A economia portuguesa passará de valores negativos para positivos nos próximos trimestres e deverá crescer 4% em 2021 e acelerar para 5,1% em 2022, refere o BBVA Research.
Vários fatores explicam a aceleração esperada do crescimento do PIB, segundo o BBVA. Desde logo a mudança na política orçamental dos EUA; a melhoria dos indicadores de saúde; o elevado nível de poupança acumulada; a flexibilização das normas na UEM (União Económica e Monetária), que permitirá que a política orçamental se mantenha expansionista; o impacto progressivo do NGEU (Next Generation EU); o efeito das políticas do BCE; e um bom desempenho das exportações, refere o BBVA.
A exposição comercial de Portugal aos EUA é reduzida, mas os economistas do BBVA dizem que o impacto indireto da possível alteração na procura dos Estados Unidos (como o crescimento da economia mundial e da zona euro, ou a maior confiança e a menor incerteza nos mercados de capitais) poderá ser mais significativo.
Por sua vez, em 2022, os fundos provenientes do NGEU e o relaxamento das regras orçamentais permitirão manter o impulso do gasto público e suavizar o retorno à trajetória de ajuste orçamental, prevê o BBVA.
O research do banco aponta riscos. O controlo da doença e a velocidade do processo de vacinação, as consequências da crise no emprego e no tecido produtivo, a implementação dos projetos relacionados com o programa NGEU; e o acordo sobre as reformas de que o país precisa, estão entre os riscos.
O BBVA diz que a recuperação passará de valores negativos para positivos nos próximos meses e destaca que o mercado imobiliário apresentou um comportamento melhor do que o esperado. Depois, nos onze meses desde o início da pandemia, as novas operações de crédito para a compra de habitação aumentaram 3,8% face ao comportamento observado entre março de 2019 e fevereiro de 2020.
O crédito ao consumo das famílias caiu de forma intensa, enquanto a procura de crédito das empresas também se ressentiu em consequência da deterioração das expetativas em redor do cenário económico, relata o BBVA. Entre os fatores que poderão explicar este comportamento estão a elevada taxa de poupança e os baixos níveis de rentabilidade, bem como os elevados preços do arrendamento em algumas áreas urbanas, além das condições de crédito favoráveis.
O PIB português contraiu 7,6% em 2020, após seis anos consecutivos de crescimento e um aumento de 2,5% em 2019. A redução sem precedentes no turismo estrangeiro contribuiu para que a procura externa líquida fosse mais negativa.
A procura interna registou a contribuição mais negativa para a variação do PIB no ano anterior (-4,6 pp), após ter sido a protagonista do crescimento em 2019 (+2,8 pp).
O aumento da incerteza sobre a evolução do Covid-19 e as medidas necessárias para limitar o contágio abrandaram a economia, apesar das políticas adotadas para conter o impacto negativo sobre o rendimento das famílias e o tecido produtivo, diz o BBVA. No final de 2020 e no início 2021, a atividade registou uma desaceleração significativa, sobretudo devido à deterioração observada nos indicadores de saúde em Portugal e na UEM (União Económica e Monetária).
Portugal encerrou 2020 com uma taxa de desemprego média de 6,8%, apenas três décimas acima do ano anterior, apesar do forte impacto da Covid-19 na atividade económica.
As medidas de flexibilização do trabalho e o teletrabalho contribuíram para que o impacto desta crise no mercado de trabalho esteja a ser mais contido, pelo menos por enquanto. Contudo, o número de pessoas em regime de ajustamento temporário do trabalho é elevado, diz o BBVA.
Já o investimento contraiu 4,9% em 2020, bastante menos do que o esperado, tendo em conta a evolução do PIB. A queda explica-se sobretudo pelo colapso da despesa em material de transporte e em maquinaria e equipamento. Por outro lado, o setor da construção cresceu 4,8% no ano anterior, sendo a única componente com uma contribuição positiva.
O research dos economistas do BBVA realçam que após uma diminuição superior a 30% no primeiro semestre de 2020, o nível de exportações recuperou quase totalmente na maioria dos setores. Assim, Portugal encerrou o ano anterior muito próximo do nível de exportações trimestrais no final de 2019.
No que toca à economia global o BBVA diz que continuará a recuperar, apesar do complexo contexto epidemiológico. Após uma queda de cerca de 3,3% em 2020, o PIB mundial irá crescer cerca de 5,9% em 2021 e 4,8% em 2022, mais do que o previsto anteriormente, em linha com a aceleração esperada do processo de vacinação contra o coronavírus, o levantamento gradual das restrições à mobilidade e as medidas de estímulo, refere o research.
As perspetivas de recuperação da economia mundial foram reforçadas, com elevada heterogeneidade entre os países, refere o banco. Os pacotes orçamentais recentemente anunciados nos EUA, bem como a manutenção do tom acomodatício da política monetária por parte dos principais bancos centrais, e os diferentes progressos na taxa de vacinação irão marcar a recuperação, defende o BBVA. Além disso, vários fatores epidemiológicos, financeiros, económicos e geopolíticos mantêm a incerteza em níveis excecionalmente elevados, conclui.
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