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Economia portuguesa: seis décadas a reforçar capacidade de financiamento

A economia de Portugal entre 1947 e 2017 aumentou substancialmente o seu grau de abertura ao exterior, que passou de 29,3% do produto interno bruto (PIB) para 85,2%.
31 Julho 2017, 07h15

O estudo “Economia de Portugal entre 1947 e 2017” da Iberinform Portugal, filial da Crédito y Caución que oferece soluções de business intelligence, evidencia a capacidade competitiva das empresas portuguesas que criaram e acumularam mais valor e dinheiro e diminuíram o seu risco estratégico.

Ao longo de seis décadas, as importações foram significativamente superiores às exportações, até que, nesta década, com um maior crescimento do seu peso, as exportações passaram a ser superiores, tendo a balança comercial no 1.º trimestre de 2017 representado 1,2% do PIB.

Segundo os analistas, esta situação foi resultante das estratégias realizadas pelas empresas portuguesas que, por um lado, se integraram de forma cada vez mais favorável nas cadeias de valor mundiais e, por outro, se descondicionaram das limitações da procura interna. O contínuo crescimento das exportações, em aceleração com o aumento das suas quotas nas importações mundiais, continua a manifestar a capacidade competitiva das empresas portuguesas e o seu contributo decisivo para a economia nacional, mas necessitam de reforço político-económico.

As exportações de bens das empresas portuguesas passaram de uma quota nas importações mundiais de 0,32% em 2010 para 0,35% em 2016, um aumento de 7,7%. Apesar dos resultados muito favoráveis das exportações de bens, estas só conseguem cobrir parcialmente as importações de bens, tendo-se registado um défice da balança comercial de bens de 10.820 milhões de euros em 2016, menos 281 milhões relativamente ao défice de 2015. No 1.º trimestre de 2017 registou-se um défice de 2.610 milhões de euros, resultante dos aumentos dos saldos positivos nas bebidas, têxteis, vestuário e calçado, borracha e plásticos, minerais não metálicos (cerâmica, vidro, pedra), nos produtos metálicos e nos equipamentos elétricos.

São as exportações de serviços e o saldo positivo da balança comercial de serviços que mais do que compensam o défice da balança comercial de bens e que determinam um excedente da balança comercial. E por detrás deste excedente nos serviços estão fundamentalmente as viagens e turismo, que aumentaram as suas exportações no 1.º trimestre de 2017 em 12,4% (mais 245 milhões de euros) e as suas importações em 9,9%, (mais 86 milhões de euros), passando o saldo negativo de 1.110 milhões de euros em 2016 para mais 1.269 milhões em 2017.

A política económica cada vez mais integrada favoreceu também o forte aumento da procura interna, indutor de importações, mas que face à sua frágil sustentação na oferta interna, com a crise do final da última década, foi fortemente reduzido seu peso (cerca de menos 11%). A procura interna assente num conteúdo importado muito elevado não é sustentável e só o será com uma substituição competitiva de importações. São os veículos automóveis que continuam a estar por detrás desse aumento das importações, para a satisfação da procura externa e da procura interna. Os outros equipamentos (informáticos, eletrónicos, elétricos, óticos e outros equipamentos e máquinas), depois da quebra de 2015, voltaram de novo a aumentar em 2016 (6,6%) e no 1.º trimestre de 2017 (18,2%). Outra dimensão de dependência externa, os produtos agrícolas e alimentares também tiveram um aumento das importações em 2016 (3,4%) e no 1.º trimestre de 2017 (9,4%). O aumento das exportações está a compensar e a financiar as insuficiências da cobertura pela oferta interna da procura interna, mas terão que aumentar ainda mais e/ou existir substituições competitivas de importações, para que a procura interna possa aumentar de forma sustentável.

O estudo ressalva ainda que a economia de Portugal está condicionada no seu mercado interno pelo excessivo endividamento do estado não reformado, pelas fragilidades das instituições financeiras com muitas imparidades e contingências, decorrentes das opções de risco realizadas e pelo excessivo endividamento das famílias.

Os graves problemas de necessidades de financiamento da economia portuguesa, manifestos no início da década, foram suavizados com o aumento das exportações, que permitiram às sociedades não financeiras passarem a ter capacidades de financiamento, com as empresas exportadoras a terem cada vez maior peso nos financiamentos e a manifestarem um risco muito menor em relação às outras empresas. Em 2016, a economia portuguesa reforçou a sua capacidade de financiamento do Resto do Mundo com a melhoria da capacidade de financiamento das sociedades não financeiras e com a diminuição das necessidades de financiamento do Estado, com continuidade no 1.º trimestre de 2017.

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