O ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa de Cabo Verde, que terminou sábado a primeira visita oficial a Lisboa, disse que ouviu de Portugal abertura para negociar a dívida do país, com conversão de uma parte em investimentos.
“Lançamos as bases para olharmos para a dívida no seu todo e sobre as condições da nossa dívida. Não só quanto a um perdão da dívida, que está na ordem do dia junto de organizações internacionais e nas relações entre os países, mas também na conversão da dívida em investimentos importantes, para enfrentarmos este período no pós-covid”, afirmou em entrevista à Lusa o chefe da diplomacia cabo-verdiana.
Assim, ficou decidido que os Ministérios das Finanças de Portugal e de Cabo Verde vão agora estudar e apresentar, “brevemente”, uma proposta para reconversão de parte da dívida do país africano ao Estado e à banca portugueses, em investimentos com a participação de empresas portuguesas.
Rui Figueiredo Soares salientou que sentiu grande abertura por parte do seu homólogo, Augusto Santos Silva, e do primeiro-ministro português, António Costa, dois dos governantes com os quais se reuniu na quarta-feira.
Cabo Verde já vinha a defender uma “reconversão” da dívida de 600 milhões de euros a Portugal em “investimentos estratégicos” no arquipélago, em “condições” que fossem “do interesse” de ambos os países.
Agora, “da parte do Governo português recebemos a maior abertura para que os nossos Ministérios das Finanças analisem a dívida cabo-verdiana e façam propostas sobre como uma boa parte dessa dívida seja convertida em investimentos de fundo, que interessam, e também com a participação de empresas portuguesas, e de serviços portugueses”, adiantou.
Para o chefe da diplomacia de Cabo Verde a possibilidade de participação de empresas portuguesas nos investimentos de fundo no seu país será “importante também para o relançamento da economia no próprio país credor, que é Portugal”.
Entre os investimentos que podem ser concretizados neste plano, Rui Figueiredo Soares apontou como exemplo alguns na área da saúde, como um novo hospital na capital cabo-verdiana, a cidade da Praia, bem como outros nos setores da economia azul e economia digital.
“Brevemente” serão apresentadas propostas, “porque o tempo urge. Com a Covid-19 tudo é urgente. E esta é uma matéria urgente que tem a ver com o relançamento da economia”, realçou o ministro dos Negócios Estrangeiros cabo-verdiano.
Quanto ao montante total da dívida de Cabo Verde a Portugal, o membro do novo executivo cabo-verdiano preferiu não especificar: “Os números exatos estão a ser contabilizados”, até porque “temos dívidas com a banca portuguesa e o pacote está a ser analisado em conjunto”.
Rui Figueiredo leva também de Portugal a promessa de que vai antecipar o envio para Cabo Verde de vacinas contra a Covid-19 e alargar, até final do ano, a moratória em vigor sobre o serviço da dívida bilateral, como anunciou, na quarta-feira, em Lisboa, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, após o encontro.
A medida responde ao repto lançado pelo Clube de Paris, entidade criada informalmente em 1956 para apoiar países em dificuldades económicas, e pelo G20, grupo das 20 maiores economias do mundo, “a todos os credores bilaterais oficiais e privados, para uma mobilização mundial no apoio aos países menos desenvolvidos, através da ‘Iniciativa de suspensão do serviço de dívida’”.
Na quinta-feira, Rui Figueiredo Soares reuniu-se com o ministro da Defesa português, João Cravinho, um “excelente encontro”, no qual se falou “sobre a cooperação na área específica de Defesa”.
“Ficou definido que vamos continuar os encontros regulares e o ministro visitará Cabo Verde brevemente, ainda durante o mês de junho” referiu.
Mas o que o ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa de Cabo Verde destaca desse encontro é a possibilidade de um reforço e a definição de um novo conceito de cooperação bilateral com Portugal na área da Defesa bem como a abertura do país para servir de porta-voz e mediador num processo de alargamento da parceria cabo-verdiana com a União Europeia ao sector da defesa.
“Essencialmente, a mensagem que eu trouxe é no sentido de estreitamento das relações de cooperação na área da Defesa e segurança com Portugal”, afirmou.
“São questões importantes, as quais iremos pensar como o Ministério da Defesa português”, concluiu.
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