[weglot_switcher]

Livro: “As Enviadas Especiais”

Judith Mackrell conta-nos neste livro as histórias heroicas e recheadas de peripécias de seis extraordinárias pioneiras que ficaram para a história do jornalismo. Mulheres (de) coragem, determinadas e incómodas.
11 Março 2023, 10h25

 

No Ocidente, até há relativamente pouco tempo, as mulheres estiveram arredadas de profissões vistas como pouco adequadas à sua feminilidade, menor força física ou outra de muitas razões que os homens, a moral e os bons costumes ou a mera tradição se lembravam de invocar. O jornalismo e, em particular, a reportagem em contexto de guerra era uma delas.

No meio de todo o horror causado por Hitler e os seus exércitos, surgiram algumas mulheres a cobrir eventos trágicos e, simultaneamente, a lutar pelo direito a trabalhar em igualdade de condições com os colegas homens, servindo-se de doses invulgares de bravura, determinação e criatividade para vencer restrições e combater preconceitos.

No livro agora editado pela Casa das Letras, “As Enviadas Especiais”, Judith Mackrell conta-nos as histórias heroicas e recheadas de peripécias de seis extraordinárias pioneiras que ficaram para a história: Clare Hollingworth, autora do ‘furo do século’ depois de noticiar em primeira mão o início da guerra na fronteira da Alemanha com a Polónia; Martha Gellhorn que, entre outras façanhas, cobriu a Guerra Civil Espanhola, desembarcou nas praias da Normandia junto com os soldados, enquanto os seus colegas assistiam ao início do Dia D a partir dos navios ao largo, e foi dos primeiros jornalistas a entrar num campo de extermínio nazi; Lee Miller, modelo da “Vogue”, que se tornou correspondente de guerra e fez questão de conhecer o apartamento de Hitler em Munique após a derrota germânica.

E ainda Sigrid Schultz, uma judia que escondeu as suas origens para fazer reportagens na Alemanha e denunciar ao mundo os planos do III Reich; Virginia Cowles, que trocou o jornalismo cor de rosa pelos campos de batalha da Guerra Civil de Espanha e também os da Segunda Guerra Mundial; e Helen Kirkpatrick, que esteve nos bombardeamentos de Londres, na invasão de Itália e na libertação de Paris, tendo sido a primeira repórter a conseguir os mesmos direitos que os homens numa zona de combate controlada pelos Aliados.

Na época dramática que lhes calhou relatar, havia também tempo para episódios mundanos, paixões ou encontros com celebridades. Mas havia, sobretudo, muita determinação e coragem.

Contra todas as convenções, estas mulheres arriscaram a vida para testemunhar o conflito mais devastador do século XX e abriram caminho para as muitas repórteres que hoje vemos, por exemplo, na Ucrânia (alguns dos melhores jornalistas portugueses que lá se encontram são mulheres) e cujo testemunho pode ser temível – ou, pelo menos, incómodo – para o poder, como no caso de Shireen Abu Akleh, a jornalista do canal de televisão internacional Al Jazeera, assassinada no ano passado em Jenin, na Cisjordânia.

Judith Mackrell é crítica de dança na imprensa inglesa, nomeadamente no “The Guardian”.

 

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.