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“Não podemos continuar com um crescimento potencial anémico”, defende Carlos Costa

Governador do Banco de Portugal apelou à reflexão sobre os modelos de gestão utilizados pelas empresas. Defendeu ainda que o país não pode “continuar com um crescimento anémico”.
19 Novembro 2018, 13h12

O governador do Banco de Portugal (BDP), Carlos Costa, defendeu esta segunda-feira, 19 de novembro, a necessidade de refletir sobre os modelos de gestão das empresas portuguesas, com o intuito de diminuir o hiato entre o crescimento potencial e real.

Na conferência “Desenvolvimento económico português no espaço europeu”, organizada pelo Banco de Portugal, em Lisboa, Carlos Costa considerou que “as fases de crescimento são especialmente oportunas para refletirmos sobre as prioridades e os desafios para o futuro do nosso país, sem a pressão própria de emergências cíclicas ou de ajustamentos inadiáveis”.

Neste sentido, apelou a deixar cair, o que considera ser, o tabu da discussão sobre os modelos de gestão utilizados em Portugal. “Não falamos da qualidade dos gestores, falamos dos modelos e aplicabilidade à realidade portuguesa”, disse. Explicou que cerca de 30% das diferenças de produtividade entre os países são explicadas pelos modelos de gestão e pela capacidade das organizações “tirarem a seu favor os recursos que têm ao seu dispor”.

“Não podemos continuar com um crescimento potencial anémico”, defendeu, identificando um défice de rendimento ou emigração como o resultado deste cenário. “O país depende do produto potencial”, acrescentou.

Carlos Costa destacou ainda que a margem de progresso que o país tem “para explorar”, enumerando os indicadores do Global Competitiveness Index, publicado pelo World Economic Forum, no qual Portugal se situou atrás de 15 economias da União Europeia.

“Na lista de indicadores em que obtemos pior classificação, contam-se alguns relacionados com a qualidade dos modelos de gestão, nomeadamente a atitude para com o risco, onde estamos na posição 80 em 140 economias; a predisposição para delegar autoridade – onde estamos na posição 70 em 140; e a integração de ideias disruptivas, na posição 46 em 140”, exemplificou.

Defendeu “que o que separa a economia portuguesa das economias com melhor desempenho em termos de produto per capita são as diferenças de produtividade, e não o número de horas trabalhadas”.

“A solução para um crescimento sustentável do nosso PIB per capita deve, portanto, centrar-se no acionamento das ‘alavancas’ que possam exponenciar a produtividade dos nossos trabalhadores”, disse.

Cinco fatores determinantes para a produtividade

Carlos Costa enumerou, assim, cinco factores que considera determinantes para alavancar a produtividade da economia, entre as quais: as competências de trabalhadores. Ainda que destacando os avanços nesta matéria, o regulador destacou o hiato de Portugal nesta matéria, face às economias mais avançadas.

Destacou também os níveis de capital do trabalhador, “que em Portugal são particularmente baixos”, disse. “Sabemos que o aumento da intensidade capitalística depende de mais e melhor investimento, mas sabemos também que o investimento se encontra condicionado pelo elevado nível de endividamento das empresas e pela reduzida taxa de poupança das famílias. A importância da inovação e da difusão de conhecimento junto do tecido empresarial”, acrescentou. Foi neste sentido que destacou ainda a importância da inovação.

“A inovação envolve todo um ecossistema de fatores, de entre os quais sublinharia a predominância de uma cultura de mérito e de empreendedorismo, a capacidade da sociedade para aprender e superar-se com iniciativas fracassadas, a adequação dos sistemas financeiros, em particular dos mercados de capitais, às necessidades de financiamento das empresas e a difusão do conhecimento junto do tecido empresarial e a capacidade das empresas para incorporar esse conhecimento”, identificou.

A atratividade do ambiente de negócios foi também contemplada pelo governador do BdP, que considerou “crítico” que o país tenha “um quadro legal, institucional e regulatório” que promova, nomeadamente, o dinamismo no mercado de trabalho e processos eficazes de insolvência e recuperação de empresas.

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