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Exposição do BCP à dívida italiana é inferior a 100 milhões

“Não fomos atrás das yields. Fomos prudentes”, disse Miguel Maya, CEO do BCP, na apresentação de resultados anuais. Banco lucrou 301,1 milhões de euros, mais 61,5% do que em 2017.
23 Fevereiro 2019, 09h00

Prudência foi a palavra de ordem na apresentação de resultados anuais do maior banco privado português.

“Prudência”, invocou o presidente executivo do BCP, Miguel Maya, em relação à exposição à dívida pública italiana do banco que lidera.  O BCP tem uma exposição “absolutamente marginal” a esta dívida, revelou. O que é menos de 1% da totalidade da dívida pública que o BCP comprou nos mercados. “É inferior a 100 milhões de euros”, garantiu Miguel Maya. “Fomos prudentes e não cedemos à tentação das yields elevadas”.

Os analistas da Bloomberg alertaram, este mês, para o risco da dívida italiana em despoletar uma nova crise bancária europeia. Segundo os mesmos analistas, em junho de 2018, a exposição da banca nacional à dívida italiana ascendia a 1,9 mil milhões de euros.

Prudência também foi invocada na política de dividendos. O BCP anunciou a distribuição de 10% dos lucros aos acionistas, algo que não acontecia desde 2011. Tendo em conta que o lucro atingiu os 301,1 milhões, o banco vai distribuir 30,1 milhões de euros em dividendos. Isto é, 0,2 cêntimos por ação, brutos.

Miguel Maya frisou que a “política de dividendos ainda não está aprovada pelo Banco Central Europeu”. No entanto, o CEO do banco mostrou-se “tranquilo” porque “o dividendo que estamos a propor, é um dividendo prudente, e os níveis de capital do banco são os adequados”, adiantou.

O BCP vai apresentar a proposta de distribuição de dividendos na assembleia-geral, de 22 de maio. O banco tem como acionistas de referência a Fosun (27,06%), a Sonangol (19,49%), o fundo BlackRock (3,39%) e o Grupo EDP (2,11%).

O banco mantém o compromisso de convergir para um payout ratio de 40% até 2021.

Miguel Maya disse ainda que apresentou ao conselho de administração uma proposta relativa à compensação extraordinária dos trabalhadores, que será também levada à AG. “Esta compensação está relacionada com os trabalhadores que deixaram de receber num determinado período muito difícil da vida do banco”, disse. “É um compromisso da comissão executiva que vamos cumprir, dentro de um determinado programa, que foi discutido e apresentado ao conselho de administração”, revelou o CEO.  “Convidei os sindicatos e a Comissão de trabalhadores para partilhar a proposta”, adiantou. Entre meados de 2014 e meados 2017, os trabalhadores do BCP com remunerações acima de  mil euros brutos mensais tiveram os salários cortados (entre 3% e 11%), no âmbito do plano de reestruturação acordado com Bruxelas que se seguiu à ajuda estatal (de 3.000 milhões de euros).

Em 2018, o BCP apresentou lucros de 301,1 milhões de euros, uma subida de 61,5% face a 2017. O crédito malparado (NPE) caiu 2,1 mil milhões face a 2017, para 5,5 mil milhões. Da redução de malparado, dois mil milhões decorreram da atividade em Portugal (para 4,8 mil milhões). O CEO destacou o reforço da cobertura por imparidades para 52% e uma cobertura total de 109%.

BCP quer acordo para equilibrar ajuda ao Novo Banco

Miguel Maya referiu na apresentação de resultados que gostava de “chegar a acordo para melhorar o modelo de ajuda do Fundo de Resolução ao Novo Banco”.

O CEO do BCP respondia à questão do processo movido na justiça europeia para travar o mecanismo de capital contingente do Novo Banco. Depois da justiça portuguesa, o BCP colocou uma ação no Tribunal Geral da UE a pedir a anulação da decisão da Comissão Europeia sobre a criação de um mecanismo de capital contingente no Novo Banco. Este mecanismo prevê injeções feitas pelo Fundo de Resolução até 3,89 mil milhões de euros no Novo Banco.

“Gostava de reiterar que é um peso enorme sobre o BCP e é um modelo que não consideramos adequado e, portanto, vamos fazer tudo para tentar chegar a um acordo para melhorar esse modelo no sentido de o tornar mais equitativo. É essa a nossa esperança”, disse Miguel Maya, sem adiantar mais detalhes.

O CEO disse ontem que o BCP vê com “alguma apreensão” as notícias sobre a eventual injeção de mais de mil milhões de euros do Fundo de Resolução no Novo Banco em 2019.

“Obviamente que vemos com alguma apreensão, não posso dizer que seja uma surpresa, já que o modelo de incentivos criado é propício a tirar o máximo possível do fundo”, disse Miguel Maya. “Não ficamos indiferentes ao que se está a passar”, acrescentou. “Não achamos correto que quando há uma união bancária se fale de separar o risco soberano do risco bancário, e que depois o fundo apresente esta fatura”, concluiu Miguel Maya.

Artigo publicado na edição nº1977 de 22 de fevereiro no Jornal Económico

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