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Livro: “A Arte Perdida de Encontrar o Caminho”

Como éramos nós, humanos, antes do Google Earth e do GPS? John Edward Huth pode não responder exatamente a esta questão, preferindo dar ao leitor pistas sobre como andamos a desperdiçar as nossas capacidades.
25 Março 2023, 10h45

 

 

“Uma tempestade desce uma encosta e suprime os pontos de referência a um alpinista. Um caçador concentra-se obsessivamente na pista de um alce e perde-se nas profundezas de uma floresta. Um remador entra com o seu caiaque num banco de nevoeiro. Um piloto perde o sentido do horizonte. Um marinheiro não consegue encontrar o rumo da terra firme.”

Muito antes de existir o GPS, o Google Earth, e trânsito à escala global, os homens percorreram grandes distâncias, usando instrumentos simples e lendo as pistas dadas pela natureza. Este livro analisa o que perdemos quando a tecnologia moderna se substitui às nossas capacidades inatas para nos orientarmos, para encontrarmos o nosso caminho.

Cada vez mais dependentes de aparelhos como os nossos telemóveis, que há muito têm mais aplicações do que a mera comunicação sonora à distância, sentimo-nos – e, normalmente, ficamos – completamente perdidos quando a rede falha ou a bateria nos atraiçoa. Mas, com este livro, Huth recorda-nos que há outras ferramentas que podemos utilizar, tirando o devido proveito do legado que as mentes brilhantes do passado nos deixaram; por exemplo, como navegar usando os fenómenos naturais: recorde-se como os comerciantes árabes aprenderam a velejar contra o vento e como esse ensinamento foi tão útil aos marinheiros portugueses na época dos Descobrimentos.

Uma observação atenta do sol, da lua, das marés e das correntes oceânicas, e ainda do clima e dos efeitos atmosféricos pode ser tudo o que é necessário para encontrar o caminho.

“A Arte Perdida de Encontrar o Caminho”, de John Edward Huth, é um livro de uma amplitude extraordinária, verdadeiramente enciclopédica. Nele, navegamos da astronomia e da meteorologia à oceanografia e à etnografia. O autor instala-nos nos trenós, nos barcos e na pele dos primeiros exploradores, para quem a atenção minuciosa ao mundo envolvente era, literalmente, uma questão de vida ou morte.

Editado pela Imprensa da Universidade de Lisboa, com tradução de Pedro Cotrim, o livro está esplendidamente ilustrado e o relato rico e preciso de John Edward Huth sobre as culturas de navegação imerge os leitores numa narrativa que é, por um lado, um tratado científico e, por outro, um diário pessoal de viagens e uma recriação vívida da história da Humanidade através da navegação. Pelo olhar dos viajantes do passado, o nosso mundo torna-se, deste modo, muito mais nítido. E fascinante.

O autor é Professor de Ciências no Departamento de Física da Universidade de Harvard. Para além de se dedicar ao estudo do Bosão de Higgs, criou, na mesma universidade, o curso de Navegação Primitiva.

Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.

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