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“Queremos facilitar o corredor entre euros e reais”, diz CEO da Revolut no Brasil

Glauber Mota, responsável pela operação da Revolut no mercado brasileiro, explicou ao Jornal Económico que a expansão do negócio para a América Latina pretende ser uma forma de agilizar o envio de remessas dos emigrantes e os profissionais que fazem trabalho internacional e querem receber em moeda estrangeira.
2 Maio 2023, 07h45

A aplicação da Revolut ficou esta segunda-feira oficialmente disponível para quem queira abrir uma conta a partir do Brasil. O lançamento daquele que é o primeiro mercado da fintech britânica na América Latina foi feito na Web Summit Rio, que começou ontem e decorre até quinta-feira no centro de congressos Riocentro.

O CEO da Revolut no Brasil, Glauber Mota, concedeu ao Jornal Económico a primeira entrevista em Portugal, a partir do Rio de Janeiro, para explicar o que levou o unicórnio avaliado em mais de 30 mil milhões de euros a entrar no segundo país lusófono. “A Revolut tem uma estratégia de expansão global e esta ambição de se tornar um banco verdadeiramente global, mas com serviços locais. Daí a importância de se construir uma equipa no Brasil, que conhece a regulação local e as diferenças do cliente”, diz.

A entrada no Brasil surge relacionada com Portugal. Porquê?

No contexto de Portugal, vem muito a calhar porque existem grandes relações de pessoas entre Portugal e Brasil, muitos portugueses a viver aqui no Brasil e muitos brasileiros a viver aí em Portugal. Os números são muito relevantes. Dos dados oficiais, daqueles que estão devidamente registados, há pelo menos 300 mil brasileiros a viver em Portugal. Até podem ser muitos mais se considerarmos os que não estão 100% regularizados ou, por alguma razão, estão temporariamente em Portugal.

Há pelo menos 300 mil brasileiros a viver em Portugal. Quando morei em Lisboa, as transações eram feitas por SWIFT e demoravam vários dias. Era muito difícil

Então, esta expansão no Brasil é um complemento da estratégia global de [a Revolut] tornar-se num banco de network relacionado, especialmente para a Península Ibérica. É muito relevante para nós facilitarmos esse corredor, esse cross border entre euros e reais de uma maneira mais fácil, mais barata e instantânea. Eu estive a viver em Lisboa três anos, como expatriado de um outro banco, e na minha época era muito difícil fazer essas transações. Eram feitas por SWIFT, demoravam vários dias e, muitas vezes, as taxas de câmbio eram muito diferenciadas nos bancos tradicionais e não existiam ofertas digitais. Agora as transações podem ser instantâneas entre os clientes do Brasil e os da Europa 24 horas por dia, sete dias por semana. A qualquer momento, com dois cliques, as transações podem acontecer entre os vários países.

Então, a ideia é que seja também uma mais-valia para a comunidade de imigrantes e para os nómadas digitais?

Exatamente. E uma grande diferença competitiva. Todas as soluções no Brasil que fazem ou tentam fazer este tipo de transação são contas de pagamento que não podem receber recursos de terceiros. Isso impede que os freelancers, programadores, jornalistas e muitos outros trabalhadores que fazem trabalhos internacionais não possam receber os seus recursos na moeda estrangeira. Com a conta de Revolut vão poder. É um facilitador para o cliente português que quer comunicar melhor com o Brasil e para o cliente brasileiro que quer comunicar melhor com Portugal.

Mencionou a concorrência. No Brasil, para o serviço que prestam, quais são as alternativas neste momento?

Temos os bancos tradicionais, o uso do cartão de crédito para viagens, com taxas maiores, e existem outros concorrentes de nicho especializados em remittance [remessas de emigrantes], investimentos ou pagamentos. A nossa solução é o combinado de todas num só, incluindo a oportunidade de transacionar em criptoativos da mesma forma que o cliente português já tem. Esta primeira oferta está focada no cross border, na atividade é de multimoeda.

Nesta fase inicial, quais serão as funcionalidades disponíveis na aplicação?

