Leis da física e ambiente zen rimam com Kabuki

Tomek Sadurski é obcecado pelo desenho desde criança. Talvez obsessão seja uma palavra muito forte. Talvez Tomek tenha encontrado nesta expressão plástica o ‘cânone’ que lhe permite explorar intuitivamente a relação dos corpos no espaço, as leis da física e a transformação perpétua da energia no universo. O olhar suspenso e os pensamentos em turbilhão. Pensamentos sobre gravidade, transgressão, velocidade, atração e equilíbrio tornaram as obras que serenamente se instalaram no Kabuki num verdadeiro “espaço de contemplação”.

Logo à entrada, onde as escadas convidam a descer ao recato da sala de jantar, ou a subir para desfrutar do ritual de almoço, um têxtil convida a entrar num quadro, qual portal para outra dimensão, abstrata, intemporal e oriental. A viagem sensorial começa logo aqui. Mas antes de nos adentrarmos neste ‘portal’, deixamos algumas pistas para quem “Kabuki” soa apenas a algo exótico, quiçá longínquo, provavelmente japonês. Pistas poéticas, para começar, ou não estivesse na génese dos pratos deste restaurante uma célebre frase do poeta japonês Matsuo Bashō: “Sob as flores de um mundo efémero, com o meu arroz inteiro e o meu sake branco”.

Se para um ocidental a essência – ou melhor, o que se subentende, mais do que aquilo que se diz – deste verso pode passar ao lado, queremos acreditar que, quem idealizou o conceito deste restaurante, que cruza a gastronomia nipónica e mediterrâtica, terá
tido um enleio particular pelo haiku. Essa forma japonesa de “poetisar”, que não inferioriza nem troça, que não se serve do intelecto, mas que valoriza as coisas pequenas, valendo-se da surpresa e de um reduzido vocabulário.

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