[weglot_switcher]

Líbano em estado de falência total

Centenas de libaneses saíram à rua na manhã desta segunda-feira para bloquearam diversas estradas, como forma de protesto contra a inoperância do poder político para fazer face à situação de calamidade.
  • REUTERS/ Mohamed Azakir
29 Novembro 2021, 18h10

Centenas de manifestantes cortaram estradas em Beirute, Trípoli, Saida e outras cidades do país, fechando rodovias e cruzamentos com pneus incendiados ao longo da manhã desta segunda-feira – com o país sem dinheiro para fazer face às primeiras necessidades da população.

No mês passado, as autoridades libanesas aumentaram os preços da gasolina todas as semanas, mas o pior da crise surgiu quando o governo decidiu suspender os subsídios aos medicamentos. Neste contexto, e segundo a televisão Al Jazeera, os médicos temem um inesperado aumento de mortes – nomeadamente num quadro em o combate à pandemia de Covid-19 se revela cada vez mais difícil.

Entretanto, a libra libanesa sofreu nova quebra, depois de, nos últimos dois anos, ter perdido cerca de 90% do seu valor. Ainda assim, na passada semana a moeda conseguiu bater novo recorde de desvalorização. Vários responsáveis apelaram ao governo para que controle a situação financeira libanesa.

Segundo a mesma fonte, o exército libanês conseguiu limpar alguns cruzamentos e vias públicas fechadas mas, em Sports City, ao sul de Beirute, a capital, os manifestantes inundaram a rodovia com gasolina para que os carros não pudessem passar, mesmo que o exército limpasse o bloqueio.

Adham Hassanieh, do grupo de oposição Li Haqqi, disse à Al Jazeera que não tinha certeza sobre quem organizou os protestos desta manhã, mas acredita que eles vão continuar, dada a total incapacidade de o governo conseguir controlar a crise. “É um governo falido atrás do outro”, disse Hassanieh. “A solução não é apenas técnica, trata-se de vontade política”, disse.

O governo do primeiro-ministro Najib Mikati permanece paralisado e não se reúne há quase dois meses, incapaz de resolver os seus problemas diplomáticos com a Arábia Saudita e vários países do Golfo e de fazer avançar as investigações sobre a explosão em Beirute, nas mãos do juiz Tarek Bitar.

O governo prometeu introduzir um programa de cartões de racionamento para vigorar pelo menos um ano para cerca de 500 mil famílias, mas não tem dinheiro para isso, uma vez que precisaria de 450 milhões de euros só para o fazer arrancar.

Reformas financeiras e apuramento de responsabilidades com uma auditoria forense ao banco central e a várias instituições estatais são aquilo que o FMI diz ser fundamental para poder gizar um plano de recuperação para o país, que está previsto desde agosto de 2020, mas que nunca chegou a ser colocado no terreno.

A comunidade internacional exortou o país a reestruturar a economia, esbanjadora e ineficaz, e a chegar a um acordo com o FMI. É que, em apenas dois anos, mais de três quartos da população do Líbano passou para o lado da pobreza, de acordo com as Nações Unidas.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.