda a determinação”.

O assunto já tinha dado mostras de ser suficiente para gerar controvérsia. Quando a Polónia, Hungria e Eslováquia decidiram prorrogar unilateralmente a proibição de importação de produtos agroalimentares da Ucrânia até pelo menos ao final do ano, indo contra a decisão de Bruxelas, a Ucrânia apresentou uma queixa à Organização Mundial do Comércio (OMC).

Morawiecki disse, comentando o assunto, que isso “significa que alguém, neste caso o lado ucraniano, não compreende a desestabilização que provoca a entrada de produtos ucranianos no mercado agrícola polaco.

RELACIONADO
Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.