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Logística enfrenta os desafios de uma nova era

Sector tem de responder aos desafios da digitalização, da descarbonização e da resiliência, para ser competitivo num mundo em mudança acelerada.
12 Junho 2021, 16h30

O sector da logística está a enfrentar alterações sem paralelo desde o final da II Guerra Mundial, motivadas, principalmente, pela alteração do quadro no qual a atividade é exercida. A pandemia de Covid-19 e o efeito disruptivo que provocou em diversos sistemas funcionou como um acelerador de tendências, acrescentando a uma crise no processo de globalização e à emergência climática e tendo como pano de fundo alterações do lado da procura, com novos padrões de consumo.

Em conjunto, estes fatores alteraram todas as perspetivas e vão condicionar o desenvolvimento da logística, que terá de “evoluir e incorporar ela própria as dimensões da digitalização, da descarbonização e da resiliência”, para responder aos desafios que se colocam, segundo o estudo “A Logística em Portugal – Inovação, Tendências e Desafios do Futuro”, desenvolvido pela consultora KPMG e pela Aplog – Associação Portuguesa de Logística. Os autores do que identificam como o mais profundo estudo feito sobre o sector, confirmam “a vitalidade” da logística portuguesa, embora apontem que os volumes de investimento reportado pelas empresas e as deficiências conhecidas no que respeita a infraestruturas de transporte, em particular ferroviário, sejam “preocupações importantes para um setor que será vital” para o crescimento da economia, especialmente quando focado nos mercados externos.

No retrato que fazem, mostram um sector que assenta muito no transporte rodoviário, com um volume de negócios que tem crescido a um ritmo de 3,7% ao ano (entre 2014 e 2018), para cerca de 14,7 mil milhões de euros, puxado pela dinâmica das exportações, que cresceram 21% (entre 2015 e 2019), tendo como destino preferencial a Europa. Entre 2014 e 2018, o valor acrescentado bruto do sector logístico português cresceu 6,7%, abaixo da média nacional.
A crise pandémica afetou a economia portuguesa de forma transversal, mas provocou “efeitos assimétricos nos diversos setores de atividade económica”, sem que se tenha uma completa perceção das consequências.

Olhando para a frente e para os desafios que se colocam, Fernando Mascarenhas, partner de Advisory da KPMG e coordenador da equipa que fez o estudo, diz ao Jornal Económico (JE) que, num contexto “que se adivinha de transformação profunda da economia real nacional, europeia e mundial, os desafios para a logística” surgem de diferentes vertentes. Primeiro, na ótica da procura, “clientes e consumidores mais bem informados continuarão a contribuir para elevar as expectativas sobre a prestação da função logística”. Terão de lidar, por exemplo, com “um grau de volatilidade e incerteza crescentes, de dar resposta “num mundo de ominicanalidade” e de “atender à ‘micro-segmentação’”. Depois, “outros fatores estruturais têm influência direta no que é e será a estratégia e a operação das funções logísticas”, nomeadamente “a mutação estrutural da envolvente geoestratégica, a transformação digital, a servitização e a economia de plataformas, a resiliência e gestão do risco, a hiper-conectividade e a cibersegurança, a relevância crescente do paradigma da economia circular”. Fernando Mascarenhas avisa que “esta transformação da envolvente externa e competitiva irá impactar na forma como as cadeias logísticas se organizam e operam, colocando em causa modelos operativos e opções de sourcing, práticas estabelecidas durante décadas, exigindo reposicionamentos, novos meios e recursos e, claro, forte investimento”.

 

Corrida pelo talento
O partner da KPMG aponta, também, como fundamental e condição de base para responder aos desafios elencados, que se satisfaça a necessidade de desenvolver e de atrair novas competências e talentos, “de cariz mais tecnológico, mais analítico, que serão a base também para a criação de vantagens competitivas”.

A questão é que o sector da logística alinha com a generalidade dos restantes sectores da economia na procura de recursos e competências para concretizar a transição digital. “Apesar de ainda não ser tão vincada a procura, por parte das empresas de logística, de perfis puramente tecnológicos, já identificamos hoje duas realidades no sector: a vertente operacional e a vertente tecnológica, sendo que, nesta última, os perfis procurados são cada vez mais especializados”, afirma ao JE Pedro Amorim, managing director da Experis.

“Os centros tecnológicos para a área da procurement são um exemplo desta realidade, com a procura de profissionais com perfil tecnológico para as áreas de desenvolvimento.

Do lado da operação, percebemos que existem skills que estão cada vez a entrar mais nas necessidades das empresas. O business intelligence, o big data, analitics, entre outros, são cada vez mais relevantes, já que vêm permitir otimizar os processos de tomada de decisão e consequentemente melhorar a produtividade e a rentabilidade das empresas”, refere, acrescentando que a resposta à procura pode, também, estar dentro de casa. “Neste processo, a liderança tem um papel fundamental, já que a sua aposta deve estar no reskilling e upskilling, permitindo aos colaboradores a aquisição constante de competências”, aponta.

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