Uma conta multimoedas com mais de 27 moedas, a oportunidade de transacionar em criptoativos com mais de 90 tokens e todas as funcionalidades que hoje estão disponíveis em Portugal, como criação de cofres individuais ou em grupo, divisão de despesas automática para fazer acerto de contas entre viajantes e uma série de outras funcionalidades. Por exemplo, na área de criptoativos já vem também o “Aprender e ganhar”, a que na Europa chamamos de “Lean & Earn”, aqueles tutoriais educativos em que o cliente vai poder aprender, fazer um quizz e se passar será remunerado com alguns tokens para começar a participar neste mercado de uma maneira mais eficiente e educada.

A Revolut tem uma política de teletrabalho global. Neste novo mercado, fizeram investimentos num edifício?

Sim, temos um em São Paulo, onde é a nossa base principal. Já temos 50 pessoas no Brasil, das quais aproximadamente 35-40 estão em São Paulo, regiões próximas a São Paulo e Rio de Janeiro e poucos espalhados noutras localidades. O nosso objetivo aqui é continuar no modelo remote first (remoto primeiro), mas híbrido, com um local de encontro definido, na Avenida Faria Lima em São Paulo, para os nossos colaboradores se encontrarem, de acordo com a sua necessidade ou com o seu interesse. Existem grupos que vão todos os dias, outros uma vez por semana, mensalmente e, pelo menos, uma vez a cada trimestre fazemos um grande encontro com todos para realinhamentos estratégicos e integração. Portugal, que tem o tech hub em Matosinhos, tem mais de 1.200 colaboradores e tornou-se na segunda maior população de colaboradores da Revolut a seguir ao Reino Unido. No Brasil temos um grande potencial, porque já temos aproximadamente 20 pessoas que trabalham com equipas globais. Estamos a aumentar as contratações no Brasil, ao ponto que já termos definido que teremos também aqui um hub de tecnologia para desenvolver para toda América Latina. Assim como Portugal faz para toda Europa.

Já temos 50 pessoas no Brasil e prevemos recrutar 250. Estamos a aumentar as contratações no Brasil, ao ponto que já termos definido que teremos também aqui um hub de tecnologia para desenvolver para toda América Latina. Assim como Portugal faz para toda Europa.

Quantos trabalhadores poderão vir a ter?

No planeamento a longo prazo que fizemos no final do ano passado abrimos até 250 vagas. Estamos a começar pouco a pouco, com uma mistura de várias áreas, mas maior procura pelas áreas de tecnologia e desenvolvimento, assim como as específicas de regulatório local, compliance, crime financeiro, risco.

O espaço onde estão será suficiente?

O espaço, aqui no centro financeiro de São Paulo, contempla bem estas 50 pessoas que temos hoje, mas é temporário. Como a nossa taxa de crescimento é muito grande, até ao final do ano devemos rever para um espaço maior.

Que presença terão na Web Summit Rio?

Foi um ótimo momento e uma grande coincidência. Aproveitámos a Web Summit para fazer o nosso lançamento oficial e para começar a fazer o onbording das pessoas que estavam na lista de espera. Temos uma comitiva de quase 30 pessoas no evento, incluindo aproximadamente dez da Europa. Os nossos dois fundadores, Nik [Storonsky] e Vlad [Yatsenko] estiveram no palco principal no primeiro dia e eu terei outras duas participações em mesas redondas para falar das oportunidades do mercado dos neobancos, além-fronteiras e a estratégia do Brasil. Temos uma agenda muito relevante com vários parceiros. Num só lugar há oportunidade de conseguir falar com toda a gente com quem se vai interagir ao longo do ano (startups, tecnologia, investimento) e definem-se oportunidades a ser trabalhadas ao longo do ano, os próximos passos.

Por exemplo?

Temos diversas reuniões estratégicas ao longo da semana, porque este lançamento é apenas a primeira etapa. Logo depois, faremos a conta específica no Brasil, a preparação para cartão de crédito, investimentos locais, entre outras coisas.

Levámos uma comitiva de quase 30 pessoas para a Web Summit Rio

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