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Maria José Morgado: “O país perdeu um bocado o sentido ser de esquerda ou ser de direita”

Numa entrevista ao jornal “Público”, a procuradora recorda os seus tempos de revolução e confessa ter ficado contente pela extrema-esquerda não ter conseguido fazer a revolução: “éramos doidos e só fazíamos disparates”.
19 Julho 2018, 11h08

A procuradora distrital da comarca de Lisboa, Maria José Morgado, acredita que o espetro político se alterou nos últimos anos e se foi perdendo a noção do que significa ser de esquerda ou ser de direita. Numa entrevista intimista ao jornal “Público”, a procuradora recorda os seus tempos de revolução e confessa ter ficado contente pela extrema-esquerda não ter conseguido fazer a revolução: “éramos doidos e só fazíamos disparates”.

“No país, perdeu um bocado o sentido ser de esquerda ou ser de direita”, afirma Maria José Morgado. “Acho que se calhar tem mais sentido ser honesto, defender interesses de transparência e de integridade que às vezes não têm a ver com ser de esquerda ou ser de direita. Há gente de esquerda que não tem princípios de integridade e transparência e há gente de direita que tem”.

Maria José Morgado recorda aos seus tempos de aliança à extrema-esquerda como “uma loucura”. “Era uma jovem radicalizada. Eu estava na faculdade [de Direito de Lisboa] e o movimento estudantil naquele tempo era muito ativo. Pensei, ou estou do lado do fascismo ou do lado da Associação de Estudantes, que era onde estavam os antifascistas”, conta.

A procuradora distrital da comarca de Lisboa considera que, na altura, era evidente situar-se politicamente e socialmente. “Estou do lado dos bons ou dos maus? Os fascistas eram os maus, a ditadura, a opressão, a guerra colonial. Os outros eram os que queriam libertar o povo e fazer a revolução. Eu queria a revolução. Para mim não havia dúvidas, era um mundo a preto e branco”, afirma.

“Seria mais difícil tomar posição se fosse agora. E corria os riscos que fossem necessários para ir para o lado da revolução. Era a minha luta, ia travá-la. Ainda bem que não fizemos a revolução, porque éramos completamente doidos e só faríamos disparates”, acrescenta.

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