António Costa qualificou as declarações do ministro das Finanças holandês como “repugnante”, no final de uma reunião dos líderes dos países da União Europeia (UE).
Wopke Hoekstra defendeu que a Comissão Europeia devia investigar países como Espanha ou Itália por não terem acumulado nos últimos anos uma almofada financeira que lhe permitisse neste momento enfrentar a crise provocada pelo novo coronavírus.
“Esse discurso é repugnante no quadro da União Europeia e a expressão é mesmo esta: repugnante”, disse o primeiro-ministro em conferência de imprensa na noite de quinta-feira. “Ninguém está disponivel para voltar a ouvir ministros das Finanças holandeses como aqueles que já ouvimos em 2008, 2009, 2010 e anos consecutivos”.
“Essa mesquinhez recorrente mina completamente o espirito da UE, e ameaça o futuro da UE. E se a UE quer sobreviver é inaceitável que um responsável político, seja de que pais for, possa dar respostas dessa natureza perante uma pandemia como aquela que estamos a viver, foi à custa disto que todos percebemos que insuportável trabalhar com o senhor [Jeroen] Dijsselbloem [antigo ministro das Finanças holandês]. Mas pelos vistos há países que insistem em irem mudando de nomes, mas mantendo pessoas com o mesmo perfil”, afirmou António Costa após a videoconferência de seis horas.
O primeiro-ministro recordou assim o episódio polémico que envolveu Jeroen Dijsselbloem, então presidente do Eurogrupo, quando acusou os europeus do sul da Europa de de gastarem o seu dinheiro “em copos e mulheres” e “depois pedirem que os ajudem”. Uma polémica que levou o Governo de António Costa a pedir o seu afastamento da liderança do Eurogrupo.
Na reunião do Conselho Europeu de quinta-feira – e tal como nos anos da crise das dívidas soberanas a partir de 2011 -, a União Europeia dividiu-se em dois blocos. França, Itália, Espanha, Portugal, Grécia, Irlanda, Bélgica, Luxemburgo e Eslovénia defenderam a necessidade de emitir eurobonds para financiar medidas de forma a mitigar o impacto económico da epidemia do novo coronavírus (Covid-19), segundo avança o jornal holandês Volkskrant. No outro lado da barricada, quatro países defendem uma linha mais dura: sem emissão de eurobonds: Alemanha, Países Baixos, Aústria e Finlândia.
“É uma boa altura de compreenderem todos que não foi a Espanha que criou o vírus, nem foi a Espanha que importou o vírus. O virus infelizmente atingiu a todos por igual”, disse António Costa.
“Se não nos respeitamos todos uns aos outros e se não compreendemos que perante um desafio comum temos de ter capacidade de responder em comum entao ninguem percebeu nada o que é a UE. Se alguém na UE pensa que resolve o problema do vírus, deixando-o a solta, está muito enganado”, afirmou o primeiro-ministro.
A reunião dos líderes europeus esteve muito perto de terminar num fracasso, como escreve o El País, depois de Itália e de Espanha terem decidido rejeitar assinar uma declaração vaga e sem medidas concretas.
A nega de Espanha chegou no momento em que o presidente do Conselho Europeu, o belga Charles Michel, perguntou se havia acordo: “Não”, respondeu o primeiro-ministro espanhol, avisando que não iria assinar “nenhum acordo que não fixe um mandato claro para que os ministros de Economia possam continuar a trabalhar” num plano económico de resposta à crise, segundo o El País.
Perante a recusa de Espanha, apoiada por Itália, os líderes aceitaram um adiamento de 15 dias para tentar chegar a um acordo sobre um plano para responder economicamente à pandemia do coronavírus.
António Costa sobre as declarações do ministro das Finanças holandês pic.twitter.com/8ZYVnkhQSr
— Nuno Aguiar (@naguiar) March 26, 2020
https://jornaleconomico.pt/noticias/antonio-costa-nao-ha-consenso-a-europa-precisa-de-fazer-muito-mais-566815
Taguspark
Ed. Tecnologia IV
Av. Prof. Dr. Cavaco Silva, 71
2740-257 Porto Salvo
online@medianove.com