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Financial Times diz que incêndios provam “negligência de Lisboa” perante o Interior

“As feridas expostas pelo desastre e infligidas por décadas de negligência, êxodo rural e afastamento do poder político não podem ser curadas apenas com a ajuda [ondas de solidariedade lançadas depois dos fogos, como apoios do governo e doações] ”, escreve o jornal britânico.
  • HO/Reuters
29 Agosto 2017, 11h15

Os incêndios que deflagraram no centro do país e que vitimaram mais de 60 pessoas encheram páginas de jornais nacionais e internacionais. O concelho de Pedrógão Grande voou para a imprensa de todo o mundo pelos piores motivos e parece ainda não ter sido esquecido. A edição desta terça-feira do Financial Times culpa os séculos de “centralização” pela “negligência, êxodo rural e sensação de abandono” nas zonas do Interior.

“As feridas expostas pelo desastre e infligidas por décadas de negligência, êxodo rural e afastamento do poder político não podem ser curadas apenas com a ajuda [ondas de solidariedade lançadas depois dos fogos, como apoios do governo e doações] ”, escreve o jornal britânico.

A publicação refere que o presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, considera que as zonas rurais sempre foram ignoradas e que, de acordo com o ministro-Adjunto, Eduardo Cabrita, os séculos de poder hierárquico focados apenas em Lisboa e enraizados pelo regime autoritário de António Salazar e Marcelo Caetano, entre 1928 e 1974, tornaram Portugal um dos países mais centralizados do continente europeu.

Para o diário londrino, o “sentimento de abandono” do autarca de Pedrógão Grande, um dos municípios mais afetados pelos incêndios de junho, é partilhado por várias aldeias portuguesas pouco povoadas, “onde os habitantes sentem que são comunidades esquecidas que vivem no lado errado de uma divisão profunda entre a costa atlântica urbanizada e o interior pobre e rural”.

O Financial Times frisa ainda que governo local representa apenas 14% do total de gastos públicos e 17% do emprego no setor público, em comparação com média da União Europeia de 25% e 36%, respetivamente.

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