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Livro: “Diários de Viagem”

Walter Benjamin deixou-nos uma obra filosófica de uma impressionante atualidade, sendo precisamente ao reino da filosofia que associamos o seu nome. Mas, no seu diário, confessa ser este o primeiro dos três maiores desejos da sua vida: viajar.
14 Maio 2022, 09h57

“Nas ruas vendem-se ramos de flores de Ano Novo. Ao passar pela Praça Strastnaia, vi um homem com longas varas na mão, cheias de flores coladas a toda a altura, verdes, brancas, azuis, vermelhas, para cada ramo uma cor. Gostava de escrever sobre as ‘flores’ de Moscovo, e não apenas sobre as heróicas rosas de Natal, mas também sobre as malvas-rosas dos abat-jours que os vendedores exibem orgulhosamente por toda a cidade.”

 

 

Walter Benjamin é um nome que automaticamente associamos à filosofia, mas não às viagens. Contudo, no seu diário confessaria ser este o primeiro dos três maiores desejos da sua vida.

Da viagem a Itália, em 1912, à derradeira viagem na fronteira franco-espanhola, passando pelo exílio provocado pelo nazismo, Benjamin deambulará pelos quatro pontos cardeais da Europa – Itália e França, Noruega e Dinamarca, Riga e Moscovo e Ibiza – deixando registo dos lugares e do espírito que a este preside, numa escrita diarística que vai para além das meras informação e descrição e, também, ao que se convencionou chamar ‘literatura de viagens’ na tradição alemã desde Goethe.

Na introdução de João Barrento, que edita e traduz este livro para a Assírio & Alvim, podemos ler que estes “Diários de Viagem” são o substrato biográfico, material e existencial da escrita de Benjamin, “juntamente com a correspondência que os acompanha, documentos importantes para conhecer melhor este pensador sem casa que viveu e escreveu em estado permanente de viagem, ou de exílio, não apenas como circunstância imposta de fora (como aconteceria nos anos trinta), mas como condição necessária, a do apelo do longe e do diferente que alimenta as derivas da vida e do pensamento, num movimento centrífugo constante, a partir da Berlim natal.”

Walter Benjamin nasceu em Berlim em 1892, no seio de uma família judaica. Estudou Filosofia em Berlim, Munique e Freiburg e doutorou-se em Berna, na Suíça, em 1919.

A ascensão de Hitler ao poder obrigou-o a fugir, logo em 1933. Desde aí, viveu sobretudo em Paris, com passagens por Itália e Espanha. O medo de ser entregue à Gestapo e as dificuldades em passar a fronteira entre França e Espanha conduziram-no ao suicídio em 1940.

Como legado deixou-nos uma obra filosófica de uma impressionante atualidade, onde se cruzam os assuntos que tentava compreender e estudar – História, Modernidade, Arte, Tecnologia, Literatura dos séculos XIX e XX, e a ascensão da cultura de massas. Mas também numerosas traduções e análises literárias a Baudelaire, Brecht, Hölderlin, Kafka e Proust.

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