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Portugal tenta resgatar 72 afegãos que ainda não conseguiram escapar do país

Neste momento, estão em Portugal 197 refugiados afegãos e Portugal tenta resgatar, por via diplomática, entre outras, os que de alguma forma estiveram ligados às Forças Armadas no Afeganistão. No final houve uma derrota? Antes um “falhanço”, disse João Gomes Cravinho.
  • Cristina Bernardo
28 Setembro 2021, 17h01

De um universo de 139 afegãos que de algum modo estiveram envolvidos com as Forças Armadas portuguesas que passaram pelo Afeganistão entre 2001 e maio de 2021, enquadradas nas sucessivas missões com mandatos da UNO e da NATO, “há 19 famílias e 72 pessoas para retirar”, revelou o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho em audiência, esta terça-feira na Comissão de Defesa Nacional da Assembleia da República.

Dessas, “estamos em contacto com 45 pessoas – estão geocontactadas e a procurar oportunidades para o resgate”, disse o ministro, que referiu também a primeira contabilização referenciou 116 afegãos – dos quais 56 foram resgatados e estão em Portugal – número que posteriormente evoluiu para as 139. Neste momento, estão em Portugal 197 refugiados afegãos.

O ministro disse ainda que os 72 afegãos identificados por Portugal fazem parte de um total de cerca de 1.800 pessoas que estão identificados como necessitando (e querendo) abandonar o Afeganistão depois de 31 de agosto, data do abandono do país por parte de todos os militares das forças da NATO.

“Não está em cima da mesa o resgate militar”, disse Gomes Cravinho, o que se pretende é “um diálogo com o regime talibã, para que crie condições para a saída” destes afegãos, apesar de poder haver alguns que “pelos seus próprios meios” já o terão conseguido, de formas que, “por razões de segurança”, não foram especificadas.

Ao todo, estiveram no Afeganistão 4.620 militares portugueses dos três ramos das Forças Armadas, mais quatro militares enviados para apoiar a evacuação nos dias 26 a 29 de agosto passado “em circunstâncias de grande risco pessoal” e “enquadrados no contingente espanhol”. João Gomes Cravinho recordou e lamentou, como aliás todos os partidos com assento na Comissão, a morte de dois militares portugueses no teatro de operações – João Roma Pereira e Sérgio Pedrosa.

Para o ministro da Defesa, a missão portuguesa esteve sempre sob a alçada da soberania nacional – o que fica provado, que mais não fosse, pelo facto de, unilateralmente, o país ter decidido abandonar a missão em maio passado – o que fez – não tendo esperado pela debandada final.

João Gomes Cravinho foi duro com a análise que fez dos 20 anos de presença de tropas estrangeiras no Afeganistão, mas concordou que, no final dessa presença, muitos “avanços civilizacionais foram conseguidos” mesmo que, concordou, todos eles estejam agora postos em causa, nomeadamente no que tem a ver com os direitos humanos – e especificamente das mulheres.

Sobre este aspeto, Gomes Cravinho foi bastante cáustico em relação à decisão de saída, tomada pela anterior administração norte-americana presidida por Donald Trump.

“O acordo de fevereiro de 2020 entre os Estados Unidos e os talibãs foi um acordo feito sob pressão de dinâmicas políticas internas norte-americanas” e o “processo representa uma manifestação de falta de vontade de continuar e de sair a qualquer custo – que resultou numa saída desordenada e na entrega do poder aos talibãs”, concordou. “Era evidente a seguir ao acordo, que era um mau acordo”, que no terreno só poderia resultar no desfecho que aconteceu: a debandada desordenada das forças internacionais.

“É de lamentar que não tivesse havido a devida reflecção na ONU e na NATO, as missões não podem estar reféns de conjunturas políticas internas”, reforçou ainda. Mesmo assim, João Gomes Cravinho, respondendo a várias perguntas nesse sentido da parte dos deputados presentes, acabou por concluir que “Prefiro falhanço à ideia de uma derrota – que passaria pela noção de que nada valeu a pena, quando não foi assim”.

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