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Apólice de seguro: Fed vai cortar taxa de juro em 25 pontos base para prevenir riscos

Chegou o ‘dia D’, que deverá ser de ‘descida’. A Reserva Federal termina hoje a reunião de dois dias e a expectativa é de um corte na taxa de juro, a primeira desde a crise financeira, de 25 pontos base, com Jerome Powell a jogar pelo seguro num período de incerteza.
31 Julho 2019, 07h43

Normalizar, ser paciente, actuar de forma apropriada. A esta sequência de estados de alma expressas pela Reserva Federal (Fed) nos últimos meses deverá seguir-se esta quarta-feira uma nova etapa: um corte da taxa de juro.

Se a probabilidade de ser esse o principal resultado da reunião de dois dias do Federal Open Market Committee (FOMC) é elevada, até mesmo assumida como uma certeza pelos mercados, há meros meses era quase nula.

Em dezembro, a Fed seguia o percurso da normalização da política monetária, com o quarto aumento do ano a levar a federal funds rate para o atual intervalo de 2,25% a 2,50%. O dot plot, mapa de pontos que mostra as previsões das taxas de juro feitas pelos membros do Comité, indicava que o banco central liderado por Jerome Powell esperava fazer mais duas subidas em 2019.

No final do mês seguinte, Powell alterava o discurso, dizendo que os desenvolvimentos a nível global e as pressões ténues da inflação forçavam o banco central a adoptar uma postura paciente. Mensagem repetida várias vezes, em junho a Fed já trocava a palavra “paciente”, substituindo-a por “agir apropriadamente”, dando assim o grande sinal: vem aí um corte na taxa de juro.

Numa nota de research com o título “uma grande reviravolta no rumo da Fed”, Franck Dixmier, global head of fixed income da Allianz Global Investors (GI), resumiu a lógica do banco central. “Diante a desaceleração do crescimento económico global, as contínuas tensões comerciais e a perspetiva de um hard Brexit, o FOMC parece preparado para anunciar uma redução nos juros na próxima reunião”.

Dixmier recordou que os dados económicos dos EUA, como a criação de emprego, vendas do retalho, produção e inflação aumentaram de forma surpreendente em junho e mostraram uma economia ainda robusta, mas sublinhou que, no entanto, a Fed não parece estar a basear a sua política em dados, mas na gestão de risco. “Se fazer menos parece mais arriscado do que fazer mais, então a Fed sente-se legitimada para fazer mais agora do que seria necessário”.

James Knightley, chief international economist do ING, também reconhece que Powell estará a gerir o risco, pois apesar da recente trégua na guerra comercial, as duas partes estão longe de chegar a um acordo e há sempre a hipótese de uma quebra nas conversações, o que penalizaria os mercados e as empresas norte-americanas.

“Parece que Powell está a dizer que ‘uma onça de prevenção é melhor do que uma libra de cura'”, sublinhou, Knightley, citando uma frase de Benjamin Franklin. “O que estamos a ver é apenas uma medida de seguro, semelhante às reações da Fed às desacelerações de 1995-96 e 1998”.

25 ou 50 pontos?

A incerteza sobre o outlook da economia e  a ténue inflação tornam o aumentam o custo de a Fed não tornar a política monetária mais acomodatícia , em comparação a fazer demasiado ou agir de forma precoce, referiu Mikael Olai Milhoj, analista sénior do Danske Bank. “Na reunião desta semana, a questão vai ser mais sobre o tamanho do corte”, sublinhou.

A maioria dos investidores e dos economistas acreditam que quando a Fed emitir o comunicado às 19h00 (hora de Lisboa), vai anunciar um corte de 25 pontos base e não de 50 pontos.

Segundo o CME FedWatch Tool, que monitoriza a negociação dos futuros da taxa de juro, a probabilidade de um corte é de 25 pontos base, ou seja para 2%-2,25% é de 73,9%, enquanto uma descida para o intervalo de 1,75%-2% é de apenas 26,1%. Numa sondagem da Reuters divulgada no final da semana passada, 95% dos 111 economistas consultados prevê um corte de 25 pontos base e somente dois acreditam numa descida de 50 pontos.

O consenso tem por base também o facto de James Bullard, presidente da Reserva Federal de St. Louis, visto como um dos mais dovish no FOMC, ter dito que um corte de 25 pontos base deverá ser suficiente.

Uma descida mais abrupta na taxa de juro não é, no entanto, descartada por todos. Os analistas do ING, do Danske, do Abn-Amro e do BBVA estão alinhados com o consenso, mas Dixmier, da Allianz GI, acredita que Powell poderá ir mais longe esta quarta-feira.

“As expetativas do mercado de um corte de 50 pontos base nos juros já em julho têm sido bastante voláteis, caindo recentemente de 40% para um nível mais baixo, de acordo com os futuros dos fundos federais”, recordou, “mas porém, acreditamos que a política de gestão de risco da Fed justifica uma redução de 50 pontos”

Dixmier apresenta dois argumentos para essa logica: o nível atual dos juros, que está próximo do “limite inferior zero”, incentiva a Fed a tomar medidas voluntárias para maximizar a sua eficácia e, segundo, dado o atraso na propagação de um corte nos juros para a economia real – a transmissão leva entre seis e 12 meses – a Fed pode sentir que não tem tempo a perder e querer jogar pelo seguro.

Se o FOMC optar por um corte de 25 pontos base na federal funds rate, o foco passará para os sinais que Powell irá transmitir sobre o ritmo das descidas nos próximos meses, explicou Bill Diviney, economista sénior do ABN-Amro.

“Dado que irá ser o primeiro corte desde a crise financeira, Powell irá provavelmente querer defender a medida de forma robusta. Esperamos que o foco permaneça no riscos negativos, mas também com referências à inflação ténue e ao enfraquecimento da confiança dos consumidores”, adiantou.

“Tudo isto deverá apoiar a nossa expectativa de cortes nas taxas de juro, mas suspeitamos que Powell terá mais dificuldade em ser mais dovish que o mercado nesta fase dado o que já está incorporado por este (mais cortes de 65 pontos base após os 25 pontos de hoje”, sublinhou, acrescentando que o ABN-Amro projeta mais dois cortes de 25 pontos até o primeiro trimestre de 2020.

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