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A análise de dados de recursos humanos como barómetro da cultura organizacional

A relevância estratégica associada ao capital humano das organizações tem estado em evidencia nas ultimas décadas, sendo hoje um tema central nas organizações em todo o mundo.
19 Fevereiro 2023, 22h00

O bom desempenho das organizações já não chega para garantir um bom ambiente de trabalho. Perante este facto, a cultura organizacional dita o modo como os colaboradores experienciam o dia-a-dia na organização e consequentemente como se comprometem com os objetivos. Os benefícios associados a uma cultura organizacional positiva tem fomentado o interesse na análise de dados que auxiliem a sua interpretação. A análise de dados de recursos humanos tem proporcionado previsões com bastante fiabilidade, permitindo às organizações serem cada vez mais ágeis e assertivas na tomada de decisão.

Ainda que o acesso a dados seja cada vez mais frequente, a sua análise e interpretação é muitas vezes negligenciada, perdendo-se o seu contributo para a tomada de decisão sustentada e ágil, e por consequência vantagem competitiva.

A transformação digital a que as organizações têm sido expostas, tem facultado aos departamentos de gestão de pessoas a possibilidade de aceder a uma significativa quantidade de dados, permitindo-lhe medir e monitorizar a saúde da cultural organizacional. Contudo, torna-se difícil para os conselhos de administração e para os líderes de equipas identificar e interpretar o conjunto de dados que são efetivamente essenciais analisar.

Uma das principais questões e preocupações dos CEO´s e executivos seniores, tem a ver com o seu desconhecimento sobre como mudar a cultura organizacional. Porém, a cultura não tem necessariamente de ser transformada, mas sim cuidadosamente renovada, procurando manter o que é positivo e diferenciador, nomeadamente, os aspetos que torna a organização única, e ser consciente simultaneamente dos elementos culturais contemporâneos. Na análise da cultural organizacional, é importante conhecer o sentimento dos colaboradores, pois o contexto socioprofissional que derivou da pandemia influenciou muitos paradigmas relativos ao trabalho.

Assim é crucial ter uma perceção robusta sobre o tema antes de atuar, para que possam ser definidas medidas de mitigação assertivas, mas com o devido grau de sensibilidade que os assuntos requerem.

Para a análise de satisfação dos colaboradores é comum assumir que é suficiente analisar os dados sobre o engagement. Todavia, se essa análise for feita apenas anualmente, os dados serão seguramente escassos e pouco precisos. Tem sido crescente nas organizações Top Employers a realização de análises mais frequentes, tendo desenvolvido para tal, técnicas e métodos que evitam sobrecarregar os colaboradores, através de novas tecnologias com processamento de linguagem natural e inteligência artificial.

Atualmente, muitas organizações Top Employers têm definido tópicos chave para interpretar a sua cultura organizacional. Além do nível de satisfação procuram analisar dados sobre a saúde mental e física dos seus colaboradores. No caso da Infosys foi implementado um programa específico, denominado de Hale, que incide sobre a preocupação da organização acerca do bem-estar dos seus colaboradores.  A partir deste programa incentivam a utilização de uma app, onde de forma dinâmica identificam como os colaboradores se sentem regularmente, focando aspetos sobre a sua saúde mental, o equilíbrio vida profissional-vida pessoal e a sua saúde física. Com base nas várias utilizações e programação das aplicações podem ser vinculados a métricas de absentismo. Além disso, fornece informações sobre o desempenho das equipas permitindo desenvolver medidas que mitiguem os impactos negativos no colaborador.

Outro programa implementado pela Infosys designado por o Lex, com base no interesse e nas habilidades dos colaboradores, extrai dados sobre quais as áreas de desenvolvimento mais procuradas. Para tal, disponibiliza o acesso através do telemóvel para que os colaboradores possam aceder ás plataforma digitais sempre que necessitem, em qualquer lugar.

Na Infosys existe permanentemente a preocupação de utilizar a análise dos dados em prol da melhoria da experiência do colaborador, priorizando uma digitalização humanizada no trabalho e na cultura organizacional. Para tal, desenvolveu uma estrutura de dados que integra diversas áreas, em que cada uma delas contribui para identificar necessidades, suportar planos de ação, e monitorização das ações.

A Infosys desenvolveu ainda um programa chamado MCode – Manager Effectiveness, a partir do qual recolhe dados para desenvolver líderes e fornecer insights aos colaboradores através de painéis interativos e nudges.

Outro caso de sucesso é o da Mastercard,  que optou pela integração de métricas em Índices específicos, o que lhe tem permitido obter análises robustas acerca de diferentes temáticas, obtendo relatórios automatizados com a informação apresentada de forma aglomerada. Este conjunto de relatórios possibilita à administração e aos líderes ser detentores de informação fidedigna, estruturada e consolidada, que proporciona um conhecimento alargado da organização. Deste modo, as mensagens que transmitem aos colaboradores são mais assertivas e adaptadas ao momento organizacional.

Assim, em vez de recorrer à análise de um conjunto de  KPI e métricas diferentes, organizou-os em índices como por exemplo: Inovação, Inclusão, Retenção ou Employer Brand. No caso da retenção, por exemplo, para além dos dados mais comuns inclui também a retenção associados aos planos de sucessão, o que acaba por fornecer uma visão objetiva, baseada em resultados das tendências culturais que impactam a organização. No caso do índice employer brand, a Mastercard identificou ser uma das marcas mais valiosas do mundo – embora não tivesse essa perceção. Em vez de analisarem apenas a classificação das organizações em determinados portais de opinião, analisaram também outros dados, nomeadamente as contratações em início de carreira, feedback dos clientes, o nível de engagement dos colaboradores, turnover, etc.

A criação de índices e a parametrização dos dados que os compõe, proporcionou a capacidade de identificar de forma estruturada e ágil, as áreas de melhoria e a consciência de como influenciam a organização.

Conteúdo publicado no suplemento comercial Top Employers, distribuído com a edição do Jornal de Económico de 17 de fevereiro

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