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Mutualista paga aos não-executivos quase três vezes mais que a CGD

Alípio Dias e Luís Patrão recebem 130.000 euros por ano – 10.800 euros por mês – para serem administradores não-executivos da Mutualista. Valor é quase o triplo do que auferem os não-executivos da CGD.
12 Maio 2023, 09h10

Os administradores não executivos da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG), Alípio Dias e Luís Patrão, têm uma remuneração fixa mensal de 10.800 euros (fazendo a média aos doze meses do ano), valor que é quase três vezes superior ao que recebem os vogais não executivos da Caixa Geral de Depósitos (CGD), instituição que é cinco vezes maior que o banco da AMMG, o Montepio.

O alerta é do economista Eugénio Rosa, que foi candidato à presidência da Associação Mutualista, em 2021, e consta do seu estudo publicado a 7 de maio, onde avisa os associados da mutualista para as “previsíveis dificuldades” da AMMG devido à concorrência dos certificados de aforro e ao facto de as empresas do grupo não transferirem dividendos. No estudo dá também conta das remunerações fixas mensais dos administradores da Associação Mutualista e do Banco Montepio.

Já Alípio Dias e Luis Patrão rebatem ao afirmar que não se pode “apoucar” a relevância das suas funções na maior mutualista nacional, que têm as mesmas responsabilidades de um administrador executivo e que participam em todos os conselhos de administração, o que não acontece com os administradores não executivos da Caixa.

“Em 2022, o número de administradores da Associação Mutualista, que era cinco, foi aumentado para sete, passando a ter pela primeira vez administradores não executivos o que aumentou a despesa. Isto numa altura em que a Mutualista enfrenta dificuldades como, por exemplo, a redução da margem associativa”, avançou ao JE Eugénio Rosa. Este economista vinca que “é importante que os associados conheçam estes valores para sua reflexão comparando estas remunerações elevadas com os resultados e a situação do Montepio que analisamos neste estudo e também com as remunerações dos administradores da CGD, um banco cinco vezes maior que o Banco Montepio”.

Confrontado pelo JE, Luís Patrão, que também é administrador não executivo da ANA – Aeroportos de Portugal, reage: “a título pessoal devo dizer que aceitei ser candidato à direção na qualidade de administrador não executivo sem nunca discutir previamente a remuneração ou regalias associadas à função. Fi-lo porque sou há mais de 40 anos associado da Mutualista e aceitei com todo o meu empenho dar o meu contributo”.

O ex-deputado do PS e antigo secretário de Estado da Administração Interna acrescenta ainda que em matéria de remunerações foi nomeada uma comissão de remunerações com membros independentes que fixou as remunerações, tendo em conta os valores de mercado em instituições similares, realçando que “foi um trabalho feito com total independência”.

Luís Patrão sublinha que “não é legítimo comparar estas remunerações com a Caixa, que não reúne todas as semanas como os membros da Associação Mutualista”. E acrescenta: “é uma das mais trabalhosas funções que já tive na minha vida e de grande responsabilidade a gestão de uma entidade com mais de 600 associados perante os quais respondemos diretamente. Não se pode apoucar a relevância destas funções”. Destaca ainda que as responsabilidades enquanto administrador não executivo “são as mesmas” que a dos administradores executivos.

O antigo chefe de gabinete do primeiro-ministro António Guterres não esconde que a remuneração fixa mensal “é relevante”, mas, conclui, é “totalmente proporcional ao grau de responsabilidade que nos é atribuído” e “estamos totalmente satisfeitos com os resultados que têm sido apresentados”.

Já Alípio Dias, que liderou o Banco Totta & Açores antes da compra pelo Grupo Champalimaud e foi também administrador do BCP, afirmou ao JE que “considerando os trabalhos efetuados, a participação em todos os conselhos e comités e responsabilidades, não posso dizer que sou bem pago ou acima do que seria razoável”, sublinhando que não tem carro, nem dinheiro para gasolina ou cartões de crédito.

Segundo o relatório e contas da AMMG, em 2022, o montante de remunerações e outros benefícios a curto prazo com órgãos sociais ascendeu a 2,98 milhões de euros (dos quais 2,2 milhões com o conselho de administração), contra 2,26 milhões em 2021, ano em que Virgílio Lima foi eleito presidente da Associação Mutualista. O novo conselho de administração passou a integrar ainda como vogais executivos Idália Serrão, João Carvalho das Neves, Rui Heitor e Fernando Amaro – todos com uma remuneração fixa mensal de 29.643 euros, contra uma remuneração fixa de 23.286 euros dos vogais executivos da CGD e quase tanto como a remuneração mensal do líder do banco público, Paulo Macedo, que é de 30.214 euros.

A mutualista Montepio tem 600 mil associados, que têm neste grupo mais de 3.360 milhões de euros de poupanças, e é o topo do grupo Montepio, sendo a sua principal empresa o Banco Montepio.

No ano passado, a AMMG registou um resultado líquido positivo de 50,2 milhões de euros, contra 44,6 milhões em 2021, mais 12,7%. Segundo o relatório e contas, a margem associativa fixou-se em 85,8 milhões de euros. Eugénio Rosa destaca sobre este último indicador, no seu último estudo, que diminuiu 35%, entre 2021 e 2022, “o que é preocupante”, explicando que embora as aplicações das poupanças dos associados no Montepio tenham aumentado de 680 milhões para 845,5 milhões (mais 165,5 milhões), no entanto, os reembolsos e os levantamentos de poupanças pelos associados subiram muito mais, pois passaram de 553,6 milhões para 762,7 milhões (mais 209,1 milhões). Como consequência, diz, a diferença entre entradas e saídas de dinheiro (a margem associativa), diminuiu.

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