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FMI alerta que mercados acionistas estão inflacionados

No ‘Global Financial Stability Update’ de junho, o FMI diz que as medidas de estímulo económico e a política monetária seguida pelos bancos centrais para mitigar os impactos da Covid-19 aumentaram o apetite pelo risco, o que inflacionou o preço das ações. Alerta que existe um “desfasamento” entre os mercados acionistas e a economia real, o que poderá potenciar riscos para diferentes agentes económicos.
  • Kai Pfaffenbach / Reuters
25 Junho 2020, 13h30

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que os mercados acionistas estão inflacionados, num contexto que denomina de “desfasamento” entre o otimismo registado nos mercados financeiros e a evolução da economia mundial.

No Global Financial Stability Update, de junho, o FMI argumenta que a atitude bullish dos investidores está a ser suportado pelas medidas de estímulo económico promovidas pelos bancos centrais ainda que persista a incerteza sobre a extensão e a velocidade da recuperação económica.

“Os mercados parecem esperar uma rápida retoma da atividade em ‘V’. No entanto, dados económicos e indicadores de alta frequência recentes sugerem uma contração [da economia] mais profunda”, refere o relatório da instituição.

Consequentemente, criou-se uma divergência entre o preço do risco nos mercados financeiros e as estimativas económicas, enquanto os investidores continuam a esperar um apoio dos bancos centrais contínuo e sem precedentes. “Esta tensão pode ser ilustrada pelo recente rally no mercado acionista norte-americano e pelo declínio acentuado da confiança dos consumidores”, explica o FMI.

Face a este desfasamento, o FMI questiona-se sobre a sustentabilidade do rally atual sem o suporte da política monetária e estímulos económicos dos bancos centrais, e aponta para outro tipo de riscos que daí poderão advir.

Desde logo, os preços das ações poderão corrigir se o apetite pelo risco dos investidores desaparecer, o que poderá consistir numa ameaça à recuperação da economia. A correção dos preços pode acontecer se “a recessão for mais profunda e mais prolongada do que as estimativas atuais dos investidores” ou poderá “haver uma segunda vaga da Covid-19 e nova aplicação das medidas de confinamento”, diz o FMI.

Além disso, também penalizará no sentimento dos investidores, com uma correção dos preços das ações a ocorrer, se houver “um ressurgimento das tensões comerciais” ou se “a instabilidade social se alastrar em vários pontos do globo em resposta à subida da desigualdade económica”.

Assim, o FMI antecipa que as consequências da pandemia poderá “cristalizar” algumas vulnerabilidades financeiras que têm surgido na última década. Por um lado, a dívida das famílias e das empresas estão sob pressão e podem tornar-se “num fardo ingerível”. E, por outro lado, a instituição alerta que as insolvências poderão testar a resiliência da banca, sendo que o FMI antecipa que os bancos reforcem as provisões à medida que analisam a capacidade dos devedores em pagar dívidas.

Empresas não financeiras também estão em risco, tal como foi evidenciado durante o mês de março, quando beneficiaram de medidas de apoio público, o que sugeriu que estão vulneráveis às correções pró-cíclicas face a um choque externo.

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