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“Queriam o computador porque era onde estavam as notas”

Frederico Pinheiro disse que João Galamba quis recuperar o seu computador porque era onde o assessor tinha as notas das reuniões com a TAP que podiam comprometer o ministro.
17 Maio 2023, 18h22

Frederico Pinheiro disse hoje que João Galamba quis recuperar o computador do seu ex-adjunto porque era onde este guardava as notas sobre as reuniões onde participava. Na sua opinião, o ministro tinha receio que estas notas viessem a público, em particular as que envolviam a TAP, e foi por isso que pediu a intervenção dos serviços secretos do SIS para recuperar o computador que o assessor foi buscar ao ministério das Infraestruturas na noite quente de 26 de abril.

“Nunca foi preocupação do ministro das Infraestruturas recuperar o telemóvel. Toda a coação e abuso de poder dos meios do Estado usados pelo Governo” de forma “ilegal” foram “dirigidos exclusivamente para a recuperação do computador”, disse hoje o ex-assessor no Parlamento.

E porquê? “Era no computador onde eu guardava as notas sobre todas as reuniões em que eu participava. O objetivo do Governo [ao chamar o SIS] era a intimidação e ameaça de um cidadão sem qualquer poder político”.

O assessor mostrou um telemóvel aos deputados que é o telemóvel de trabalho. Recordou que no seu email enviado a 26 de abril para os serviços informáticos do Estado informou que queria agendar a entrega do computador e do telemóvel. “Três semanas depois ainda ninguém me respondeu a este email, nem agendou a entrega. Isto não é apenas um telefone, mas um mini-computador que permite armazenar ficheiros classificados. Nunca foi preocupação do ministro das Infraestruturas recuperar o telemóvel”, porque o objetivo era recuperar o computador onde estavam as notas das reuniões.

Segundo ele, quando chegou a casa retirou apenas documentos pessoais do computador, e também notas das reuniões a que assistiu. Quanto a documentos confidenciais, apagou as cópias dos mesmos, garantindo não ter nenhum em sua posse.

“Nunca em momento algum faria algo que pudesse prejudicar a TAP e Portugal. Sempre trabalhei em prol dos interesses da TAP e do meu país”, afirmou, perante os deputados da CPI à TAP.

Frederico Pinheiro também recordou que submeteu um pedido ao Governo para poder ter acesso aos seus emails de trabalho. “O Governo nunca respondeu ao meu pedido de acesso ao arquivo de emails, a que tenho legalmente direito”.

Pelo meio da audição, acusou o ministério de ter limpado o arquivo do seu telemóvel para eliminar mensagens que pudessem comprometer o ministro João Galamba. Também disse que foi ele próprio a ser agredido por quatro membros do gabinete do ministro que tentaram retirar-lhe o computador no ministério. E acusou o SIS de o ter ameaçado por diversas vezes na noite de 26 de abril com o objetivo de tentar recuperar-lhe o computador.

O ex-adjunto de João Galamba está a ser ouvido hoje no Parlamento na CPI da TAP. Frederico Pinheiro acusou João Galamba de querer esconder as suas notas sobre o encontro da ex-CEO da TAP com os deputados do PS para preparar uma audição parlamentar em janeiro, com o objetivo de alinhar o discurso da ex-CEO com o dos deputados socialistas; o ministro das Infraestruturas já rejeitou a acusação, apontando que foi o seu antigo assessor que omitiu as notas do encontro.

Outra das polémicas foi o que se passou na noite quente de 26 de abril. Depois de demitido por João Galamba ao telefone, Frederico Pinheiro dirigiu-se ao ministério das Infraestruturas para recuperar o seu computador com o objetivo de retirar informação que pudesse ser-lhe útil para defesa futura, negando que tenha tentado retirar qualquer documento confidencial do computador (tal como a reestruturação da TAP). O ex-adjunto foi acusado de agredir membros do gabinete de João Galamba, algo que o próprio já negou. Frederico Pinheiro acabou por levar o seu computador, que foi recuperado mais tarde pelos serviços secretos, juntando mais gasolina a esta fogueira de polémicas.

Pelo meio, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu a demissão do ministro das Infraestruturas, que chegou a apresentar uma carta de demissão ao primeiro-ministro, mas António Costa segurou João Galamba, com o Presidente da República a criticar publicamente a decisão.

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