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“Guerra do pão” na Venezuela: Governo toma posse das padarias no país para “controlar” a fome

O novo decreto venezuelano prevê que apenas 10% da farinha importada, cujo preço por saco de 45 quilos se fixa nos 18 mil bolívares (cerca de 1.700 euros), poderá ser usada para o fabrico de alimentos que não sejam o tradicional “papo seco”.
  • Marco Bello/REUTERS
21 Março 2017, 12h18

Depois de na semana passada ter decretado emergência alimentar, várias padarias na Venezuela estão a ser confiscadas aos seus proprietários pelo Governo. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, quer, com esta medida, impor um controlo apertado aos preços do pão, numa altura em que a inflação caminha perigosamente para os quatro dígitos e o país se depara com uma escassez generalizada de matérias-primas.

Comer bolos na Venezuela tornou-se um luxo. Segundo a agência americana Associated Press, a escassez e o elevado preço da farinha estão a obrigar as padarias venezuelanas a ter de produzir apenas pão simples de forma a que um quilo de farinha renda o máximo de pão possível para alimentar a população que padece de fome. O novo decreto venezuelano prevê que apenas 10% da farinha importada, cujo preço por saco de 45 quilos se fixa nos 18 mil bolívares (cerca de 1.700 euros) poderá ser usada para o fabrico de alimentos que não sejam o tradicional “papo seco”.

Por todo o país, as autoridades fazem inspeções in loco para que se certificarem de que toda a gente cumpre o estabelecido. Há relato de pelo menos duas detenções de venezuelanos que ousaram fazer brownies sem autorização legal. Várias padarias estão também a ser tomadas por líderes socialistas para querem implementar à força o controlo dos preços do pão.

“O que o governo está a fazer não resolve os problemas”, afirma Milagros Cabrera, um aposentado de 57 anos, à Associated Press. Milagros Cabrera conta que era cliente habitual de uma padaria a poucos metros do Palácio Presidencial, mas desde que a padaria passou a ser controlada pelo Estado, passou a ter de caminhar vários quilómetros até outra padaria para ir comer a sua baguette pouco fermentada de eleição.

Em redor da capital venezuelana, Caracas, os letreios das padarias tomadas pelo Governo foram deitados a baixo, para se fazerem erger grandes posters do presidente Nicolas Maduro, o falecido líder Hugo Chávez ou do herói da independência sul-americana Simón Bolívar.

“Nós vamos distribuir pão a um preço muito mais barato e em quantidades maiores do que antes”, conta à Associated Press, José Enrique Solorzano, que lidera o comité socialista que assumiu o controlo da padaria anteriormente frequentada por Milagros Cabrera. “A partir de agora já não vai haver explorador e explorado, não haverá mais chefe nem chefiado. Todos vamos ser produtivos, vivendo e produzindo em igualdade”, acrescenta.

Segundo a Assembleia Nacional da Venezuela, composta maioritariamente pelos partidos da oposição, mais de 80% da população passa fome, numa altura em que os níveis de escassez de matérias-primas chegam aos 90% e os valores da inflação ultrapassam os 700%.

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