[weglot_switcher]

Governo português vai chumbar proposta de Bruxelas para reduzir consumo de gás natural (com áudio)

Lisboa vai chumbar a proposta apresentada pela Comissão Europeia no próximo conselho europeu que vai ter lugar a 26 de julho, para debater e votar as medidas de Bruxelas. “O Governo português entende que essa proposta é totalmente desadequada face à realidade portuguesa”, segundo o secretário de Estado da Energia.
21 Julho 2022, 06h53

Portugal vai chumbar a proposta de Bruxelas para reduzir o consumo de gás natural nos estados-membros no próximo inverno. Este chumbo de Lisboa vai ser apresentado aos parceiros no conselho europeu da próxima semana, a 26 de julho, onde será debatido e votada a proposta apresentada pela Comissão Europeia para os países da UE reduzirem em 15% o consumo de gás no próximo inverno voluntariamente. Mas a proposta também prevê um corte obrigatório de 15% do gás natural, se se verificar que falta gás noutros países.

“Esse plano seja na versão voluntária ou na versão obrigatória é manifestamente desadequado da realidade portuguesa e é por essa razão que o Governo português esta completamente contra esta proposta da Comissão Europeia e irá opor-se”, disse ao JE o secretário de Estado da Energia.

No conselho europeu, basta apenas um país opor-se às medidas para as mesmas não avançarem. E, contadas as espingardas, neste momento tanto Portugal como Espanha opõem-se a este plano. Resta saber agora como é que a Comissão Europeia vai descalçar a bota depois da frente ibérica mostrar o seu desagrado com as medidas de Ursula von der Leyen.

“O Governo português entende que essa proposta é totalmente desadequada face à realidade portuguesa. Ou seja, esta é uma proposta feita, pensada, delineada para países interligados, porque só nestes países é que a poupança de um consumidor se traduz em mais gás para outros consumidores noutros mercados”, sublinha João Galamba.

“Num sistema não interligado, um consumidor ao poupar mais 10% ou 15% não vai estar disponibilizar este gás a outro consumidor; estou apenas a reduzir o consumo. Num país não-interligado, para o gás ficar disponível, tem que se organizar o transporte, que não existe, para outros países. Neste sentido, não tem em conta a realidade portuguesa”, afirma.

O responsável também destaca que a proposta também não tem em conta a realidade portuguesa noutro ponto. “Este ano tivemos um aumento de 67% do volume de gás face à média histórica dos últimos cinco anos só para consumo de eletricidade. Este ano, estaríamos a consumir mais 1,5 BCM [mil milhões de metros cúbicos]só para produção de eletricidade. Isto são consumos de gás que se revelaram necessários para garantir a segurança de abastecimento em termos de eletricidade”.

“Se tivéssemos que reduzir 15% face à média histórica do últimos cinco anos, teríamos que anular o aumento deste ano, mais 15% da média histórica, tínhamos que reduzir o consumo de gás em dois BCM, o que equivaleria a quase 40% do nosso consumo histórico. Isso é impossível para qualquer país, mas ainda mais para um país que não depende do gás para aquecimento doméstico”, acrescenta.

O governante dá o exemplo de países do norte da Europa onde 40% a 50% do gás natural consumido serve para aquecer lares ou outros edifícios, face aos 10% de Portugal. “Há uma medida muito fácil de redução de consumo de gás: baixar o termostato, um, dois ou três graus, de 23 graus para 21 graus. E isso poupa uma catrefada de gás Ora, não há termostato na indústria e na eletricidade: ou há gás ou não há gás”.

“A quantidade de metros cúbicos de gás para produzir X gigawatts de eletricidade é um rácio técnico. A única maneira de poupar gás é produzir menos eletricidade, mas se queremos produzir mais eletricidade se temos a maior seca dos últimos 100/90 anos, torna-se evidente que essa redução de consumo é manifestamente impossível, assume um caracter radicalmente diferente do que outros países podem fazer ao baixar o termostato. É muito mais fácil diminuir o consumo de gás baixando um pouco a temperatura e o conforto das famílias; é impossível baixar o consumo de gás para a industria ou eletricidade sem haver cortes”, defende.

João Galamba garante que o Governo está disposto a ser solidário com os outros países europeus através do uso do porto de Sines como ponto de transshipment: os navios metaneiros descarregam gás em Sines e navios mais pequenos e mais rápidos transportam esse gás para o norte da Europa.

“Queremos ser solidários com os outros países europeus, apostando no transhipment a partir de Sines e temos as infraestruturas disponíveis para ajudar os outros países europeus e queremos acelerar as renováveis para depender menos do gás na produção de eletricidade. Quando este plano não tem de todo em conta a realidade portuguesa e seria desastroso se fosse aplicado, o Governo português não apoia e irá opor-se”, explica.

Questionado sobre um regresso das centrais a carvão, o governante rejeita essa possibilidade. “Não está em cima da mesa, a abertura da cascata do Tâmega esta semana torna completamente obsoleto todos os debates sobre a reabertura de centrais a carvão, seria apenas uma forma de onerar mais os consumidores portugueses sem nenhuma vantagem. Não há nenhum país que tenha reaberto centrais a carvão a não ser os que tiveram ruturas físicas no fornecimento de gás, o que não aconteceu com Portugal”.

 

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.